Título: Prefeitos preparam sugestões para equipe econômica
Autor: Cristiane Agostine. César Felício e Jamil Nakad Ju
Fonte: Valor Econômico, 08/01/2005, Política, p. A5

Uma articulação discreta e suprapartidária em curso está unindo os prefeitos das principais capitais do país, que pretendem apresentar à equipe econômica, possivelmente no fim do trimestre, sugestões para viabilizar a captação de empréstimos para desenvolvimento de projetos de infra-estrutura e logística urbanas. Com formação em economia, os prefeitos de Belo Horizonte, Fernando Pimentel; do Rio de Janeiro, Cesar Maia; e de São Paulo, José Serra, têm mantido diálogos constantes sobre o tema. Estudam inclusive a possibilidade de uma conversa com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, sem que o encontro possa parecer uma estratégia de pressão ao governo. A idéia é buscar alternativas viáveis, sob a ótica da responsabilidade fiscal, para alavancar a atividade econômica nos grandes centros. Pimentel, considerado uma das novas lideranças petistas, já havia anunciado, em entrevista ao Valor, logo após sua reeleição, que é fundamental abrir uma negociação com a equipe econômica que permita aos municípios emitir títulos no mercado. O petista ainda não conseguiu avançar neste debate específico com Palocci, mas aguarda otimista o anúncio do governo em relação à renovação - ou não - do acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). A avaliação do petista é que, se o acordo for renovado, haverá mesmo excepcionalidades para que parte dos investimentos em infra-estrutura não entrem no cálculo do superávit primário. "Parte deste saldo poderia ser também liberado para Estados e municípios tomarem empréstimos de infra-estrutura urbana, desde que estejam saneados, e tenham bons projetos que poderiam ser financiados pelo Bird e BID, por exemplo", diz Fernando Pimentel. Num outro cenário imaginado pelo prefeito, caso o acordo com o FMI não seja renovado, o governo brasileiro poderá dar uma espécie de aval público, em consonância com o Fundo, repetindo a mesma lógica: excluindo os investimentos em infra-estrutura do cálculo do superávit. "Reitero que sou a favor da atual política econômica, da responsabilidade fiscal, mas isso não é um fim em si mesmo", repete com insistência o mineiro. Sobre as articulações com Serra e Cesar Maia, o prefeito reserva-se de fazer qualquer comentário. Insiste apenas na importância de dialogar com todas as correntes políticas pelo bem do desenvolvimento do país. Logo após a eleição, José Serra recebeu uma visita de cortesia de Pimentel em São Paulo. Como manda a boa política mineira, tudo ocorreu muito discretamente, com excesso de cautela. Já os contatos com Cesar Maia têm sido por telefone. Os três têm afinidades políticas históricas. Todos foram perseguidos durante a ditadura militar, são praticamente da mesma geração. Maia e Serra foram exilados. Pimentel foi preso político. Além de acumularem experiências administrativas bem sucedidas, todos são economistas. Serra tem pela frente o desafio de quitar as dívidas com a União da maior capital do país. O tema afeta todos os prefeitos, mas um debate técnico qualificado, sem o tom da pressão política, pode surtir algum efeito em Brasília.