Título: Petistas acreditam em acordo
Autor: Maria Lúcia Delgado e Taciana Collet
Fonte: Valor Econômico, 08/01/2005, Política, p. A6

controle da rebelião interna no PT em torno da sucessão na Câmara poderá ser alcançado nos próximos dias. Petistas próximos ao deputado Virgílio Guimarães (MG) acreditam que ele aceitará costurar um acordo com Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), escolhido oficialmente pela bancada do PT para disputar o cargo. "A sabedoria mineira diz que na política só se pode esticar a corda até certo ponto. A hora do acordo é agora, e todos os sinais já foram dados ao Virgílio. O enfrentamento teria conseqüências imprevisíveis", analisou um integrante da legenda, ligado ao mineiro. A análise otimista de integrantes do PT foi feita um dia depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter convidado Virgílio Guimarães para uma conversa no Palácio do Planalto. O deputado esperava que o presidente lhe fizesse um pedido explícito para desistir de apresentar a candidatura avulsa (independente, sem aval partidário), o que não ocorreu. Virgílio disse a interlocutores que Lula lhe fez várias ponderações, mas não foi incisivo. O presidente não quer passar a impressão de que está interferindo no jogo sucessório de outro poder. Lula ouviu as críticas do petista ao processo de escolha da candidatura de Greenhalgh. Marcou um outro encontro com Virgílio, possivelmente terça-feira. "O Lula não pede, manda", brincou o mineiro, ao ser perguntado se ouviu algum pedido do presidente. Virgílio Guimarães passará o fim de semana em Belo Horizonte e terá uma conversa com o prefeito da capital, Fernando Pimentel. O presidente nacional do PT, José Genoino, pediu apoio a Pimentel para convencê-lo. "O Virgílio vai ser uma grande força na nossa campanha para eleger o Greenhalgh", afirmou Genoino ao Valor. A tática da cúpula petista é respeitar as manifestações do mineiro, e não critica-lo. Isso facilitaria a abertura de negociação. A avaliação de petistas é que se Virgílio fizer um gesto conciliador agora e ajudar na eleição de Greenhalgh, ele evitaria indisposições internas no PT e ainda teria respaldo para assumir uma comissão permanente da Câmara. Ontem, publicamente, Virgílio fez críticas ao partido. Insinuou que o governo atuou diretamente na escolha de Greenhalgh, e que os métodos o teriam deixado "estupefato". Explicou ainda que, quando retirou sua candidatura, já contrariado, ainda não tinha recebido todas as informações sobre como ocorreu o processo de escolha de um nome no PT. Apesar de estar inegavelmente magoado, Virgílio negou ter recebido informações de que o governo teria vetado o nome dele. "Houve interferências que não estavam previstas. As consultas da base aliada não foram levadas em conta. Mas essa é uma avaliação para ser feita no PT, e que deixo para o segundo semestre", criticou. O mineiro disse que tinha a obrigação política de levar tais impressões a Lula. "Posso até ter algum confronto na bancada, mas confronto é diferente de afronta. Não vou afrontar as pessoas do meu partido. Nem pretendo mudar de bancada. Minha vida é aqui, pelo menos até o final de 2006", argumentou. Virgílio Guimarães ainda não descartou a candidatura avulsa, mas pela primeira vez admitiu que Greenhalgh pode vencer a eleição, desde que o PT comece uma construção coletiva da candidatura, negociando uma plataforma ampla. "Essa atitude aberta é importante para que o PT possa construir uma candidatura que poderá vencer. Se o PT quer construir algo amplo, terá que fazer isso com a mão despojada e aberta", disse. Para amenizar a revolta no chamado "baixo clero" - parlamentares alijados das grandes articulações políticas -, o PT estaria disposto a ouvir as reivindicações deste setor e assumir certos compromissos. Os pleitos mais comuns do baixo clero são aumento salarial, reajuste de verbas de gabinete e mais regalias. Lula também está atuando para minimizar os principais focos de resistência a Greenhalgh, no PTB e PL. O presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson (RJ), disse ontem que, a pedido do presidente, votará a favor de Greenhalgh e conversará com a bancada. No entanto, Jefferson afirmou que houve um "erro de articulação" do PT ao escolher o nome do deputado. Na avaliação do petebista, falta "traquejo social" a Greenhalgh, e seria bem mais fácil conseguir o apoio da base se o escolhido fosse Virgílio. "Greenhalgh é um homem honrado , mas não dá bom dia, nem boa tarde. Diferente do Virgílio, que está sempre nos almoços, joga bola, por isso ele é o candidato do afeto, do coração. O outro é o candidato da lógica regimental e da disciplina partidária", comparou Jefferson. Ele afirmou ainda que Greenhalgh enfrenta resistências porque já demonstrou que "costuma concentrar prestígio e poder". "Quando ele presidia a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), avocava para si os projetos de maior brilho", exemplificou o presidente do PTB. Ele negou que haja rebeldia no partido contra o governo do PT. "O presidente Lula pediu. Sou disciplinado. O candidato é Greenhalgh, mas o PT precisa agora resolver o problema internamente. Houve um erro de articulação do PT porque presidente da Câmara não é só do PT, mas da base aliada e de toda a Câmara". Greenhalgh passou o dia ontem reunido com deputados na sua residência, em Brasília. A cúpula prepara os detalhes da reunião que ocorrerá na segunda-feira, em apoio à candidatura dele. O petista tem recebido manifestações de apreço de deputados do partido, de diferentes correntes, inclusive da esquerda.