Título: Venezuelanos vivem expectativa quanto à posse do presidente
Autor: Mander , Benedict
Fonte: Valor Econômico, 03/01/2013, Internacional, p. A6

Os bônus da Venezuela atingiram ontem um recorde com a especulação de que o presidente Hugo Chávez está para perder sua batalha contra o câncer, o que coloca a situação política do maior exportador de petróleo da América Latina de novo no centro das atenções.

O preço do bônus referencial de US$ 3 bilhões da Venezuela com vencimento em 2022 subiu para um nível recorde, levando o rendimento - que se move em sentido contrário ao do preço - a cair para um recorde de baixa, de 9,6%.

São muitos os rumores na Venezuela de que Chávez, de 58 anos, não conseguirá tomar posse de seu quarto mandato em 10 de janeiro. Ele continua em Cuba, após complicações decorrentes de sua quarta cirurgia em 18 meses, realizada em 11 de dezembro, e está em uma "situação complexa e delicada", segundo informou o vice-presidente venezuelano, Nicolás Maduro.

Se Chávez não conseguir comparecer à cerimônia de posse na semana que vem, e não deixar o cargo, o presidente da Assembleia Nacional terá que determinar se sua ausência é temporária ou permanente, de acordo com o que estipula a Constituição. Se a ausência for considerada permanente, eleições terão de ser realizadas dentro de 30 dias.

Apesar disso, autoridades dizem que a Constituição também permite ao presidente fazer o juramento perante a Suprema Corte em data não especificada e que o local do juramento é flexível.

Chávez, que derrotou o oposicionista Henrique Capriles por uma vantagem de mais de 10 pontos percentuais nas eleições de 7 de outubro, após alegar estar "totalmente livre" do câncer, foi visto pela última vez em público em sua chegada a Cuba, em 10 de dezembro.

Os venezuelanos temem uma onda de agitação social se houver uma crise constitucional. Um indicador inicial poderá surgir já no sábado, quando a Assembleia Nacional deverá eleger seu novo presidente. O atual, Diosdado Cabello, é considerado o principal rival político de Maduro, que foi indicado por Chávez como o seu sucessor.

Se ele for reeleito e Chávez morrer antes de tomar posse, então a Constituição diz que Cabello, e não Maduro, é que deve ser o chefe de Estado temporário até a realização das novas eleições.

Se Cabello não for eleito, isso poderá indicar que ele é visto como uma ameaça pelo Partido Socialista Unido, do presidente, e poderá tentar desafiar a liderança de Maduro. Depois que relatos conflitantes sobre a saúde de Chávez desencadearam uma onda de rumores em Caracas, nas últimas semanas, Maduro exortou os venezuelanos a ignorar as "mentiras" sobre a condição do líder socialista, incluindo especulações de que ele estaria em coma. "Ele apertou minha mão esquerda com uma força imensa quando conversamos", afirmou o vice-presidente em entrevista em Havana, exibida pela TV anteontem à noite.

"Pude vê-lo duas vezes, conversar com ele. Ele está totalmente consciente da complexidade de seu estado pós-operatório e nos pediu expressamente (...) para manter a nação sempre informada com a verdade, por mais dura que possa ser em certas circunstâncias", disse Maduro, a quem Chávez pediu aos venezuelanos que apoiassem como seu sucessor antes de partir para Havana no mês passado.

Maduro não disse o que acontecerá se Chávez não conseguir participar da posse, mas afirmou estar esperançoso na sua recuperação, afirmando que "ele vem enfrentando a doença com coragem e dignidade e está lá lutando".

Maduro, cujo retorno à Venezuela estava previsto para ontem, para que ele possa cuidar dos assuntos do governo, forneceu poucos detalhes sobre a saúde do presidente desde que ele voltou a ter complicações decorrentes de uma infecção respiratória, anunciada entre o Natal e o Ano-Novo.

Por causa dessa informação, o Ministério do Interior cancelou a festa para comemorar a virada do ano que o governo pretendia promover em Caracas. "Digam a verdade", afirmou Ramón Guillermo Aveledo, o secretário-executivo da MUD, a aliança da oposição. "É uma grande irresponsabilidade tentar fazer as pessoas acreditarem que o presidente está capacitado a exercer suas funções. É óbvio que ele não está."