Título: O argumento que faltava
Autor: Martins, Victor; Caprioli, Gabrel; Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 04/12/2010, Economia, p. 14

O ministro da Fazenda classifica as iniciativas do BC de adequadas, mas mantém pressão para que o Copom não suba os juros básicos sob a alegação de que o pacote já vai provocar o recuo do consumo

Para Guido Mantega, tornar os empréstimos mais caros é "oportuno" O tiro dado pelo Banco Central no crédito farto e nos juros baixos era o argumento que faltava ao ministro da Fazenda, Guido Mantega. Contrário à alta dos juros básicos (Selic), ele acredita que o baque no consumo provocado pelas medidas divulgadas ontem esfria radicalmente o ímpeto do Comitê de Política Monetária (Copom) de mexer na taxa, atualmente em 10,75%. O ministro classificou como acertadas as decisões.

Embora diga que não há descontrole no modelo de financiamento brasileiro, Guido Mantega reconhece que o país corria riscos de se afogar em meio às abundâncias. ¿As autoridades monetárias têm que olhar para as mudanças conjunturais. Passamos por um período de restrição de crédito no passado que foi totalmente superado. O setor privado já voltou com força no crédito, então nós temos que evitar que haja exageros. As medidas foram bastante adequadas¿, disse.

O resultado prático do pacote do BC é a diminuição do dinheiro disponível para o crédito. Num momento em que a demanda está superaquecida, o enxugamento das linhas e dos prazos deve provocar efeitos colaterais sobre os carnês e as promoções do varejo. Mantega admitiu que as novas regras tendem a tornar os empréstimos mais caros. ¿É claro que isso vai encarecer um pouco o crédito. Mas, no momento em que há uma expansão, é oportuno fazê-lo. Essas medidas prudenciais vêm na linha das medidas de regulação que temos feito no G-20 (grupo das 20 maiores economias do mundo)¿, completou.

O ministro negou, no entanto, que a qualidade do crediário no Brasil preocupe. ¿Você tem que dar uma moderada para que ele não passe dos limites¿, resumiu. As intervenções promovidas pelo BC complementam o processo de retirada gradual dos incentivos promovidos pelo governo como forma de atenuar os reflexos da crise internacional de 2008. A intenção da equipe econômica é, ao mesmo tempo, equilibrar os níveis de consumo e pavimentar o terreno para que o setor privado consolide a volta à concessão de crédito.

País vive momento mágico, diz Lula » A menos de um mês de deixar o governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que o país vive um ¿momento mágico¿ de prosperidade, que vai continuar sob a liderança de sua sucessora, Dilma Rousseff. Segundo Lula, os investimentos em infraestrutura e em petróleo são as maiores garantias de que a economia vai se manter forte nos próximos anos. ¿Esse momento mágico que o Brasil vive não é uma coisa passageira. Não resolvemos todos os problemas, mas demos passos extraordinários¿, disse em entrevista a correspondentes estrangeiros. Lula se mostrou menos confiante sobre a possibilidade de aprovação de reformas econômicas. ¿Muita gente gosta de falar em reforma, é um certo modismo. É chique. Mas, na prática, é difícil.¿ Ele reconheceu não ter obtido sucesso na análise dessas mudanças constitucionais no Congresso.