Título: Negociador comercial dos EUA deve deixar o cargo
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 08/01/2005, Internacional, p. A7

O principal negociador de acordos comerciais dos EUA deve deixar o cargo nas próximas semanas. Jornais americanos publicaram ontem que Robert Zoellick, representante comercial dos EUA (espécie de ministro do Comércio Exterior), será nomeado vice-secretário de Estado na gestão da nova secretária, Condolleeza Rice. A informação também foi divulgada pela agência de notícias "Reuters". A assessoria do USTR diz só que Zoellick "está à disposição da vontade do presidente Bush". O vice-representante, Peter Allgeier, deve reiniciar as negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) com o Brasil numa reunião no fim deste mês com o negociador brasileiro Adhemar Bahadian. Diplomatas brasileiros atuantes em negociações comerciais estranharam o cargo mencionado pela imprensa para Zoellick. Se confirmada, a ida para o Departamento de Estado como vice representaria um rebaixamento do atual nível ministerial, e Zoellick é visto como um dos ministros mais bem sucedidos do primeiro governo Bush. Apesar de não ter concluído a Alca, Zoellick fechou acordos bilaterais importantes com a Austrália, Chile, América Central e países do Oriente Médio e negociou o esqueleto de um acordo para reativar a rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). O porta-voz do USTR, Richard Mills, lembra que os EUA fecharam acordos bilaterais com "dois terços do PIB do continente, excluindo os EUA". É possível que Zoellick seja ainda candidato a presidir Banco Mundial. O presidente do Bird, James Wolfehnson, não conseguiu apoio para se candidatar à reeleição e deixará o cargo em junho. A eventual saída de Zoellick do USTR abriria espaço para alguns "candidatos naturais" ao cargo, como o atual vice-representante comercial, Peter Allgeier. Após uma carta de Zoellick ao ministro Celso Amorim, em novembro, ficou marcada uma reunião entre Allgeier e Bahadian para reiniciar as negociações da Alca no fim deste mês. O local da reunião ainda será definido. Também poderia assumir o cargo a representante para a Ásia, Josette Shiner. Outra alternativa seria Grant Aldonas, responsável por comércio internacional no Departamento do Comércio. Aldonas trabalhava com o secretário Donald Evans, que será substituído por Carlos Gutierrez, sabatinado na última quarta no Senado. Foi mencionado ainda pelo "Wall Street Journal" o executivo Robert Kimmitt, do grupo de mídia Time Warner. Diplomatas brasileiros não acreditam que a substituição de Zoellick mude muito a estratégia de negociação americana, que é mais definida pelo Congresso, empresariado e pelo presidente do que diretamente pelo ocupante do USTR. O protecionismo continua sendo sustentado pelo Congresso e pelo lobby de alguns setores. Se for indicado para o Departamento de Estado, Zoellick deixaria aberta a disputa pela presidência do Banco Mundial, organismo com muito menos recursos que o FMI mas prestigiado por sua influência nas políticas públicas de países emergentes. Tradicionalmente, os europeus escolhem o diretor-gerente do FMI, e os americanos, o presidente do Banco Mundial (Bird). O processo de escolha no FMI foi questionado depois da renúncia do ex-diretor gerente Horst Köhler, com apresentação de candidatos por países em desenvolvimento, mas não está claro se o mesmo acontecerá no Bird. Entre os candidatos estão o subsecretário de assuntos internacionais do Tesouro, John Taylor, e integrantes do governo americano responsáveis por políticas de saúde (especialmente estratégia global para AIDS) e meio ambiente.