Título: Exportação de manufaturados recua na AL
Autor: Pedroso , Rodrigo
Fonte: Valor Econômico, 28/12/2012, Brasil, p. A4

Os produtos industrializados do Brasil continuam perdendo espaço nos principais mercados latino-americanos. A comparação da exportação de manufaturados e do saldo comercial deste ano com o de 2008 mostra recuo em relação à Argentina, Chile e México e estabilidade nas vendas com destino ao Peru e à Colômbia.

Na soma dos cinco países, as exportações de manufaturados caíram 7% na comparação entre janeiro a novembro deste ano e igual período de 2008. Em relação ao ano passado, o desempenho é ainda pior: queda de 18%, o que significou US$ 5,5 bilhões a menos no superávit da balança brasileira deste ano.

Embora o resultado tenha sido bastante influenciado pelas vendas à Argentina, o superávit comercial caiu também em relação aos demais países. O pior resultado aconteceu nas trocas com os mexicanos: o saldo, que era positivo em 2008, se transformou em negativo em 2012. Todos os dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Maior mercado para os industrializados na região, a Argentina comprou, de janeiro a novembro deste ano, US$ 15 bilhões em manufaturados brasileiros. Apesar de considerado alto, o valor é quase US$ 1 bilhão menor que o verificado quatro anos antes, e US$ 5,3 bilhões inferior ao obtido em 2011. Se em 2008 o saldo brasileiro com os argentinos era positivo em US$ 4,3 bilhões, neste ano, até novembro, ficou em US$ 1,7 bilhão.

No comércio com o Chile, o recuo das manufaturas foi de 13% ante 2008, e de 5% em relação ao ano passado. Neste ano, até novembro, as vendas chegaram a US$ 2,7 bilhões. Por causa disso, o saldo da balança total com os chilenos encolheu e atualmente é positivo em US$ 426 milhões.

Já os mexicanos compraram menos do Brasil e, além disso, ampliaram as vendas de automóveis para o mercado brasileiro. O valor das vendas de manufaturados brasileiros no México foi reduzido de US$ 3,6 bilhões para US$ 3 bilhões, o que afetou o saldo com o país, que passou de US$ 1,1 bilhão positivo para US$ 2 bilhões negativos.

A dificuldade em permanecer no mercado dos vizinhos sul-americanos fez a Dudalina, empresa que chegou a ser a maior exportadora de camisas do país, destinar parcela ainda maior da produção para o consumo interno. Sonia Hess, presidente da empresa, disse que desistiu de apostar na América Latina. "Hoje não há muitos países para exportar. No México, há um imposto altíssimo para confecção. A Argentina, que já foi nosso maior mercado, esquece. Estamos pensando agora no mercado americano e na Europa", afirma.

No Peru e na Colômbia, o quadro é de estagnação da presença brasileira, embora esses países tenham acumulado crescimento de 24% e 41% respectivamente do Produto Interno Bruto (PIB) entre 2008 e 2011. Para o Peru, os manufaturados neste ano estão com vendas acumuladas de US$ 1,8 bilhão, patamar parecido com o de quatro anos atrás. O saldo da balança com o Brasil encolheu US$ 250 milhões, mas segue positivo: US$ 1,1 bilhão. No mercado colombiano, a venda de manufaturados rendeu US$ 2,3 bilhões aos exportadores, com o saldo em US$ 1,4 bilhão, níveis parecidos com os de 2008.

A perda de espaço da produção brasileira no continente se deve à concorrência asiática, segundo José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Enquanto os produtos asiáticos inundaram os mercados de Chile, México, Peru e Colômbia, o Brasil perdeu competitividade. Além disso, acordos bilaterais entre latino-americanos e asiáticos também prejudicaram os exportadores brasileiros.

A assinatura da Aliança do Pacífico, acordo de livre comércio entre Chile, México, Peru e Colômbia, que pretende aprofundar a aliança comercial deles com países da Ásia, mostra um continente com países abertos ao livre comércio. O Brasil "está perdendo o trem da história", segundo Castro.

"Estamos vendo o cenário externo mudar e não fazemos nada, continuamos isolados achando que o Mercosul vai resolver. Enquanto o mundo se abre e se torna mais agressivo, o Brasil se acomoda. Perdemos um espaço que vai ser difícil recuperar", afirma.

Um dos principais fatores que levaram o Brasil a perder presença na região foi a desvalorização cambial, segundo o presidente da associação dos exportadores. No primeiro trimestre de 2006, o dólar ficou em média a R$ 2,17. Até o último trimestre de 2008, quando o câmbio foi a R$ 2,34 em função da crise, o real se valorizou sem trégua. Logo depois, no segundo trimestre de 2009, a moeda começou novamente a se apreciar. O ponto mais baixo foi o segundo trimestre do ano passado, quando o dólar ficou em média em R$ 1,56.

De lá para cá, o governo desvalorizou o real, que agora flutua em uma banda entre R$ 2 e R$ 2,10. No entanto, para Castro, mesmo que o câmbio volte ao nível de seis anos atrás, o cenário produtivo nacional é diferente. "Nesse tempo o salário cresceu, os custos de transporte aumentaram e os de matéria-prima também", diz.

A consequência de um mercado latino-americano com menos apetite para a indústria brasileira foi uma queda nas exportações de produtos com valor agregado maior em relação aos básicos ou semimanufaturados no total do comércio exterior brasileiro. Celulares, confecções, refrigeradores e congeladores e aparelhos de televisão, somados, renderam 71% a menos para a balança comercial. Esses produtos, em 2008, tiveram US$ 3,1 bilhões em vendas. Neste ano, de janeiro a outubro, as exportações desses bens não passaram de US$ 819 milhões.

As vendas ao exterior de televisores praticamente pararam em 2012, com faturamento de US$ 314 mil. Quatro anos antes, o montante foi de US$ 53 milhões. Também enfrentam dificuldades as indústrias de refrigeradores e congeladores, cujas vendas passarem de US$ 286 milhões para US$ 82 milhões, e confecções - US$ 556 milhões para US$ 198 milhões.

No entanto, a queda maior em valores absolutos aconteceu com os celulares, que alcançaram US$ 2,2 bilhões em exportações em 2008. Agora, o montante soma US$ 538 milhões. Na contramão, a Weg, fabricante de motores, vai tendo ótimo desempenho nos principais mercados latinos. A estratégia para crescer 30% em média ao ano, nos últimos três anos, foi estabelecer produção nesses mercados regionais. Com 14 fábricas no Brasil, a Weg conta com três unidades na Argentina e três no México.

"A instalação nos principais mercados nos ajuda a ter mais solidez. O Chile, por exemplo, tem se mostrado um mercado espetacular para a gente", afirma Luis Gustavo Lopes Iensen, diretor da Weg.