Título: Inchaço do Entorno impõe articulação
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Fonte: Correio Braziliense, 04/12/2010, Opinião, p. 28

Visão do Correio

O censo de 2010 do IBGE confirmou percepção tanto dos moradores quanto do Governo do Distrito Federal. Trata-se do inchaço das cidades vizinhas da capital. Mas, mesmo com a expectativa, os números surpreenderam. Das 22 urbes que circundam o DF, nove tiveram crescimento demográfico superior ao da sede dos Três Poderes da República.

Enquanto a população de Brasília e das demais regiões administrativas aumentou 24,9% ¿ o dobro da média nacional, de 12,3% ¿, a das 22 cidades do cinturão goiano e mineiro saltou 27,2%. Em 2000, os habitantes da área limítrofe somavam 906.275 pessoas. Dez anos depois, atingiram a cifra de 1.152.725. Mantido o ritmo sem medidas corretivas, especialistas preveem que o Entorno sufocará Brasília e aumentará a desigualdade social.

É preocupante. Considerando a precariedade da infraestrutura dos municípios vizinhos, a bomba demográfica explodirá em território distrital. O equipamento urbano, sobretudo hospitais e escolas, sofrerá pressão superior à que vem sofrendo ao longo dos anos. O estado terminal em que se encontra a saúde no DF se deve, em parte, ao socorro prestado aos enfermos do Entorno.

A preocupação de prefeitos não se traduz na busca de recursos para construir centros de saúde, mas para comprar ambulâncias que transportarão os doentes para as unidades do Distrito Federal. Significa aumento da demanda. Com ele, o crescimento das filas e da carência de leitos, medicamentos, UTIs, profissionais administrativos e técnicos.

Não só. Sem oferta de empregos, os moradores do cinturão que envolve o DF ganham a vida na capital. Alguns vêm de ônibus, outros de carro. Contribuem, assim, para o congestionamento das vias, a escassez de estacionamentos e o avanço no número de acidentes no asfalto. Respondem também por parte das agressões ao meio ambiente ao exigir pistas, energia, água.

Desarmar a bomba constitui desafio inadiável. Impõe-se articulação entre os governos do DF, de Minas e de Goiás para que as demandas essenciais dos moradores da região sejam atendidas pela administração política dos estados a que pertencem. A implementação de medidas da espécie, porém, é complexa e demorada.

O que fazer antes disso? Uma hipótese é o aumento dos fluxos financeiros destinados ao DF pela União conforme estabelecido na Carta Magna. A outra poderia emergir de convênio com Minas e Goiás para transferência de recursos ao DF na medida dos gastos com o socorro às populações do Entorno. Salvo em prejuízo de investimentos inadiáveis e da cobertura de gastos obrigatórios, não há espaço para remanejamento de verbas do Orçamento do DF a fim de suportar encargos alheios.

Seja de que forma for, não há como ignorar. As cidades limítrofes são territórios lançados ao mais completo abandono. A responsabilidade, pois, pela solução do grave impasse social deve vir de providências dos estados onde elas se situam. Mantê-las no limbo é acender o pavio do barril de pólvora.