Título: Meta de inflação preocupa menos que crescimento
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Fonte: Valor Econômico, 28/03/2007, Especial, p. A14

Definir uma meta de inflação menor para 2009 é possível e viável. Mas se isso continuar amarrando o crescimento econômico em taxas modestas como as dos últimos anos, é preferível manter os atuais 4,5% ao ano - um número baixo para o padrão histórico brasileiro, mas que hoje representa o dobro do parâmetro internacional. Essa foi a opinião média de empresários e executivos presentes ontem à cerimônia de premiação do Executivo de Valor.

Décio da Silva, presidente da Weg, diz que a meta de inflação não é prioridade. "A inflação está estável; é preciso agora pensar no crescimento", afirmou. Para ele, uma das maiores preocupações está no câmbio: a apreciação do real frente o dólar. "Isso pode colocar em risco o crescimento e trazer um efeito de desindustrialização", destacou.

O câmbio também é a preocupação central de Rubens Ometto Silveira Mello, presidente do Grupo Cosan, com 17 usinas de açúcar e álcool. "A política do Banco Central está muito austera. Tem que melhorar o câmbio", disse. Ele considera a meta de 4,5% ao ano "ideal" para o Brasil.

"O problema não é inflação é o crescimento", concorda o presidente da Natura, Alessandro Carlucci. Para ele, a definição da meta de 2009 não é tão crucial.

A única coisa importante é manter o controle da inflação, afirmou presidente da Fiat, Cledorvino Belini. "Queremos agora o crescimento econômico e, como a inflação está sob controle, o importante é atacar a queda de juros", afirma. Para o executivo, existe hoje um apelo da sociedade pelo crescimento econômico. "A marcha pelo progresso é algo crucial e conta com o anseio da sociedade, que clama por uma melhor distribuição de renda", afirma Belini.

Marcio Utsch, da Alpargatas, acredita que a meta de inflação pode ser a que o governo entender como melhor para o país, desde que não signifique o sacrifício do crescimento para garantir seu cumprimento. Na opinião dele, a atual meta estrangula a expansão da economia. "O Brasil tem condições de crescer o dobro do que vem crescendo."

O presidente da Tecnisa, Meyer Joseph Nigri, diz que, embora uma inflação menor seja desejável, isso não deve se sobrepor a uma trajetória declinante das taxas de juro básicas do país. "Prefiro um juro real mais baixo, ainda que isso comprometa um pouco a inflação", disse. "Na atual fase da economia, estamos falando de um número de inflação (meta de 4,5%) já baixo". A Tecnisa prepara-se para construir moradias para o público de menor poder aquisitivo. "Para essa população, a taxa de juro mais baixa é ainda mais importante."

Antonio Maciel Neto, presidente da Suzano Papel e Celulose, defende que a meta tem que ficar abaixo de 4%. Esse percentual tem que ser o máximo. "O controle da inflação tem que ser rigorosamente mantido. Depois de dez anos anos, estamos vendo os primeiros financiamentos de casa própria em 20 anos para pessoa física. Os brasileiros mal conseguiram sentir ainda o verdadeiro valor da estabilidade, que é monumental", argumentou.

Para o empresário Bernardo Hees, presidente da ALL, o governo está no caminho certo em sua política econômica, e uma inflação em 4,5% não é ruim. "É irrelevante discutir se fica em 3,5% e 4%. Os atuais rumos estão favoráveis."

Wilson Ferreira Jr., presidente da CPFL, defende a redução da meta para 2009. Para ele, os fundamentos da economia estão bastante robustos. O suficiente para que o BC persiga um IPCA menor daqui a dois anos sem que isso signifique uma política monetária apertada demais. Ferreira Jr. é favorável à fixação de uma meta de 4% para 2009.

O presidente do Conselho da CVC, Guilherme Paulus, acha que há espaço para uma meta ainda mais ambiciosa, propondo que o alvo daqui a dois anos seja de 3,5%. Ele diz que uma inflação mais baixa melhora o consumo e eleva a credibilidade do país. Paulus considera que uma meta de 3,5% não implicaria grandes sacrifícios porque os índices de preços já estão rodando nesse nível há algum tempo. No ano passado, o IPCA ficou em 3,14%.

Se puder baixar, "tudo bem", mas a meta em si não é uma questão central, defendeu Brian Smith, presidente da Coca-Cola.

No longo prazo, o Brasil deve perseguir a meta internacional de inflação, uma média anual de 2,5% a 3%, afirmou Roger Agnelli, presidente da Companhia Vale do Rio Doce. Para o executivo, os 4,5% atuais são um tanto elevado, mas considerada, no curto e médio prazo, complicado alterar o atual nível alcançado pelo país. "Quanto mais rígida e disciplinada a política do governo, melhor para o país. temo de ter metas desafiadoras", acrescentou.

Também para Antonio Cássio dos Santos, da Mapfre Seguros, os atuais fundamentos da economia do Brasil permitem uma revisão da meta para 3,5% em 2009. Na opinião do presidente do Wal-Mart no Brasil, Vicente Trius, considera os atuais 4,5% acertados. "A meta de inflação do governo é acertada", afirmou. Ele considera que um número entre 4% e 5% representa um "projeto sustentável" para o país.