Título: Parcela de consumidores conscientes diminui em 2006
Autor: Bispo, Tainã
Fonte: Valor Econômico, 28/03/2007, Empresas, p. B4

Reciclar o lixo, usar o verso de folhas de papel já utilizadas, fechar a torneira enquanto escova os dentes. A preocupação com esse tipo de questão está presente, mesmo que em proporções diferentes, em toda a população brasileira. Com pequenas ações como essas, as pessoas mudam a forma de consumir no dia-a-dia e mostram-se ativas na preservação do meio ambiente.

Para mensurar o grau de consciência que as pessoas apresentam na hora da compra, seja de roupa ou de água, o Instituto Akatu Pelo Consumo Consciente realiza, há sete anos, a pesquisa "Como e por que os brasileiros praticam o consumo consciente". Dessa forma, a organização divide a população em quatro grupos de consumidores. São eles os indiferentes, iniciantes, engajados e conscientes (veja o quadro).

Segundo Helio Mattar, diretor presidente da organização, o primeiro contato com a idéia do consumo consciente passou. A pesquisa realizada em setembro e outubro de 2006 aponta para um etapa diferente. Nesse momento, explica ele, "os consumidores já estão sensibilizados com os valores do consumo consciente e, agora, tentam praticá-los".

Mesmo assim, o número de pessoas consideradas engajadas e conscientes diminuiu nos últimos três anos. Em 2006, 33% da população estava nesses dois grupos - dez pontos percentuais a menos do que apontava a pesquisa em 2003. Mas, para Mattar, este é um sinal positivo.

Segundo ele, o contexto econômico do país influencia muito as decisões do consumidor. Em 2003, o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 0,9% em relação ao ano anterior, a inflação estava alta e o índice de desemprego também. "Por causa do cenário daquele época, havia um estímulo à restrição do consumo. Além disso, o apagão (crise de energia que ocorreu em 2001), ainda estava muito presente no cotidiano das pessoas", diz Mattar.

No ano passado, o cenário foi muito diferente: queda da taxa de juros, aumento do crédito e crescimento do PIB. "Houve a redução do grupo de consciente e engajados, porém há sinais de estabilização da conduta dessas pessoas. Há três anos, as ações conscientes dos consumidores eram imediatas e não permanentes", diz.

Hoje, uma a cada três pessoas "percebe os impactos coletivos ou de longo prazo nas decisões de consumo", acrescenta ele.

Os consumidores preocupados em fazer escolhas conscientes estão em todas as classes sociais. No entanto, a presença desse grupo é mais forte na classe A - 45% das pessoas entrevistadas. "O consumo consciente não é privilégio de nenhuma classe social", afirma Mattar. Nas classe D e E, 29% apresentam algum tipo de preocupação.

A prática consciente é proporcional à visibilidade do resultado. Ou seja, a média da população que "espera alimentos esfriarem antes de guardar na geladeira" ou "evita deixar a lâmpada acesa em ambientes desocupados" atinge 75% dos entrevistados. Porém, as práticas mais intangíveis, como "planejar as compras de alimentos e roupas" ou "pedir nota fiscal quando faz compras", são feitas por cerca de 45% da população.