Título: Primeira infância deve ter preferência
Autor: Torikachvili, Silvia
Fonte: Valor Econômico, 28/03/2007, Empresas, p. B6

Várias empresas já perceberam que a baixa escolaridade tem um custo alto na produção. A Fundação Orsa saiu na frente, há dez anos, com programas com foco na educação infantil. A primeira infância é um excelente investimento. Segundo o Unicef, cada dólar investido em políticas públicas nessa fase representa uma economia de sete dólares em gastos com assistência social na idade adulta.

Mais que isso, boa saúde, educação e segurança na infância aumentam em 18% o poder de compra na fase adulta. No Brasil são 23 milhões de crianças entre 0 e 6 anos. O grande problema é convencer o gestor público de que vale a pena investir nesse segmento, ainda que os resultados só apareçam em longo prazo.

"Se você falar ao prefeito que investindo na educação infantil vai diminuir a criminalidade na cidade, a gravidez na adolescência, a dependência de programas assistenciais; que pode aumentar a renda da população e movimentar o mercado interno, ele não embarca no projeto", conta Renata Sanches, do setor de operações técnicas da Fundação Orsa. "O prefeito só se convence quando a gente mostra que ele terá a população ao lado dele; que a família ganha, que a comunidade ganha, mas que ele ganha muito mais", diz.

Conquistado o gestor, isso não significa garantia de continuidade do projeto. Quando o mandato termina, um novo gestor chega ao cargo e, se ele não concordar com o projeto em andamento, o trabalho é interrompido imediatamente, diz Renata. Aí, começa tudo de novo.

Para evitar esse retrabalho, Fernando Rossetti, secretário-geral do Gife, propõe como saída uma espécie de Refis aplicado à área social. "Seria um compromisso entre o poder público e o investidor social, para que o projeto não fosse interrompido". Tal medida poderia ser a solução para 40% das crianças entre 0 e 6 anos que ainda estão fora da escola, segundo o presidente do Grupo Orsa, Sergio Amoroso.

É fundamental a empresa ter clara a necessidade de desenhar metas, corrigir rumos e cobrar resultados do investimento social, na opinião de Margareth Goldenberg, diretora-executiva do Instituto Ayrton Senna. "O processo de avaliação deve começar antes da própria ação", diz. Para isso, o empresário precisa levar a lógica dos negócios para a lógica social; os meios, os processos, as rotinas administrativas são os mesmos. A diferença é só a finalidade. (ST)