Título: 2013: o que esperar?
Autor: Pinheiro, Armando Castelar
Fonte: Valor Econômico, 04/01/2013, Opinião, p. A11

O mercado prevê para 2013 um cenário bem comportado, de recuperação sem turbulências. Esse não é, porém, o único cenário possível para 2013.

No cenário de mercado, o Produto Interno Bruto (PIB) vai crescer 3,3%, mais que em 2011/12, mas sem reprisar o Pibão de 2010 (7,5% de alta). Esse crescimento é compatível com o potencial de expansão da economia brasileira, na faixa de 3,5% ao ano, o que em tese permitiria manter a inflação em 5,5%, dentro da média dos últimos cinco anos (5,7%) e, portanto, da zona de conforto do Banco Central (BC).

A aposta é que o mercado de trabalho vai continuar apertado, e apertando, com queda da taxa de desemprego e alta real nos rendimentos, apesar da menor elevação do salário mínimo. O aumento da massa salarial, juros ao consumidor em queda e uma expansão ainda significativa do crédito, capitaneada pelos bancos públicos, garantiriam a alta das vendas do comércio e do consumo das famílias, como nos últimos anos.

Se o crescimento econômico acelerar, deverá haver mais inflação do que supõe o mercado

Esse seria o principal sustentáculo da demanda agregada, que em 2013 seria turbinada pela recuperação do investimento, que caiu em 2012. Puxariam o investimento a recuperação da indústria, os juros mais baixos, o real mais desvalorizado, os empréstimos do BNDES a juros reais negativos e a troca da base de tributação da folha de salários para o faturamento. Também contribuiriam as novas concessões na área de infraestrutura e a aproximação da data da Copa do Mundo e das Olimpíadas, cuja realização vai exigir novos investimentos, especialmente em mobilidade urbana.

No cenário de mercado, o câmbio vai ficar onde está, entre o piso de R$ 2,00 por dólar estabelecido pela Fazenda como o mínimo para proteger a indústria e estimular o crescimento, e o teto de R$ 2,10 por dólar que o Banco Central considera compatível com a estabilidade da inflação. A aposta do mercado é igualmente de uma Selic estável em 7,25% ao longo do ano.

Sustentando esse cenário morno e inercial estaria uma economia mundial que crescerá pouco, mas sem risco de eventos extremos, como a quebra de grandes bancos ou defaults soberanos.

Considero, porém, que outros dois são igualmente plausíveis: um, em que o investimento e o PIB não se recuperam como prevê o mercado, mantendo o padrão do último biênio; outro, em que o PIB acelera, mas a inflação também. Nos dois casos, os rumos dos juros e do câmbio seriam mais incertos.

Há vários motivos pelos quais o investimento pode ficar aquém do que projeta o mercado. Um deles é o risco de que se agravem os problemas de suprimento de eletricidade. Como se sabe, o nível dos reservatórios está baixo e continua caindo. Se as chuvas de verão resolverão o problema, como em anos recentes, ou se haverá necessidade de racionamento, só quem sabe é São Pedro. Ocorre que essa é a terceira vez nos últimos anos que esse risco se coloca. A sorte pode não continuar ajudando.

Além disso, o consumo de eletricidade deve subir bem em 2013. A indústria é bem mais intensiva em eletricidade do que o resto da economia, respondendo por 43,2% do consumo total, contra 27,5% de participação no PIB. Se, como prevê o mercado, a produção industrial subir 3,5% em 2013, contra queda de 2,3% em 2012, o impacto sobre o consumo de eletricidade será significativo. Some-se a isso que a redução de 20% nas tarifas de eletricidade vai estimular o consumo em todas as classes.

Ainda no cenário doméstico, o impacto das concessões de infraestrutura sobre os investimentos é, considerando o histórico recente, no mínimo incerto. A busca de múltiplos objetivos nessas concessões, ainda que compreensível, é um complicador adicional. Também incertas são as obras associadas à Copa do Mundo, várias delas já abandonadas por falta de prazo. Incertezas a respeito dos rumos do câmbio e a política econômica em um cenário menos benigno do que projeta o mercado somam-se às anteriores.

No cenário externo, a falta de uma solução definitiva para a contração fiscal contratada nos EUA, debate que deve se estender pelo primeiro trimestre do ano, é outra fonte de incerteza importante.

Se, porém, a indústria, o investimento e o PIB se recuperarem, é difícil acreditar que a inflação fique bem comportada, caindo marginalmente em relação a 2012, ano em que o PIB cresceu menos de 1% e o mercado de trabalho estava menos apertado do que estará em 2013.

O cenário do mercado pressupõe que há entesouramento de mão de obra ("labor hoarding"), de forma que, em 2013, se poderá produzir mais com o mesmo número de trabalhadores. Supor que há grande número de trabalhadores semi-ociosos, mantidos por firmas otimistas quanto à retomada do crescimento, me parece inconsistente com seis trimestres seguidos de queda nos investimentos. Firmas otimistas não param de investir. A real explicação para o bom momento do mercado de trabalho está na composição setorial do crescimento e essa não deve mudar.

Se o crescimento econômico acelerar, não só os rendimentos como também as margens empresariais devem subir com força, pressionando mais a inflação do que supõe o mercado.