Título: Diretoria da Infraero pode perder poderes
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 09/04/2007, Política, p. A7

Enquanto esquenta a disputa pela presidência da Infraero, com a atuação de políticos nos bastidores, o conselho de administração da estatal discutirá hoje medidas para tirar poderes da futura diretoria. Uma proposta de reestruturação a ser levada hoje à reunião do conselho prevê a retirada de poder decisório dos diretores e superintendentes para celebrar contratos de obras, compras de equipamentos e prestação de serviços. O objetivo é centralizar poderes no conselho, presidido pelo ministro da Defesa, e aumentar a fiscalização sobre as finanças da estatal.

Atualmente, há grande autonomia para a assinatura de contratos pelos superintendentes de cada um dos 67 aeroportos administrados pela Infraero (tudo o que não ultrapassar o valor de R$ 6 milhões), pelos superintendentes regionais (até R$ 15 milhões) e pela diretoria-executiva (até o limite de R$ 50 milhões).

A proposta de reformulação sugere a rediscussão desses valores, limitando a autonomia dos diretores e superintendentes, além da contratação de auditorias independentes para investigar as contas da Infraero. "A empresa não tem normas claras no que diz respeito à transparência", afirma o ex-deputado Airton Soares, integrante do conselho de administração e responsável pela proposta. "Precisamos traçar mecanismos de fiscalização permanentes", completa Soares, um dos nomes cotados para assumir a presidência da estatal.

O ex-deputado tem a simpatia de ocupantes do Palácio do Planalto para assumir a direção da estatal. Entre os que o apóiam está a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Mesmo no foco de uma provável CPI do Apagão Aéreo e sob investigação do Ministério Público, do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Controladoria-Geral da União (CGU), a Infraero continua cobiçada.

O brigadeiro José Carlos Pereira, à frente da estatal desde março do ano passado, tem boas chances de seguir no cargo. Ele recebeu o apoio do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e tem excelentes relações pessoais com o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a primeira-dama Marisa Letícia. Também conta a favor de Pereira a redução de custos na contratação de obras e serviços em sua gestão.

Outro concorrente à presidência da Infraero é Marco Antônio Marques de Oliveira, atual diretor de administração, que reuniu o apoio de setores do PMDB. Ligado ao ex-presidente Itamar Franco e mais recentemente ao senador Leomar Quintanilha (PMDB-TO), Oliveira é investigado em duas sindicâncias da Infraero. Uma apura contratos que ele assinou quando foi superintendente no aeroporto do Galeão. Outra investiga supostas irregularidades em contratos com a Unimed, para assistência médica aos servidores da estatal.

Nos últimos dias, teriam crescido as chances de Oliveira, embora a liderança do PMDB na Câmara não endosse sua indicação à Infraero. Corre por fora o ex-senador Fernando Bezerra (PTB-RN), que atuou até 2006 como líder do governo no Congresso, não se reelegeu nas últimas eleições e tem na governadora do Rio Grande do Norte, Wilma Faria (PSB), seu principal apoio.

O nome de Bezerra já esteve forte, mas, segundo governistas com acesso ao Palácio do Planalto, Lula não mostra mais disposição para indicar um político à Infraero, em um momento tão conturbado nos aeroportos. Segundo aliados, o presidente ainda tem esperanças de encontrar um executivo para a empresa, com o perfil de Fernando Perrone - o primeiro presidente civil da estatal (saiu em 2002) -, de preferência com experiência no setor aéreo. Lula, porém, enfrenta dificuldades para encontrar um executivo disposto a aceitar a tarefa.