Título: Crédito do BNDES fomenta a expansão orgânica, não aquisições
Autor: Vieira, Catherine
Fonte: Valor Econômico, 09/04/2007, Empresas, p. B7

Num momento de tamanha ebulição nas operações de fusões e aquisições, o mercado de capitais parece ter chegado em boa hora como oportunidade de captação de recursos para os empreendedores brasileiros. No Banco Nacional de Desenvolvimento Social e Econômico (BNDES) é muito mais fácil obter crédito para expansão da capacidade dos negócios do que para crescer via aquisições. Só duas linhas de crédito prevêem essa hipótese e apenas duas operações relevantes de aquisição foram financiadas até agora.

Na linha Profarma, criada para fortalecer a indústria farmacêutica nacional, é possível financiar uma aquisição, mas desde que as duas companhias envolvidas sejam de capital nacional. Até hoje, só o laboratório Aché usou o recurso, contratando R$ 295 milhões, usados na aquisição do Biosintética.

Já a linha que estimula a internacionalização de empresas locais também prevê empréstimos para companhias brasileiras que queiram comprar ativos no exterior. Foi assim que o frigorífico Friboi obteve US$ 80 milhões, parte do total levantado para comprar a operação argentina da Swift Armour, em 2005.

Outras duas empresas chegaram a usar essa linha de internacionalização com essa finalidade, mas os valores foram de apenas R$ 3,7 milhões, no caso da CPM, do setor de informática; e de R$ 6 milhões na cooperativa agrícola Coop Lar.

O diretor do BNDES, Eduardo Rath Fingerl, diz que não vê nenhuma concorrência entre o mercado de capitais e as atividades do banco de fomento.

"O que existe é uma complementaridade, que é absolutamente saudável para o país", diz. Ele também afirma que não percebe nem mesmo mudanças no perfil dos financiamentos concedidos pelo banco, em função do aumento do ritmo de operações registradas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Os desembolsos do BNDES seguem ritmo de crescimento bem menos febril que o do mercado de capitais como um todo nos últimos anos, incluindo não apenas emissão de ações, mas outros instrumentos de capitalização, como debêntures e fundos de investimento em direitos creditórios.

Em 2004, o banco fez empréstimos, nas mais diversas modalidades, que totalizaram R$ 40 bilhões. Tal valor ainda superava com folga a soma de todas as captações registradas pela CVM, que foram de R$ 24,4 bilhões naquele ano. Já em 2005, quando o BNDES desembolsou R$ 46,5 bilhões, o mercado de capitais deu um salto, e as ofertas somaram R$ 61,6 bilhões (ações e também outros instrumentos de mercado de capitais).

No ano passado, a diferença se acentuou definitivamente. Enquanto os financiamentos do BNDES alcançaram total de R$ 52,3 bilhões, a CVM registrou captações totais de R$ 110 bilhões. Só em ofertas primárias de ações e recibos de depósitos de ações foram levantados R$ 16,6 bilhões em 2006. Quando se somam as ofertas secundárias de ações, a cifra do ano passado sobe para R$ 31,2 bilhões.

O diretor do BNDES lembra que o banco também tem uma área de mercado de capitais ativa, a BNDESPar. Muitas vezes, operações de crédito mal-sucedidas do banco resultaram em trocas por ações que foram incorporadas pela BNDESPar. Por meio dessa área, o próprio banco participou de operações na bolsa nos últimos anos.