Título: Cafeicultor deve segurar vendas da safra 2007/08
Autor: Scaramuzzo, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 09/04/2007, Agronegócios, p. B13

Frustrados com o desempenho dos preços do café nas bolsas internacionais, os cafeicultores do país devem tirar novamente o pé do acelerador e reduzir a comercialização do grão da nova safra, a 2007/08. E o cenário para o curto prazo só reforça a tendência baixista para a commodity, uma vez que a colheita do café arábica no país, que tradicionalmente começa em maio, será antecipada para a segunda quinzena de abril, conforme analistas ouvidos pelo Valor.

Neste ano, os preços da commodity (contratos futuros de segunda posição de entrega) registram desvalorização de 11,96% na bolsa de Nova York. Nos últimos 12 meses, no entanto, a alta é de 2,52% e, em 24 meses, um recuo de 11,82%.

Contando com um cenário apertado no mercado internacional para este ano - com a demanda maior que a produção -, os cafeicultores decidiram segurar as vendas na expectativa de que os preços atingissem maiores valorizações. Mas, ao contrário do esperado para a temporada 2007/08, as cotações não encontram suporte no mercado.

Segundo Sérgio Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes, de Santos (SP), os produtores estão vendendo aos poucos para fazer caixa e pagar contas pontuais. Ele observa, contudo, que o ritmo das exportações brasileiras não caiu, o que também ajuda a pressionar o mercado internacional.

Na prática, os embarques brasileiros de grãos neste ano deverão ser menores por conta de uma produção mais baixa, em razão do período de bianualidade da produção, afirmou Guilherme Braga, diretor-executivo do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). Os embarques devem ficar entre 11,5 milhões e 12 milhões de sacas neste primeiro semestre. Até março, as vendas externas já tinham atingido cerca de 6,6 milhões de sacas. Para o segundo semestre, os volumes podem atingir até 13 milhões de sacas, totalizando cerca de 25 milhões de sacas no ano (ante 27,3 milhões de sacas em 2006).

Rodrigo Costa, da Fimat Futures, confirma que a venda dos países produtores de café, entre os quais o Brasil, está de fato ajudando a pressionar as cotações no mercado internacional. "O mercado apostava em um período maior de alta, o que não se concretizou", afirmou Costa.

Segundo Maurício Miarelli, presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), os produtores de café aceleraram o ritmo de vendas a partir do início do ano, mas devem puxar o freio na comercialização, uma vez que o cenário no curto prazo se mostra desfavorável ao setor. "Outro fator negativo é o câmbio. Negociávamos café em dezembro com um dólar a R$ 2,21 e agora está em torno de R$ 2,05", disse. Segundo Miarelli, as cotações atuais do café no mercado interno (em torno de R$ 245 a saca) estão quase empatando com os custos de produção do grão.

Às vésperas da colheita, os produtores já se preocupam com a pressão da safra sobre as cotações internacionais. O clima seco nas principais regiões produtoras de café arábica do país adiantou o processo de maturação do fruto, o que pode antecipar a colheita. "Apesar disso, não se pode antecipar demais os trabalhos porque os frutos não têm uma maturação uniforme", disse Miarelli. A safra do tipo robusta já teve início, principalmente, nos Estados do Espírito Santo.