Título: Álcool volta a ser mais rentável do que o açúcar
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 09/04/2007, Agronegócios, p. B13

O álcool combustível voltou a ficar mais competitivo que o açúcar no mercado interno desde a semana passada, uma vez que as cotações da commodity não param de cair no mercado internacional e os preços do combustível ganham fôlego por conta do período de entressafra da cana no centro-sul do país.

Levantamento feito pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) mostra que a inversão de remuneração a favor do álcool anidro sobre o açúcar não ocorre desde dezembro de 2005. No caso do álcool hidratado, a inversão não ocorre desde novembro de 2004.

Na semana encerrada em 30 de março, o álcool anidro remunerou 7% a mais que o açúcar e o hidratado, 2% a mais. De acordo com o Cepea, as vendas de açúcar no mercado interno remuneram 1% mais que as exportações.

Em março, os preços do álcool anidro e hidratado voltaram a ter valorização significativa no Estado de São Paulo, responsável por 60% da produção nacional, por conta do pico da entressafra. Neste período, o anidro subiu 25,7% e, o hidratado, 17,8%. Na semana encerrada em 30 de março, o anidro teve alta de 10,3%, negociado a R$ 1,07444 (sem impostos). O hidratado, negociado a R$ 0,96449 (sem impostos), subiu 7,2%, no mesmo período.

Os atuais preços do açúcar no mercado internacional, um pouco abaixo dos 10 centavos de dólar por libra-peso na bolsa de Nova York, já comprometem os custos de produção das usinas brasileiras, segundo Paulo Garcia, da Vital Commodities, de São Paulo.

"Essas cotações não deixam o produto tão competitivo", disse Garcia. Embora os preços comprometam os custos, a situação do setor sucroalcooleiro era mais complicada no final dos anos 90, quando as usinas não tinham bem definido um papel para o álcool combustível. Mas na comparação com outros países produtores, como Índia, o Brasil permanece com boa vantagem.

Nos últimos anos, o setor viu a oportunidade para o álcool combustível crescer com a boa demanda pelos carros flexfuel, observou Garcia. "Hoje, mais do que nunca, o Brasil tem poder de decisão neste mercado", afirmou. Segundo ele, o Brasil não tem mais a União Européia como exportador de açúcar no mercado internacional e tem a vantagem de voltar a sua produção de cana para o álcool. "A maior volatilidade deste mercado depende agora das decisão tomadas pelo Brasil".

Garcia disse ainda que a boa fase do setor sucroalcooleiro facilitou a comercialização da commodity. "A maior disponibilidade de linha de crédito para o setor permite às usinas negociar contratos com prazos mais elásticos, de três a cinco anos, ante um ano, como era negociado no início dos anos 2000", disse.

A expansão do setor, com uma maior produção de cana para atender à demanda por álcool nos mercados interno e externo, será destaque durante a Semana do Sugar Dinner no Brasil, evento que está em sua 4ª edição e será realizado neste ano em outubro. O tradicional jantar, que reúne empresários e analistas do setor sucroalcooleiro do mundo inteiro, vai ocorrer no dia 25 de outubro em São Paulo, afirmou Cláudia Nieto Garcia, diretora e organizadora do evento. (MS)