Título: Com 55% das metas atingidas, Kassab diz que fez o melhor
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 27/12/2012, Política, p. A5

Quase sete anos se passaram desde que Gilberto Kassab sentou-se na cadeira de prefeito da maior cidade do país, em substituição a José Serra (PSDB), que deixou o cargo com o vice para se candidatar ao governo de São Paulo. O período não foi suficiente para mudar a cidade - que guardará dele poucas boas lembranças-, mas serviu para mudar a imagem de Kassab no meio político: de deputado desconhecido que vivia à sombra do PSDB para líder do quarto maior partido do país e um quase-aliado do PT.

Em março de 2006, quando assumiu a prefeitura, Kassab se projetou como o "xerife" da cidade. A fama de prefeito empenhado em cuidar da limpeza e calçamento das ruas e promover a ordem urbana, com ações de restrição ao comércio de rua e à circulação de fretados, somou-se a projetos de Serra, que iniciou as Viradas Culturais, implementou o programa Mãe Paulistana, de atendimento à gestante, e construiu unidades de Assistência Médica Ambulatorial (AMA).

Com isso, Kassab conseguiu reverter a avaliação negativa que tinha logo quando assumiu para, impulsionado pela propaganda eleitoral de 2008, alcançar altíssimos índices de aprovação. Logo após ser reeleito com 60% do votos no segundo turno, o prefeito atingiu seu melhor índice de aprovação: 61% dos paulistanos avaliavam seu governo como ótimo ou bom, segundo o Datafolha, contra apenas 13% dos que o consideravam ruim ou péssimo.

O principal projeto dessa época foi o Cidade Limpa, que se tornou referência no país ao impor limites à publicidade nas ruas e fachadas comerciais, além de acabar com outdoors e placas espalhadas pela cidade. A tentativa de diminuir a poluição da cidade gerou repercussão nacional e estimulou algumas cidades do país a fazer o mesmo.

Entretanto, a mesma eficiência que teve para proibir o prefeito não mostrou para construir. Os três hospitais prometidos na campanha para a reeleição, mesmo com mudanças de projetos e tamanho, não sairão do papel. Os 66 quilômetros de corredores de ônibus também ficaram só na licitação, lançada apenas no último ano de mandato - sobrará para o prefeito eleito Fernando Haddad (PT) executá-los.

Na Educação, Kassab prometeu zerar o déficit de creches. Foi o prefeito que mais fez novas unidades - aumentou de 60 mil para 210 mil o número de vagas desde 2005-, mas não atingiu o objetivo. Segundo dados da Pasta, a demanda crescente fez a lista de espera chegar a 170 mil crianças em setembro deste ano.

Outro objetivo não cumprido foi o fim do "turno da fome", aulas que ocorrem das 11h às 15h por falta de escolas. Houve redução drástica no número de estudantes nesse turno desde 2005, mas ainda há mais de 10 mil alunos estudando na hora do almoço. Por outro lado, pôs fim as escolas de lata, salas feitas dentro de contêineres metálicos, que tinham pouco isolamento térmico e sonoro, o que dificultava o aprendizado.

O reflexo do segundo mandato foi a Agenda 2012, plano de metas que o prefeito pretendia concluir até o fim de seu governo, daqui a quatro dias. Em balanço feito ontem, Kassab admitiu que não atingirá 100% dos objetivos previstos no plano, mas disse que o resultado foi o "melhor possível". "Avançamos até onde poderíamos avançar", afirmou o prefeito.

Segundo a Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão, foram concluídas 123 das 223 metas, ou 55% do total - o site da Agenda 2012 indica número menor, de 47%. Para Kassab, contudo, o importante foi o que chamou de "índice de eficácia", em que teria cumprido com 81% do que prometeu, se considerado o andamento dos projetos - o Mãe Paulistana, por exemplo, concluiu 97% do objetivo de realizar sete consultas por gestante.

Ao fim do segundo mandato, a principal marca do prefeito foi a abertura de ciclofaixas de lazer para passeio e as campanhas de respeito ao pedestre, marcas mais visíveis de uma gestão que teve dificuldade de imprimir uma agenda positiva na mídia para se contrapor às notícias diárias sobre a construção de um partido que nada tinha haver com a cidade.

Ao longo da campanha eleitoral de 2012, apenas José Serra, novamente candidato, defendeu o legado de Kassab. A propaganda negativa na TV contribuiu para manter ruim a imagem prefeito, que terminará seu segundo mandato com a pior avaliação desde a gestão Celso Pitta (1997-2000), reprovada por 72% dos paulistanos após vários escândalos de corrupção, segundo o Ibope.

Kassab, que foi secretário de Planejamento de Pitta - de quem procurou manter distância depois-, está melhor, mas não muito. De acordo com Ibope divulgado domingo pelo jornal "O Estado de S. Paulo", 42% dos paulistanos consideram o atual governo ruim ou péssimo, contra 27% que o avaliam como bom ou ótimo, índices que podem dificultar sua pretensão de concorrer ao governo de São Paulo em 2014.