Título: Bradesco reforça seu banco de investimento
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 09/04/2007, Finanças, p. C12

O Bradesco acaba de tirar executivos da concorrência - o que não faz parte de sua tradição - e está com a equipe do BBI (Bradesco Banco de Investimento) quase toda montada, com cerca de 500 pessoas. Agora, só faltam "alguns ajustes finais", segundo o vice-presidente responsável, José Luiz Acar Pedro. A meta do BBI, estruturado em fevereiro de 2006, é conquistar a liderança do mercado em três anos.

O Bradesco tem pressa. Já é forte em renda fixa. Mas, ainda está engatinhando no mercado de emissões de ações, que está cada vez mais "quente", com volume recorde de operações e comissões em alta para os bancos coordenadores. Em renda variável, o BBI não está no ranking dos dez mais, apesar de estar coordenando suas primeiras operações: da Helbor, empresa do setor imobiliário, e da CPM Braxis, da área de tecnologia.

"Não chegamos no final da festa", garante Bernardo Parnes, diretor geral do BBI, para quem a queda de juros básicos Selic tende a impulsionar ainda mais o mercado de ações daqui para a frente.

Ele não nega, no entanto, a intenção de crescer rapidamente. "Estamos contratando pessoas com histórico junto aos investidores, que vão trazer esses investidores para o BBI e vão nos permitir crescer com velocidade de cruzeiro", diz Parnes.

Justamente para ganhar tempo é que o Bradesco quebrou o paradigma e passou a buscar executivos no mercado, e não mais apenas dos quadros formados pelo Bradesco ou de uma instituição adquirida. Parnes, ex-presidente da Merrill Lynch no Brasil, quebrou o paradigma, em meados do ano passado. Agora, quase toda a equipe da linha de frente em venda da corretora em Nova York, a Bradesco Securities, foi tirada da concorrência. A contratação de Luiz Galvão, novo responsável pela área de renda variável institucional do BBI, foi chave no processo.

Galvão estava cuidando de uma administradora de recursos própria, a Rio Verde Investimentos, montada em 2003. Mas, já trabalhou na CLSA - BCN, uma corretora com experiência em pesquisa para o mercado institucional internacional. Galvão conhecia Acar do BCN - o vice-presidente do Bradesco fez sua carreira no banco adquirido pelo Bradesco em dezembro de 97. O nome de Galvão, no entanto, foi recomendado a Parnes por terceiros, segundo Parnes. Consultado, Galvão aceitou o desafio.

"Como o Bradesco não tinha distribuição internacional, buscamos contratar uma grande força de vendas em Nova York", diz Galvão. Os investidores externos compram cerca de 70% das emissões iniciais de ações (da sigla em inglês IPOs) de empresas brasileiras e se o Bradesco quer ter força nesse mercado é justamente a venda para os estrangeiros que tem de priorizar.

Do Santander em Nova York, o BBI tirou Robert Schifini e Joy Bejasa, com prêmios e experiência de quase 20 anos em vendas para investidores institucionais, fundos de hedge, fundos globais, fundos dedicados a mercados emergentes e América Latina. Eles já trabalharam em bancos como BBVA, Citigroup, Salomon Smith Barney e JP Morgan.

Da Itaú Securities vieram Jeffrey Noble e Alec Cunningham. O primeiro é experiente vendedor - desde 2005, participou de 15 IPOs e ofertas secundárias de ações. Também já foi chefe da área de análise do BBVA, além de ter trabalhado no Banco Cidade e Merrill Lynch. Alec Cunningham, que cobria de São Paulo contas dos Estados Unidos e Europa, ainda está no Brasil, mas prepara as malas para atuar na área de trading em Nova York.

Outro trader contratado é Robert Jimenez, que atua na área desde 91 e estava no Individual Investor Group do Morgan Stanley. Ainda falta contratar outro trader em Nova York. O presidente da Bradesco Securities é Paulo Faustino, que já era funcionário da instituição financeira.

No Brasil, o time de distribuição institucional inclui João Saldanha, que foi tirado do Unibanco, onde desde 2004 trabalhava em vendas para investidores no Brasil, Argentina e Chile. Do próprio Bradesco, foram transferidos José Henrique Arvelos, para a área de vendas, e Adilson dos Santos, para a área de trading. Juvenal das Neves, ex-BES, veio se juntar à equipe de vendas. Mais um trader será contratado para a corretora em São Paulo.

Sob o comando de Galvão ficaram ainda a corretora da BM&F e a área de pesquisa. "O investidor institucional internacional quer ter mais conhecimento sobre as empresas brasileiras e pede uma especialização maior, que nós achamos que os bancos estrangeiros não vão conseguir oferecer", diz.

Quando chegou no Bradesco, no início deste ano, ele já encontrou dez analistas, sendo que cinco deles seniores, sob o comando de Carlos Firetti. "Confesso que fiquei surpreso com a qualidade da equipe já existente", diz. E acaba de reforçá-la: já começam a trabalhar no BBI dois analistas seniores: o conhecido Auro Rosembaum, ex-Deutsche Bank, que vai cobrir os setores de petróleo, petroquímica e sucroalcooleiro, e Edigimar Maximiliano, o Max, que vai cobrir transportes, logísticas e empresas pequenas. Eles trouxeram outros analistas juniores para trabalhar com eles. Outro analista sênior já foi contratado, mas Galvão não quis revelar seu nome.

Sérgio de Oliveira, que cuidava da corretora no Brasil para o varejo e da área de gestão de recursos de terceiros, deixou o Bradesco no início do ano. O diretor da área internacional do Bradesco, José Guilherme Lembi de Faria, passa agora a ser responsável também pela área de administração de recursos de terceiros, que está na estrutura do BBI e inclui a Bram, a gestora de fundos do Bradesco, e a área de private banking, que administra o dinheiro das pessoas físicas mais ricas. "Fizemos questão de segregar a área e respeitar todas as regras do chinese wall", diz Acar. "Eu chequei com advogados e nossa estrutura pode ser enquadrada nas regras americanas", continua Parnes.

Já a corretora de varejo no Brasil, que cuida das pessoas físicas, do home broker e das salas de ações, ficou sob a responsabilidade de Aníbal Cesar Jesus dos Santos, que também já era funcionário do Bradesco. Outro transferido do próprio Bradesco foi Patrick Gontier, que é agora tesoureiro do BBI. "Estamos montando uma tesouraria voltada para produtos do banco de investimento", explica Parnes.

A idéia não é fazer captação de recursos, tarefa da tesouraria maior, do próprio Bradesco, mas sim dar liquidez às operações realizadas pelo BBI no mercado. "Um banco de investimento não tem apenas que originar e vender as operações no mercado primário, mas também tem de contribuir para criar um mercado secundário para os papéis vendidos", defende Parnes. A tesouraria do BBI vai contar com cerca de 20 profissionais, dos quais cinco já foram contratados.

Ainda sob a estrutura do BBI está a área de banco de investimento propriamente dita, sob os cuidados de Denise Moura, que já estava no Bradesco. Com ela, foram transferidos para o BBI João Carlos Zani, Fernando Buzo e Rômulo Dias. No mercado, o Bradesco foi buscar Jaime Singer, Renato Enijsman e Bruno Boetger. Cerca de 150 funcionários da área administrativa, sob o comando de Hélio Biagi, dão suporte à área de banco de investimento e de gestão de recursos.