Título: Investimento pode crescer 8% este ano, prevêem analistas
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 08/03/2007, Brasil, p. A3

O comportamento favorável do investimento, medido pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) no ano passado, quando cresceu 6,3%, e o resultado excepcional da produção de máquinas e equipamentos no primeiro mês deste ano estão levando especialistas a preverem que em 2007 o crescimento será ainda maior, podendo chegar a 8%, de acordo com a mais nova previsão do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), corroborada por outras instituições ouvidas pelo Valor. Antes, o Ipea previa alta de 7,4% no indicador.

A ressalva feita por parte dos analistas é que uma política monetária excessivamente conservadora poderia desestimular a continuidade desse ciclo favorável. O Ipea revisou sua previsão para o PIB de 2007 em apenas 0,1 ponto percentual, de 3,6% para 3,7%.

Caso cresça no nível que está sendo previsto, o investimento vai emplacar o segundo ano consecutivo com alta superior a 6%, o que não ocorria desde o período de 1993 a 1995 (6,3%, 14,3% e 7,3%, respectivamente). Será também o quarto ano consecutivo de variação positiva do indicador, fato também que não ocorria desde o período de 1993 a 1997.

"A nossa interpretação é que o quadro macroeconômico, a perspectiva da continuidade de queda da taxa de juros e o próprio Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), admitindo que o governo tenha êxito, mesmo que parcial (em ampliar o investimento público), vão ensejar uma confiança crescente que permitirá que o investimento, que teve uma expansão de 6,3% no ano passado, tenha um crescimento maior neste ano", disse Fabio Giambiagi, coordenador do Grupo de Análise Conjuntural (GAC) do Ipea no lançamento do Boletim de Conjuntura de março da instituição.

A estimativa do Ipea é que esse aumento em torno de 8% ao ano permanecerá até 2010, levando a taxa de investimento de 20,6% em 2006 para 23,8% naquele ano.

Para reforçar a posição do Ipea, definida com base nos números provisórios do PIB de 2006, a produção doméstica de bens de capital cresceu 18% em janeiro ante 2006, segundo a pesquisa do IBGE.

O economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Edgard Pereira, destaca que os números da indústria em janeiro são ainda mais favoráveis ao aumento do investimento quando se constata que a produção de bens de capital para uso industrial cresceu 27% no mês, sinalizando uma generalização pouco presente em 2006, quando houve forte concentração nos bens para energia elétrica.

Para o Ipea, o perfil do investimento em 2006 sinaliza a continuidade de uma tendência de aquisição de máquinas e equipamentos, nacionais ou importados - neste caso, favorecidos pelo câmbio. A participação de máquinas e equipamentos na formação bruta de capital fixo, que era de 26,7% em 2000, chegou a 38,8%, em detrimento do peso da construção, a outra perna da composição dos investimentos.

Dado o panorama atual, Pereira, do Iedi, considera que o aumento de 8% no investimento este ano "não é um número fora de propósito", mas pondera que a política monetária pode "jogar isso para baixo". Pela sua análise, o ciclo atual de investimento está sendo favorecido pelo comportamento do Banco Central no segundo semestre do ano passado, que reduziu a taxa de juros a um ritmo de 0,5% a cada reunião do seu Comitê de Política Monetária (Copom).

Para ele, o investimento sinaliza para o aumento da capacidade instalada da indústria e, conseqüentemente, para uma redução do risco de pressões inflacionárias no caso de aumento da demanda interna. Diante desse quadro favorável, segundo Pereira, "a decisão de janeiro do BC (reduzindo para 0,25% o ritmo de redução dos juros) foi uma nuvem muito carregada".

Outro que concorda com o Ipea é o economista Antonio Licha, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A UFRJ prevê para 2007 um crescimento de 4% para o PIB e de 8% para os investimentos. "Tudo indica que teremos um investimento forte neste ano", disse.

Mas a continuidade desse quadro, para ele, vai depender de uma melhor coordenação entre as políticas fiscal e monetária do governo. Para Licha, o governo errou ao optar por um mix que privilegia o afrouxamento da política fiscal e o aperto da política monetária, o que pode fazer com que os juros reais, com a inflação em queda, fiquem mais altos. Pior: ele entende que está havendo uma espécie de briga de vizinhos entre a Fazenda e o Banco Central.