Título: Um prefeito em apuros
Autor: Torres, Izabelle
Fonte: Correio Braziliense, 05/12/2010, Política, p. 8

NOVA LIMA

A apreensão de documentos pela Polícia Federal na sede da Prefeitura de Nova Lima, na Grande Belo Horizonte, durante a Operação João de Barro, em 2008, que apurou o desvio de dinheiro público das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), é apenas a parte mais visível dos inúmeros problemas que o prefeito Carlos Alberto Rodrigues (PT), o professor Carlinhos, vem enfrentando em seu segundo mandato. As denúncias de irregularidades na sua administração estão se avolumando e, até agora, ele já está condenado a devolver aos cofres públicos mais de R$ 3,1 milhões, apenas em três ações, por dispensa indevida de licitação e superfaturamento.

O material encaminhado aos promotores demonstra que a administração da prefeitura, que recebe mensalmente cerca de R$ 30 milhões em royalties e tem Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) elevado (0,812 %u2014 quanto mais perto de 1 melhor), é um vale-tudo. As irregularidades vão desde a ausência de licitação, passando pela falta de prestação de contas, nepotismo, suspeita de recebimento de propina até superfaturamento de obras, como a reforma de praças. Em uma delas, a da Vila São Luiz, o preço da grama aplicada em cerca de 140 metros quadrados, saiu por R$ 250, enquanto o preço de mercado não passa R$ 7,5.

Os cálculos são do vereador José Guedes (DEM), que encaminhou os documentos ao Ministério Público para comprovar o superfaturamento. Segundo ele, as praças são o calcanhar de aquiles do prefeito Carlinhos. O problema na do Senai é explicar como foi aplicado quase R$ 1 milhão em um pequeno espaço cimentado, com uma microfonte de água e um minúsculo caramanchão.

Desde o ano passado, Carlinhos conheceu o peso das condenações. Em fevereiro, por exemplo, foi condenado a devolver aos cofres públicos R$ 4,1 mil em razão da compra superfaturada de um Honda Civic para atender o prefeito, ele mesmo. O valor parece pouco, mas se soma a outros R$ 950 mil pagos a uma empresa privada para promover, em 2008, a tradicional Festa do Cavalo. Em sentença, o juiz Átila Andrade de Castro reconheceu a nulidade do contrato com a empresa Projectum Comunicações Studio de Áudio e Vídeo Ltda., escolhida sem concorrência. A decisão ainda está em grau de recurso. Além da condenação, o juiz determinou que o caso fosse encaminhado ao Ministério Público para apurar responsabilidade criminal, cível e administrativa dos envolvidos.