Título: Rio faz escola (de marketing)
Autor: Torres, Izabelle
Fonte: Correio Braziliense, 05/12/2010, Política, p. 8

EXECUTIVO Antes mesmo de assumirem os mandatos, governadores se inspiram em Sérgio Cabral e correm atrás de apoio do governo federal para fazer investidas semelhantes como a do Morro do Alemão na semana passada

As críticas de especialistas sobre a forma como a operação policial no Rio de Janeiro foi conduzida não foram suficientes para dissuadir governadores eleitos a copiar as estratégias adotadas pelo governador Sérgio Cabral (PMDB) no combate à criminalidade. Políticos de diferentes regiões do país acreditam que o peemedebista ganhou espaço e visibilidade no cenário nacional e, agora, também querem aparecer como combatentes da violência em seus estados. Para isso, ignoraram o lado negativo da ofensiva no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro e já deram início a uma peregrinação em Brasília por apoio dos órgãos do Executivo para executar operações semelhantes. Dois governadores eleitos já fizeram pedidos oficiais ao Ministério da Justiça para receber ajuda no embate contra os índices de violência assim que assumirem os mandatos.

O mais incisivo foi Simão Jatene (PSDB). Na semana passada, o tucano pediu que o Executivo ceda ao Pará uma equipe da Força Nacional de Segurança Pública para combater a criminalidade no estado. O pedido ainda está sendo estudado, mas já rende argumentos políticos. Na última quinta-feira, o senador Mário Couto (PSDB-PA), aliado do governador eleito, gastou quase 10 minutos da sessão plenária elogiando a iniciativa de Jatene e afirmando que o tratamento que os tucanos darão à segurança pública paraense será diferente do da atual gestão petista, comandada por Ana Júlia Carepa. Para ele, o pedido antecipado de envio da Força Nacional é uma demonstração do interesse do novo governador em combater à criminalidade usando a força do Estado.

O governador eleito do Amapá, Camilo Capiberibe (PSB), também quer começar o mandato aparecendo como um combatente da violência. Na pauta pós-eleição, ele tratou de incluir uma reunião com o secretário Nacional de Segurança Pública, Ricardo Brisolla. Na conversa, pediu apoio para ações destinadas à segurança pública no estado e apresentou dados sobre a criminalidade.

Também no Congresso O interesse recente em estratégias ligadas à segurança pública não se restringe apenas aos governadores. O deputado Dr. Rosinha (PT-PR) apresentou, no início do mês, um requerimento de informação ao Ministério da Justiça pedindo acesso aos dados sobre investimentos na área no seu estado. Ele quer saber quanto o governo mandou para o Paraná entre 1998 e 2010. A ideia é consolidar informações para apresentar propostas referentes ao assunto.

O espaço que a criminalidade tem tomado nas discussões pelo país aumentou o interesse dos senadores para votar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que cria o Fundo de Combate à Violência e Apoio às Vítimas da Criminalidade. Apresentada em 2007, a matéria começou, agora, a tramitar e deve ser votada, em primeiro turno, antes do fim da legislatura.

Apesar de o tema ter sido esquecido pelos parlamentares na hora de propor projetos de lei nos últimos dois anos e ainda ter sido deixado de lado na divisão do bolo de emendas, os efeitos do marketing na operação do Rio fazem com que os políticos acreditem que iniciativas semelhantes sejam um caminho viável para ganhar espaço político no cenário nacional.