Título: Tentativa de esvaziar convenção do PMDB divide governistas
Autor: Romero, Cristiano e Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 08/03/2007, Política, p. A10

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), trabalha pelo esvaziamento da convenção nacional do PMDB, que se realizará no domingo, em Brasília. O objetivo é enfraquecer a posição do presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), candidato à reeleição. "Se for reeleito, ele será presidente de uma parcela do PMDB", disse.

E completou: "Se Michel fosse interlocutor e tivesse representatividade, o Geddel teria ido ao Palácio do Planalto com ele e não com Jaques Wagner. "O deputado Geddel Vieira Lima (BA), indicado pela bancada do PMDB na Câmara para uma vaga no ministério, teve audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na segunda-feira, acompanhado do governador Jaques Wagner.

A estratégia de esvaziar a convenção enfrentava ontem dissidências no próprio grupo de Renan. O ministro das Comunicações, Hélio Costa, por exemplo, afirmou que participaria da convenção e que desconhecia a articulação para esvaziá-la. "Não foi o que ele me disse", afirmou Renan, demonstrando irritação, ao saber das declarações de Costa.

A bancada de senadores pemedebistas havia decidido não participar da convenção depois que o candidato do grupo a presidente do partido, Nelson Jobim, renunciou à candidatura, na terça-feira. Ele acusou o governo de ter interferido no processo partidário a favor de Temer. Foi a mesma interpretação de Renan, que reagiu dizendo sentir-se "totalmente liberado" em relação ao governo, sem deixar claro o significado da declaração que pode indicar, inclusive, disposição de devolver os cargos que o senador e seu grupo têm no governo Lula.

Aliados próximos a ele garantem que não se trata de rompimento. Se depender do senador José Sarney (PMDB-AP), aliado mais estratégico de Renan, o governo não precisa se preocupar com o comportamento dos senadores do partido. "Essa é uma briga de partido. Não tem nada a ver com o governo. O PMDB sempre foi assim, cheio de altos e baixos", disse.

A senadora Roseana Sarney (AP) foi confirmada por Lula líder do governo no Congresso. Ontem, ela disse que a crise não era "incontornável" e negou haver boicote à convenção. Ela disse que sua indicação para a liderança não foi contestada pela bancada, assim como a de Romero Jucá (PMDB-RR), líder no Senado.

Os 19 senadores do PMDB (de uma bancada de 20) que apoiavam Jobim aprovaram a decisão de não comparecer à convenção, num gesto político de solidariedade a ele. Decidiram, também, que nenhum dos 119 integrantes da chapa de Jobim aceitaria compor com Temer, que propunha uma chapa de unidade.

Mas ontem já havia defecções no grupo. Os senadores Joaquim Roriz (DF) e Gerson Camata (ES) e os governadores Roberto Requião (PR), Luiz Henrique (SC), Paulo Hartung (ES) e André Puccinelli (MS) autorizaram sua inclusão na chapa de Temer.

Numa reação à tentativa de boicote à convenção, o presidente do PMDB deflagrou ontem estratégia de mobilização dos convencionais. Ao todo, são 564 os convencionais do partido. A soma dos votos é de 782, porque alguns têm direito a mais de um voto, por acumular funções e cargos. Para abrir a convenção, é preciso haver apenas 188 convencionais, mas a deliberação exige a presença de metade mais um do total dos convencionais (283).

Hoje, Renan deverá reforçar a estratégia de tentar reduzir o quórum da convenção, em reunião em sua casa com as principais lideranças do seu grupo no PMDB. Alguns deles defendiam o adiamento da convenção para que se buscasse uma chapa de consenso. Essa solução nem foi cogitada pelo grupo de Temer.

O presidente do Senado sente-se o mais atingido pelo gesto de Lula porque ele havia pedido ao presidente que só decidisse a reforma ministerial depois da convenção do partido. Afirmou a Lula que qualquer gesto dele confirmando Geddel e negociando com Temer fortaleceria a candidatura do deputado paulista, prejudicando Jobim.

Ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Jobim era apontado como preferido de Lula, mas enfrentava dificuldades de obter apoios na bancada de deputados. Todas as contagens de votos davam vitória folgada a Temer. Na conversas com os senadores do partido, Renan não esconde a mágoa e o constrangimento com a situação. O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), abordou o assunto em plenário. Segundo ele, Lula não deu o tratamento adequado de aliados privilegiados a Renan e Sarney.