Título: Walfrido e Múcio ficarão no PTB para tentar manter sigla sob controle
Autor: Romero, Cristiano e Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 08/03/2007, Política, p. A10

O ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia, cotado para assumir a Pasta das Relações Institucionais e Coordenação Política, em substituição a Tarso Genro (PT), não vai mais sair do PTB, como vinha cogitando. Há meses desconfortável dentro da legenda, que tem como presidente o deputado cassado Roberto Jefferson, opositor do governo, Walfrido falava abertamente de sua intenção de trocar de partido. Em reunião com integrantes da bancada na terça-feira, mudou de idéia. O líder do governo no Senado, José Múcio Monteiro, também do PTB, decidiu também ficar no partido. O presidente Lula influenciou a decisão que, na avaliação de assessores políticos, garante maior controle sobre o PTB.

O encontro foi realizado em Brasília. Almoçaram juntos o líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO), e os deputados Ricardo Izar (SP), Arnon Bezerra (CE) e José Múcio. "Fizemos um apelo a ele que continue firme no partido. Toda a bancada de 22 deputados e seis senadores está com o ministro", disse ontem, Izar, ao Valor. "Mostramos a ele que uma coisa é a bancada no Congresso e outra é a direção do partido".

A situação de Walfrido era delicada. Desde a crise do mensalão, Roberto Jefferson colocou-se em oposição ao governo. Foi cassado e criou um blog, de onde faz críticas ao Palácio do Planalto diariamente. O ministro passou a sentir-se desconfortável na legenda. Entendeu o posicionamento da direção como um convite a deixar o PTB.

"Ele tinha realmente tomado a decisão de sair do partido. Levantou essa hipótese. Mas, ontem, sentiu-se prestigiado pela bancada e decidiu suspender essa idéia. Ficará conosco e a bancada continuará votando com o governo", disse Izar. Hoje, os 22 deputados do PTB acompanham o governo nas deliberações da Câmara. Arnaldo Faria de Sá (SP) é a única voz dissonante.

O movimento da bancada agradou ao ministro. A maioria dos deputados chegou a cogitar a hipótese de ser feita uma debandada em peso para outro partido governista, o PR. "Mas as questões estaduais são muito complicadas. Era impossível irmos todos para o mesmo partido", disse Izar.

Com a indicação de José Múcio para a liderança do governo, o Planalto garante de uma vez a fidelidade das bancadas do PTB. "É mais um sinal de que não há relação entre a direção e a bancada", garante Izar.

A permanência de Walfrido garante ao governo a permanência de uma bancada expressiva no Congresso. Desde as eleições, a cooptação de parlamentares têm sido forte por parte dos governistas. Os três maiores partidos da oposição têm sofrido baixas permanentes. O PFL elegeu 65 deputados e agora tem 60. O PSDB fez 66 parlamentares e tem 62. A bancada do PPS nas urnas era de 22 e agora estacionou em 16. Os partidos da base aliada têm crescido.

O PMDB elegeu 89 e tem 91. O PP fez 41 e agora tem 42. PSB também ganhou um parlamentar e tem 28. Mas o partido que mais inchou com as novas adesões foi PR, antigo PL, que foi também o principal partido do mensalão. O vice-presidente da República, José Alencar, é do partido. A legenda elegeu apenas 22 parlamentares e agora conta com 35.

Fundiu-se com os outrora opositores Prona e PTdoB e ainda recebeu novos parlamentares. O PR recebeu um reforço de peso ontem. O ex-governador do Ceará, Lúcio Alcântara, em conflito com o presidente do PSDB, Tasso Jereissati, abandonou o tucanato ontem e filiou-se ao PR.

Alcântara negou que tenha sido convidado a participar do governo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Alegou que deixou a legenda pela incompatibilidade com Tasso, que apoiou Cid Gomes (PSB) na disputa com Alcântara pelo governo do Ceará. "É um partido que está crescendo e se fortalecendo", disse o senador, ontem, sobre o novo partido. Acompanharam o ex-governador seu filho, deputado federal Leo Alcântara, e o deputado estadual Adail Barreto. (TVJ)