Título: Controle de câmbio prejudica as empresas brasileiras na Venezuela
Autor: Souza, Marcos de Moura e
Fonte: Valor Econômico, 08/03/2007, Internacional, p. A11

Empresas brasileiras com negócios na Venezuela estão sendo prejudicadas pelas medidas de controle de importações adotadas pelo governo do presidente Hugo Chávez e já consideram a possibilidade de rever projeções de resultados ou investir suas energias em mercados menos controlados.

A Venezuela vem restringindo a venda de dólares no câmbio oficial a empresas instaladas no país que precisam da moeda americana para importar produtos acabados ou insumos . Uma das razões é a tentativa de proteger a indústria local dos importados.

A medida já vinha causando dores de cabeça a diversas companhias venezuelanas e multinacionais e levou até a montadora americana Ford a anunciar na semana passada a redução de sua produção para 65% justamente por não conseguir importar peças e matéria-prima. GM e Toyota já passaram pelo mesmo problema.

Agora, são as companhias brasileiras que se queixam. "Esse controle do Estado no processo interfere nos nossos negócios e se reflete em atrasos, diminuição de produtividade e de resultados e aumento dos custos", disse ao Valor um executivo de uma grande empresa brasileira que opera na Venezuela. Ele falou sob condição de que nem o seu nome nem o da empresa fossem publicados, alegando que isso criaria dificuldades com autoridades de Caracas.

"Nós temos fornecedores que precisam importar. E nós mesmos fazemos importações, mas não conseguimos fechar o câmbio." Exemplo recente é o da aquisição de um lote de matéria-prima da Europa. "Estamos em atraso há 90 dias. Os europeus nos mandam o produto, mas em algum momento não vão querer mais esperar tanto para receber."

Para algumas empresas que exportam para os venezuelanos, os problemas são outros. Marco Fattore, presidente da Interunion, empresa fabricante de máquinas para usinas de açúcar e álcool com sede em Ribeirão Preto (SP), diz que o prazo para receber dos clientes tem sido de 60 dias. "Isso significa que acabamos dando crédito aos clientes. Nas operações para qualquer outro país, o pagamento é imediato", diz Fattore, que há 15 anos exporta para a Venezuela. Ele diz que, nos últimos anos, a demora em receber tem se tornado a regra geral.

"Evidentemente prefiro mercados com mais liquidez. E começamos a nos concentrar mais em buscar novos clientes em países com mais liberdade, embora a Venezuela seja um país importante para nós, onde nunca tivemos problemas de inadimplência."

Para outra brasileira, a Vicunha, a dificuldade é a demora para a liberação das operações. Isso leva a empresa a produzir índigo e brim e ter de estocar os pedidos até obter um OK de Caracas. "Chegamos a manter 1 milhão de metros de tecido, ou 25 contêineres, aguardando as liberações. Isso tem um custo. No mês passado, de uma carteira de 500 mil metros, conseguimos embarcar apenas 250 mil", disse Maurício Imaizumi.

Ele diz que seus importadores criticam a burocracia e suposta falta de critério da Cadivi (Comissão de Administração de Divisas, órgão ligado ao Ministério das Finanças e responsável pela liberação dos dólares aos importadores). Mas a Vicunha continua apostando no mercado venezuelano.

Brasil e Venezuela multiplicaram por quatro vezes valor de comércio entre 2003 e 2006, com o fluxo comercial saltando de US$ 880 milhões para US$ 4,1 bilhões.

Por outro lado, em um dos setores com maior expansão no vizinho, o da construção, as empresas brasileiras não estão sofrendo. Segundo o presidente do Sindicato Nacional das Indústrias da Construção Pesada (Sinicon), Luiz Fernando Santos Reis, as construtoras não encontram dificuldades com importações de máquinas e insumos. Odebrecht e Camargo Corrêa são as de maior atuação no país.

Para o diretor da Câmara de Comércio Brasil-Venezuela, Francisco Marcondes, as dificuldades de algumas empresas são pontuais e fadados a acabar. "A aproximação com o Mercosul vai mais do que compensar essas questões pontuais. Nosso comércio deve chegar a US$ 8 bilhões em 2010".(Colaborou Yan Boechat)