Título: Coeso, Copom dá mostras de força
Autor: Ribeiro, Alex e Guimarães, Luiz Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 08/03/2007, Finanças, p. C1

Na primeira decisão sem o ex-diretor de Política Econômica do Banco Central Afonso Bevilaqua, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve o ritmo conservador de distensão monetária, com um corte de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros, que cai hoje a 12,75% ao ano. A decisão foi unânime, com sete votos, o que significa que a ausência de Bevilaqua não fez diferença no placar.

Em janeiro, o Copom havia se dividido, com cinco votos a favor de um corte de 0,25 ponto e três por um corte de 0,5 ponto. Foi divulgada uma breve nota após a reunião: "Dando prosseguimento ao processo de flexibilização da política monetária, iniciado na reunião de setembro de 2005, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 12,75% ao ano, sem viés". A nota trata o corte como um processo de distensão, o que indica que virão novas reduções na taxa básica pela frente.

Na última reunião, os cinco diretores que votaram por um corte de apenas 0,25 ponto pregavam maior cautela diante dos sinais de aquecimento da economia e das incertezas sobre como o corte acumulado na taxa Selic desde setembro de 2005 - que ontem chegou a 7 pontos - iria afetar a inflação. Os demais membros diziam, até então, que o quadro inflacionário benigno autorizava o adiamento da desaceleração no ritmo de corte na taxa básica de juros. O que fez três membros trocarem de lado ficará claro apenas na semana que vem, com a divulgação da ata da reunião de ontem.

Nos últimos dias, os mercados financeiros internacionais ficaram mais voláteis, em virtude de incertezas sobre as economias chinesa e americana. O presidente do BC, Henrique Meirelles, chegou a alertar em depoimento no Congresso na semana passada que a volatilidade poderia ser um aviso para que a política monetária seja conduzida de forma parcimoniosa.

Foi o 14º corte seguido na taxa de juros, neste que já era o mais longo processo de afrouxamento da política monetária. O próximo encontro do Copom ocorre nos dias 17 e 18 de abril.

Apesar do consenso maciço do mercado em torno da manutenção da velocidade de corte de 0,25 ponto, o diretor da Modal Asset, Alexandre Póvoa, via "fatores subjetivos" cercando a reunião e deixando tensos os mercados. Em primeiro lugar, a falta de definição do governo Lula quanto à confirmação da diretoria para o segundo mandato deixou o BC como alvo de muitas especulações nos últimos 45 dias. "Adicionalmente, indicações recentes de economistas não muito ortodoxos para outros cargos fora do BC foram fontes de preocupação", diz Póvoa, se referindo sobretudo à ida de Paulo Nogueira Batista Júnior para a diretoria-executiva do FMI. Não menos importante, os investidores ainda têm, segundo Póvoa, dúvidas se a saída de Afonso Bevilaqua, apesar de amplamente esperada, "representa um ponto fora da curva ou o início de uma mudança mais profunda nos quadros da autoridade monetária".

Dadas essas incertezas, a obtenção da unanimidade na reunião de ontem será bem vista pelos mercados. "Apesar de não acreditar em qualquer tipo de guinada na condução da economia brasileira, uma decisão não-unânime no Copom geraria especulações desnecessárias", acredita Póvoa. Muito mais importante do que o corte em si é a confirmação da continuidade da autonomia do BC. Ao assegurarem ontem o consenso, os sete membros do Comitê fizeram questão de mostrar a sua independência.

"Uma não-unanimidade geraria conclusões do seguinte tipo: se mais um diretor for substituído, a conduta do BC, tanto no Copom como nas suas ações do dia-a-dia, poderia mudar completamente. As especulações certamente trariam ruídos para todos os mercados", diz Póvoa.

Para o consultor Miguel Daoud, da Global Financial Advisor, o consenso absoluto dos analistas em torno do 0,25 ponto decorre do eficiente trabalho do BC de "gerenciamento das expectativas". Ele até teria justificativas para aumentar a velocidade de queda - PIB fraco, indústria em expansão moderada e crescimento da taxa de investimento -, mas, pelo menos ontem, não poderia contrariar a seu direcionamento sob pena de decepcionar as instituições e provocar especulações sobre reviravoltas na política monetária. E o BC, na visão de Daoud, tem muita dificuldade de ampliar os cortes da Selic porque não pode dizer ao mercado o motivo real do comedimento: o excesso de gastos públicos.

Após o Copom, o Banco do Brasil anunciou a redução das taxas de juros para cheque especial e cartões de crédito. A justificativa foi a diminuição dos custos possibilitada pela nova queda da Selic e o repasse desse benefício para o preço dessas linhas de crédito.