Título: Deutsche Bank sai às compras de banco ou corretora no Brasil
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 08/03/2007, Finanças, p. C12

O Deutsche Bank saiu às compras no Brasil. O maior banco da Alemanha já está avaliando alternativas para a aquisição de banco de investimento ou corretora no Brasil, segundo Yassine Bouhara, chefe global para renda variável. Em visita ao Brasil, ele disse ao Valor que "se nós acharmos um negócio fantástico, que é compatível com o DNA do Deutsche, nós iremos atrás disso".

Enquanto o banco não decide o que fazer para crescer rapidamente no país, segundo ele, a idéia é continuar ampliando pessoal, além de repor funcionários que vão saindo em meio à guerra de talentos pela qual passa o mercado brasileiro. "Nós estamos transferindo pessoas de Nova York para o Brasil neste exato momento", conta o executivo.

Se mantiver apenas o crescimento orgânico, o Deutsche pretende duplicar o número de funcionários que o banco hoje possui. No Brasil, o banco emprega 191 funcionários e 40 terceiros (entre estagiários e terceirizados). "Se não encontrarmos alguma instituição da qualidade que esperamos, algum banco ou corretora que nós acharmos que não vamos conseguir alavancar da forma que desejamos, poderemos então crescer apenas organicamente", afirma ele.

Na sua guinada histórica para se tornar um banco de investimento global, o Deutsche resolveu inicialmente crescer nos mercados emergentes mais "perto de casa", disse Bouhara: Europa Central, Oriente Médio e África. "Somos o maior 'dealer' na Rússia, um dos maiores senão o maior na Europa Central e definitivamente o maior no Oriente Médio e África do Sul", afirma.

"Agora que atingimos o primeiro objetivo, temos um foco renovado na América Latina", diz. Bouhara conta que, nos dois últimos anos, o Deutsche só fez "esforços esporádicos" na região latino-americana. No final de 2005, o banco comprou a participação de 60% que o IXE Grupo Financiero, do México, tinha na Deutsche IXE, associação criada em 2003 para cuidar do mercado acionário da América Latina, inclusive Brasil. Veio ampliando capital no Brasil - têm patrimônio de cerca de R$ 600 milhões, segundo o site do Banco Central - e contratando. Agora, a idéia é ampliar mais a presença na região, com crescimento rápido e forte no mercado local dos países prioritários.

O Deutsche está "confortável" com três formas de crescimento já adotadas nos outros países emergentes, conta. A maior parte do desenvolvimento do banco no Oriente Médio foi 100% orgânico, assim como na Índia. Na Rússia, o Deutsche adquiriu o UFG, um grande banco de investimento. Inicialmente, comprou uma participação na instituição financeira, que depois foi ampliada para 100%. Já na Turquia o crescimento se deu ainda de outra forma: o Deutsche adquiriu uma corretora de tamanho médio, chamada Bender Securities, que foi usada para alavancar os negócios bolsa de Estambul.

"Na América Latina, o país número 1 é obviamente o Brasil", afirma Bouhara. A idéia, desta vez, não é oferecer apenas estruturas brasileiras para estrangeiros e realizar um pouco de análise e negócios no mercado secundário, como o banco chegou a se posicionar nos anos 90. "Nós queremos investir pesado no mercado doméstico e oferecer estruturas complexas, de maior valor agregado, para clientes brasileiros", afirma.

Ele cita um exemplo de inovação que o banco pretende trazer ao país: um bônus conversível em "private equity", ou seja, em uma participação privada no capital de uma empresa ainda fechada. "Eu posso oferecer aos investidores a possibilidade de emprestar dinheiro à empresa e depois converter a dívida em participação antes que a empresa abra o capital e faça uma emissão inicial de ações", explica. Os principais investidores para o produto, segundo ele, seriam fundos de hedge, menos avessos ao risco, e outros institucionais. "É uma forma de o investidor atuar no mercado de private equity sem ter exposição real ao private equity", afirma. Para as empresas, é uma forma inovadora de levantar recursos, muitas vezes a única disponível.

De acordo com Bouhara, os mercados emergentes são abertos à adoção de instrumentos mais complexos, às vezes até mais do que nos países desenvolvidos. "O Deutsche não está aqui no Brasil para entrar na guerra de preço das corretoras, embora pretenda trazer a tecnologia para conseguir negociar ao menor preço possível", frisou. Segundo ele, o foco principal do banco será prover serviços de "primeira linha" de análise de empresas, além de produtos complexos de maior valor agregado. "Nós somos os maiores 'dealers' de derivativos no mundo, por isso podemos oferecer como ninguém instrumentos complexos", diz.

Ele não nega que a concorrência tem crescido no mercado brasileiro. "Estamos acostumados a atuar em mercados quentes e disputados", diz. Bouhara considera que, quando mais bancos estrangeiros e brasileiras há no mercado, maior o "pool" de talentos, mais liquidez e mais recursos disponíveis para as empresas dos próprios balanços dos bancos. "Tudo isso beneficia os clientes e nos ajuda, pois amplia o mercado como um todo", afirma.

A "globalização reversa", no seu entender, abre uma outra grande oportunidade nos mercados emergentes para o Deutsche neste momento. "De forma crescente, empresas nos mercados emergentes compram outras do Primeiro Mundo", lembrou. Por isso, "os centros de decisão têm se movido de Londres e Nova York". Mas, diferentemente do que acontece nos EUA, Japão ou Europa, "esses novos centros são um território aberto: não há relações seculares entre empresas e bancos". Por isso, no entender de Bouhara, "quem trouxer mais tecnologia e inovação vai ganhar os clientes".

Nem mesmo a concorrência dos dois bancos líderes no mercado de assessoria às empresas na emissão de ações no Brasil, o Credit Suisse e o UBS Pactual, preocupa, segundo ele. Para manter sua posição, o Credit Suisse comprou em 2006 50% da Hedging-Griffo por US$ 294 milhões e o UBS comprou o Pactual por até US$ 2,5 bilhão. Os bancos suíços, segundo Bouhara, têm muitos clientes da área de gestão de fortunas (private banking). "Os clientes do Deutsche Bank são outros: somos provavelmente a maior franquia para ações fora dos EUA, pois, além dos emergentes, estamos presentes em toda a Europa: somos a maior rede de varejo na Alemanha, com presença forte na Suíça e França e a maior presença de varejo de um banco estrangeiro na Itália e Espanha", diz.