Título: Reservatórios iniciam 2013 em queda nos principais sistemas
Autor: Bitencourt, Rafael; Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 08/01/2013, Brasil, p. A5

Os reservatórios hidrelétricos iniciaram o ano da mesma forma que terminaram 2012: em queda. Na primeira semana de janeiro, o nível dos lagos das usinas dos subsistemas Sudeste/Centro-Oeste e Nordeste, os dois principais do país, acumulam baixa de 0,3% e 1,2%, respectivamente. É a primeira vez desde 2008 que os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste, que concentram cerca de 70% da capacidade de armazenamento do Brasil, fecham a primeira semana do ano em queda.

No início de 2008, quando o cenário de oferta no país também era crítico e o preço da energia de curto prazo havia ultrapassado os R$ 600 por MWh, os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste acumularam queda de 1,4% na primeira semana de janeiro. Ainda assim, o nível de armazenamento de água das hidrelétricas da região era de 44,8%. O volume era 5% acima da curva de aversão ao risco, indicador que garante o atendimento pleno da demanda.

O cenário em 2013 é mais preocupante. Os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste estão com o pior nível para janeiro desde o início da série histórica do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), em 2001, totalizando 28,5%. O indicador está apenas 1,9% acima da curva de aversão ao risco. As hidrelétricas do Nordeste acumulam 31% de água nos reservatórios, volume que se encontra a apenas 1,6% acima da curva de risco para a região.

Diante do cenário crítico, o governo mantém acionadas todas as termelétricas, num total de produção de 13.700 MW médios. O montante equivale a aproximadamente 25% do consumo de energia do país atualmente.

Na sexta-feira, o governo autorizou a distribuidora Sulgás a importar gás natural da Argentina para atender a termelétrica AES Uruguaiana, na fronteira do Brasil com o país vizinho. Será importado um volume máximo de 2,8 milhões de m3 /dia para abastecer a usina, que vai operar em caráter emergencial.

A Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace) defendeu ontem que o país volte a construir hidrelétricas com reservatórios de acumulação. Nos últimos anos, o país optou por construir usinas sem esses reservatórios (a fio d"água) para reduzir o impacto ambiental. "É preocupante o fato de não haver uma expansão da capacidade de reserva do sistema elétrico brasileiro proporcional ao seu crescimento", afirmou o presidente da Abrace, Paulo Pedrosa, em nota.

Amanhã, representantes do governo da área energética discutirão com a presidente Dilma Rousseff a situação da oferta de energia do país em reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE). O governo ainda não trabalha oficialmente com a hipótese de racionamento. Para os técnicos do governo, as termelétricas são suficientes para garantir o atendimento do sistema, enquanto as chuvas não chegam.

De acordo com um especialista do setor elétrico ouvido pelo Valor, é preciso chover 70% da média histórica entre janeiro e abril para que a situação se normalize. A maior preocupação, segundo ele, são os problemas paralelos, como uma eventual falta de gás natural para o atendimento contínuo das termelétricas, o que poderia comprometer o atendimento do sistema elétrico em 2014.

Para Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor de Energia Elétrica (Gesel), da UFRJ, um eventual racionamento de energia neste ano deverá ser diferente daquele realizado em 2001. "O governo pode usar as térmicas durante o ano todo e fazer cortes seletivos de carga para alguns setores, oferecendo algum tipo de recompensa. Dificilmente vai ser um racionamento global", afirmou. Ele, no entanto, lembrou que, em 2008, o nível dos reservatórios hidrelétricos também era crítico, e as chuvas que ocorreram em meados de janeiro daquele ano aliviaram a situação.