Título: Indicado por Obama para a Defesa advoga corte de gasto militar
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Fonte: Valor Econômico, 08/01/2013, Internacional, p. A8

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou oficialmente ontem os nomes dos dois principais assessores para comandar a área da Defesa em seu segundo mandato. Para substituir Leon Panetta à frente do Pentágono, ele indicou o ex-senador republicano Chuck Hagel. E para chefiar a CIA, a agência de inteligência, escolheu John Brennan, atual diretor de contraterrorismo.

Para analistas, Obama vê em Hagel, de 66 anos, um secretário da Defesa com estatura suficiente para confrontar os comandantes das Forças Armadas numa hora em que o país precisa cortar gastos. Ex-militar condecorado por sua atuação na Guerra do Vietnã, Hagel destoa por advogar uma redução expressiva no orçamento da Defesa, atualmente em mais de US$ 600 bilhões anuais.

Outro ponto que pesou na indicação é o fato de Hagel ser republicano, o que seria uma demostração de que o governo está adotando na prática o espírito suprapartidário que vem cobrando da oposição para a busca de uma saída para a crise econômica vivida pelo país.

Porém, não é raro os democratas escolherem republicanos para ocuparem postos-chave de segurança. Bill Clinton indicou o senador William Cohen para o posto durante o seu segundo mandato (1997-2001). O próprio Obama, durante boa parte do seu primeiro mandato, manteve no cargo Robert Gates, que vinha do governo George W. Bush (2001-2009).

A confirmação de Hagel, cujo nome vinha sendo mencionado há algumas semanas, também sugere que Obama não queria transmitir uma imagem de fraqueza dando a impressão de se curvar à oposição e ser forçado a escolher alguém que não fosse a sua primeira opção. No mês passado, o presidente já sofrera um revés, quando a embaixadora dos EUA na ONU, Susan Rice, desistiu do cargo de secretária de Estado devido às críticas dos republicanos.

As indicações terão que passar pelo Senado, onde alguns republicanos ameaçam lutar contra o nome de Hagel. Os críticos têm restrições quanto ao nível de seu apoio a Israel e em favor do aumento das sanções contra Irã - que, em ambos os casos, seria baixo -, além da sua opinião sobre a Defesa ter um orçamento "inchado". No mês passado, um editorial do jornal "Washington Post" afirmou que, dada a escala dos cortes defendidos por Hagel, ele "não [é] a escolha certa" para o cargo de secretário da Defesa.

"É uma nomeação agressiva", disse o senador republicano Lindsey Graham em entrevista à CNN no domingo. "Será uma escolha controversa e vamos ver como serão os votos [no Senado]."

Para o analista Loren Thompson, do Lexington Institute, uma organização de pesquisas em defesa, Hagel acabará sendo aprovado como secretário, porque "quando os republicanos examinarem detalhadamente, irão descobrir que se trata de um deles".

Como senador, Hagel apoiou medidas a favor de orações nas escolas, da extração de petróleo no Alasca e de um sistema de defesa antimísseis. Foi contra o aborto e o casamento gay. "Chuck foi um senador bastante conservador, então realmente não há muita coisa em seu histórico que faça a maioria dos republicanos não gostar dele", disse Thompson.

Brennan, de 57 anos, era o favorito para comandar a CIA quando Obama foi eleito pela primeira vez, em 2008. No entanto, ele pediu para não ser considerado para o cargo após alguns democratas terem expressado dúvidas sobre suas ligações com a agência durante o governo George W. Bush, quando a CIA recorreu a técnicas de interrogatórios consideradas como tortura.

Brennan trabalhou em vários cargos envolvendo a coleta de informações, ações secretas e análises, incluindo a chefia do escritório da CIA na Arábia Saudita. Foi vice-diretor executivo da CIA sob Bush. Como segundo principal conselheiro de segurança nacional, Brennan ajudou a planejar o assassinato do terrorista Osama bin Laden em 2011.

O novo indicado para chefiar a CIA é um defensor do uso de drones (aviões não tripulados) para matar no Paquistão suspeitos de terrorismo. Em discurso no ano passado, afirmou que os ataques com drones são legais e éticos.

Antes dos assessores da Defesa, Obama já havia anunciado a escolha do senador John Kerry para substituir Hillary Clinton à frente do Departamento do Estado, órgão encarregado das relações exteriores dos EUA.