Título: Argentinos também veem legitimidade
Autor: Leo, Sergio; Peres, Bruno
Fonte: Valor Econômico, 08/01/2013, Internacional, p. A9

A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, deve fazer uma escala em Havana para visitar o presidente venezuelano Hugo Chávez, nesta quinta-feira, antes de iniciar uma visita a três países da Ásia.

Com a viagem, já confirmada em nota pela Casa Rosada, a presidente legitimará a permanência de Chávez à frente da presidência da Venezuela, independente de sua presença em Caracas em um ato formal de posse.

"A legitimidade dele provém de uma reeleição em outubro que não foi contestada por ninguém e da leitura da Constituição venezuelana", interpretou o ex-secretário de Integração Econômica da chancelaria argentina até 2010, Eduardo Sigal.

A aliança entre Chávez e os Kirchner começou a se consolidar exatamente em razão das restrições externas que a Argentina vive desde o "default" de 2001. Entre 2005 e 2007, quando a Argentina estava em pleno processo de renegociação da dívida com a maior parte de seus credores, a Venezuela adquiriu US$ 4,7 bilhões em papéis argentinos, em um momento em que o país estava excluído do mercado financeiro internacional.

Os títulos depois foram revendidos por Chávez no mercado secundário, quando a Argentina já havia fechado um acordo com os detentores de 93% da dívida.

Um ano antes, Chávez já havia ido ao socorro do então presidente argentino, o marido e antecessor de Cristina, Néstor Kirchner, morto em 2010. Em março de 2004, ele fechou um acordo com a Argentina para ceder ao país óleo diesel para geração elétrica. O governo dos Kirchner pagou cada carregamento em doze parcelas, e Chávez se comprometeu a usar o pagamento em importações de origem argentina.

O acordo permanece em vigor. Entre 2002 e o ano passado, as exportações argentinas para a Venezuela passaram de US$ 140 milhões para US$ 2,1 bilhões. O acerto com a Venezuela fez com que a figura-chave na relação entre os dois países, do lado argentino, passasse a ser o ministro do Planejamento de Néstor e Cristina, Julio De Vido, e não o ministro das Relações Exteriores.

"Ele [Chávez] evitou o colapso de nosso país", sintetizou Sigal.

Suspeitas de suborno a venezuelanos e argentinos estão sob investigação da Justiça de Buenos Aires desde 2010. Também está no Judiciário o inquérito sobre o suposto financiamento ilegal à campanha eleitoral de Cristina em 2007. Em um avião fretado pela filial argentina da petroleira venezuelana PDVSA foi apreendida uma mala com US$ 790 mil que seriam para campanha.