Título: Haddad sinaliza convergência com Kassab em SP
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 20/12/2012, Política, p. A9

O prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), fez ontem um discurso elogioso ao prefeito, Gilberto Kassab (PSD), e falou em "convergência" com o atual chefe do Executivo, ao ser diplomado. Haddad, no entanto, disse que herdará problemas na Educação do governo Kassab e sinalizou que poderá haver atraso na entrega de material escolar e de uniformes aos alunos da rede pública municipal em 2013.

O petista destacou, no início de um discurso de 13 minutos, a atuação de Kassab na transição do governo e disse que o atual prefeito tem se comportado "de maneira absolutamente republicana, altiva e respeitosa". Haddad declarou ainda que o prefeito tem demonstrado "lisura, transparência e compromisso com a democracia".

Em mais um aceno a Kassab, o petista disse que as "divergências" são discutidas durante as eleições, mas passado o período eleitoral "se discutem as convergências". Em seguida, elogiou a "compreensão" do atual prefeito com os projetos que serão executados em sua gestão. Kassab assistiu aos elogios e cumprimentou seu sucessor.

Pouco após a diplomação, Haddad fez ressalvas à atual administração e disse, em entrevista, que há problemas em licitações do atual governo na área de Educação, para a compra de kits escolares. "É um problema real. Ele existe e não foi omitido por parte da [atual] administração", declarou. "Houve um problema de licitação, que nós vamos herdar e vamos tentar equacionar da melhor maneira possível", afirmou. "Foi apresentado pela atual administração o vencimento de atas, fornecedores que se recusam a entregar nos preços pactuados. A nova administração a partir do dia 2 [de janeiro] tem que dar resposta a isso", disse.

Na cerimônia de diplomação, Haddad fez acenos também ao Legislativo e disse que sua gestão estará com "as mãos estendidas" para a Câmara Municipal.

O petista afirmou que terá "o melhor relacionamento possível" com os vereadores e defendeu que o Executivo e o Legislativo estejam "de braços dados". "Sempre o Legislativo melhora os projetos do Executivo", disse. "Quando há generosidade, espírito público, não há projeto que não possa ser melhorado". Haddad disse ainda que a execução dos projetos em sua gestão exigirá "muita paciência e muita generosidade". "Vamos nos unir sem anular nossas divergências, mas vamos nos unir pelo bem de São Paulo", declarou.

No evento, foram diplomados também a vice prefeita eleita, Nadia Campeão (PCdoB), e os 55 vereadores eleitos da capital.

Com vistas à governabilidade na Câmara, Haddad nomeou cinco vereadores para seu secretariado: Antonio Donato (PT), Celso Jatene (PTB), Eliseu Gabriel (PSB), Netinho (PCdoB) e Ricardo Teixeira (PV). Bandeiras de campanha do petista, como o Arco do Futuro, dependem da aprovação do Legislativo. O prefeito eleito abrigou no primeiro escalão do governo PSB, PCdoB, PMDB, PTB, PV e PP, além do PT.

No primeiro ano da gestão, Haddad pretende aprovar a revisão do Plano Diretor, mudar a lei de zoneamento, alterar o sistema tributário e fazer uma reforma urbana. Para facilitar a aprovação das propostas, o PT, com a maior bancada no Legislativo, lançou o vereador José Américo (PT) para disputar a presidência da Câmara. O petista é o único candidato até o momento e tem apoio do PSDB, com a segunda maior bancada, e do PSD, com o terceiro maior número de vereadores.

Ao ser questionado sobre o Orçamento, aprovado na terça-feira, Haddad comemorou a possibilidade de remanejar 15% dos R$ 42 bilhões previstos para 2013. "Não vamos ter dificuldades", disse.