Título: Analistas projetam maior elevação do IPCA de dezem
Autor: Lorenzo , Francine De
Fonte: Valor Econômico, 10/01/2013, Brasil, p. A2

Economistas preveem que dezembro tenha sido o período de maior alta no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no ano passado e o quarto mês consecutivo de aumento no ritmo da inflação A média das projeções de 11 consultorias e instituições financeiras consultadas pelo Valor Data aponta elevação de 0,73% no indicador no mês passado, percentual que supera a alta de 0,6% de novembro e, se confirmado, será o maior para dezembro desde 2007. As projeções variam de 0,68% a 0,77%.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga hoje os resultados do IPCA do mês e do acumulado de 2012. Na média, as estimativas apontam elevação de 5,76% no IPCA no ano passado, com intervalo de previsões entre 5,7% e 5,81%. A inflação ficará acima do centro da meta de 4,5% estipulado pelo governo pelo terceiro ano seguido, mas dentro da margem de tolerância (2,5% a 6,5%).

No último mês de 2012, o que mais pesou no bolso dos consumidores, segundo os economistas, foi alimentação, despesas pessoais e transportes. Após perder força em novembro, com o reflexo defasado da queda de preços no atacado, os alimentos voltaram a pressionar intensamente a inflação, diz Natacha Perez, do Banco Fator. Étore Sanchez, da LCA Consultores, projeta alta de 1,20% para o grupo que, em novembro, havia subido 0,79%. A demanda extra de fim de ano, diz o economista da LCA, puxou os preços, principalmente de carnes, aves e ovos. Hortaliças, verduras e legumes, entretanto, também prometem contribuir para a alimentação mais cara em dezembro. "Esses itens são muito sensíveis a variações climáticas, o que torna seus preços voláteis. O tomate, por exemplo, deve subir 13%", afirma Sanchez.

A alta do dólar em dezembro, diz Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, também teve impacto sobre os preços dos alimentos no varejo. No mês passado, a moeda americana chegou a ultrapassar R$ 2,10, depois de se manter por meses em torno do patamar de R$ 2. Esse avanço, diz Alessandra, interferiu no preço dos alimentos no atacado e, rapidamente, chegou ao varejo. "Os preços agrícolas no atacado voltaram a subir com força, principalmente milho e aves. Isso chegou ao varejo e se somou à alta típica de fim de ano."

A maior surpresa de dezembro, entretanto, não veio de alimentação, mas de passagens aéreas, diz a economista da Tendências. O item, que responde por 0,53 ponto percentual do IPCA, subirá 17% em dezembro, repetindo o desempenho registrado pelo IPCA-15, prévia do indicador oficial de inflação. "Essa alta está ligada a uma mudança de estratégia das companhias aéreas, que, após conquistarem clientes, passaram a buscar uma recomposição de suas margens de lucro."

Os reajustes comuns no período, decorrentes do aumento de demanda devido às férias e festas de fim de ano, afirma Alessandra, foram mais intensos no mês passado que os normalmente praticados no período. "Em anos anteriores, não chegavam a 10%. "

Além de passagens aéreas, outro item que fugiu à sazonalidade, e ajudou a impulsionar as previsões de inflação em dezembro, foi o cigarro. Os economistas projetam alta em torno de 5% para o produto, que representa 0,9% do IPCA. O reajuste ao consumidor é uma antecipação do aumento na alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que entrou em vigor este mês.

Pelos cálculos dos economistas, passagens aéreas e cigarros devem responder por cerca de 0,14 ponto percentual da alta do IPCA em dezembro. Se não fosse por esses itens, a inflação estimada giraria ao redor de 0,6%.

Apesar de mais intensa, a inflação em dezembro será concentrada, diz Sanchez. As projeções da LCA para o índice de difusão, que mostra quantos dos itens do IPCA tiveram aumento de preços, apontam redução, passando de 62,7%, em novembro, para 61,3%, em dezembro. A média dos núcleos de inflação, que retiram do IPCA os itens mais voláteis, também cederá, pelos cálculos da LCA, passando de 0,49% para 0,48%.

"Isso não significa que a inflação baixará para esse patamar nos próximos meses. Estão previstos reajustes importantes em janeiro e fevereiro, como os de transporte público", diz o economista da LCA.