Título: Americanos vão ampliar aportes em álcool no país
Autor: Scaramuzzo, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 17/04/2007, Agronegócios, p. B13

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e outros bancos de fomento dos Estados Unidos vão financiar projetos de etanol no Brasil e nos países da América Latina, afirmou ontem ao Valor Jeb Bush, ex-governador da Flórida e co-presidente da Comissão Internacional do Etanol (CIE), criada com a missão de desenvolver mercado de álcool nos países das Américas.

Além dos investimentos dos bancos de desenvolvimento, Bush disse que fundos de private equity e companhias privadas americanas vão intensificar os aportes em destilarias no Brasil e demais países da América Latina. O irmão do presidente americana George W. Bush afirmou que esses aportes deverão se concentrar no Brasil, uma vez que tem os custos mais baixos de produção.

Bush lembrou que o Brasil tem recebido pesados investimentos do Japão na área de álcool. "O Brasil tem infra-estrutura para álcool e investe na distribuição dos combustíveis [referindo-se às futuras construções de alcoodutos]. Os japoneses já estão investindo cerca de US$ 8 bilhões em álcool no Brasil e fazendo investimentos também nos Estados Unidos".

Segundo uma fonte do governo, os investimentos do BID deverão ocorrer para financiar a produção de álcool brasileira com destino para o mercado americano. "O projeto de uma usina que processa em média 3 milhões de toneladas está avaliado em US$ 150 milhões. O BID só financiaria os projetos com destino certo de produção", disse.

O BID já anunciou financiamento em três projetos de produção de etanol no Brasil, cujos custos somam US$ 570 milhões. A instituição também se prepara financiar projetos da área de biocombustíveis com um custo total de quase US$ 2 bilhões.

Estados Unidos, Brasil e os países latinos têm potencial para produzir juntos cerca de 200 bilhões de litros de álcool, com investimentos superiores a US$ 100 bilhões previstos para os próximos dez anos. Hoje, a produção global está estimada em 45 bilhões de litros. Brasil e EUA respondem por 70% deste total.

Em visita a São Paulo ontem, Jeb Bush defendeu novamente a eliminação da tarifa de importação de álcool americana - de US$ 0,54 por galão, mais 2,5% de taxa ad valorem. Hoje, ele vai a Brasília, onde se encontra com o ministério da Agricultura, Reinhold Stephanes, e com lideranças dos agronegócios. Bush defendeu nos EUA que o Congresso americano considere as ponderações da CIE nas iniciativas envolvendo projetos de etanol.

O ex-ministro brasileiro Roberto Rodrigues, que ao lado de Bush divide a presidência da CIE, chegou a propor que os recursos recolhidos com a tarifa americana sejam destinados à pesquisa na área de biocombustíveis. Outra proposta foi trocar a eliminação das tarifas por cotas de importação de álcool, com isenção de tarifas.

O empresário Maurílio Biagi Filho, presidente da usina Moema, observou que se as tarifas fossem eliminadas este ano, o país hoje não teria condições de abastecer o mercado americano somente com o excedente de produção atual. "Teríamos de fazer investimentos específicos para abastecer os EUA".

O ex-governador da Flórida afirmou que o Brasil será o maior beneficiado com a ampliação do mercado internacional de álcool, uma vez que toda a produção de etanol dos EUA é consumida no próprio mercado, o que deixa o Brasil livre para exportar seu excedente, inclusive para os EUA.

Segundo ele, os EUA deverão dobrar a produção de álcool nos próximos cinco anos, dos atuais 20 bilhões de litros, mas ainda importar ainda boa parte do que necessita. No ano passado, o Brasil exportou 1,7 bilhão aos EUA.

Bush não atribui o trabalho da Comissão Internacional do Etanol à 'Opep do etanol', mas na redução da dependência americana do petróleo, como questão de segurança nacional, na conscientização ambiental e também no desenvolvimento econômico de outras nações com o avanço do álcool. Na prática, entretanto, a CIE já atua fora do âmbito das Américas.

O Brasil foi convidado a participar com a Itália de programas para desenvolver mercado de álcool na África. A Inglaterra também tem interesse em desenvolver mercado de etanol no continente africano, lembrou Roberto Rodrigues. Segundo ele, a participação do ex-primeiro ministro do Japão, Junishiro Koizumi, já dá um caráter macro para a comissão.

A CIE tem em mãos o perfil de 20 países latinos que têm potencial para produzir álcool. Colômbia, Guatemala, Peru e República Dominicana já estão avançados. São considerados países potencial para mercado de álcool os que se propõem a efetuar a mistura de até 10% de álcool na gasolina.