Título: PT quer nova agenda para deixar mensalão no passado
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 10/01/2013, Política, p. A8

O PT inicia 2013 com a orientação de sua cúpula de que o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF) faz parte do passado. Com isso, tenta impor uma nova agenda ao partido e ao país. As manifestações contrárias às condenações poderão continuar sendo feitas livremente, mas o sentimento majoritário da legenda é de que é preciso "olhar para a frente".

Nesse sentido, são quatro os pontos que os petistas pretendem focar neste ano: o balanço dos dez anos de sua chegada ao poder central, as comemorações dos 33 anos de fundação, reforma política e as eleições internas. Essa avaliação supera até mesmo as diferenças e o tradicional embate entre as correntes internas.

"Essa é uma orientação geral do comando do PT. Queremos construir essa agenda para chegar em 2014 bem preparados para o V Congresso e a reeleição da presidente Dilma Rousseff. Até as pessoas afetadas pela decisão do STF deverão estar dentro dessa agenda", disse o líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), cujo irmão, José Genoino (SP), mesmo condenado no processo do mensalão, assumiu o cargo de deputado federal no dia 3. Vice-presidente do PT, ele integra a corrente majoritária Construindo Um Novo Brasil (CNB), que teve mais quadros afetados pelo mensalão.

Trata-se de um sentimento comum dentro do PT: o de que o julgamento integra o passado e sua manutenção na pauta da sigla só tende a desgastar sua imagem. Isso a despeito de essa posição acompanhar outra, também comum internamente: a de que se tratou de um julgamento político, persecutório e injusto. Por essa razão, os discursos contra o STF terão espaço.

"O julgamento teve conotação política para desmoralizar o PT, mas respeitamos a decisão do STF. Temos o direito de ter essa leitura. Mas agora é olhar para a frente", disse a vice-presidente do PT, Fátima Bezerra (RN), integrante da corrente Movimento PT. Ela aponta que toda a interpretação que o PT fez do julgamento foi manifestada em uma nota divulgada em novembro e que, desde então, o partido passou a priorizar outros assuntos.

No documento, a sigla fez a crítica a partir de cinco tópicos, que apontam que "o STF não garantiu o amplo direito de defesa", "o STF deu valor de prova a indícios", "o domínio funcional do fato não dispensa provas", há "risco da insegurança jurídica" com essa decisão e que "o STF fez um julgamento político".

"É claro que vai ter um conjunto de manifestações, cada um é livre para se manifestar. Principalmente os que foram atingidos pela decisão continuarão a se manifestar e a expressar sua insatisfação. É um direito deles e ninguém vai impedi-los", disse Elói Pietá, secretário-geral do PT. Ele, porém, disse que a pauta não interessa mais à legenda. "O sentimento majoritário interno casa com o sentimento majoritário popular, que é não voltar a esse assunto. Isso a oposição e a setores da mídia. Para nós e para a população, é uma pauta relativa ao passado", disse Elói Pietá, secretário-geral do PT e um dos expoentes da corrente Mensagem ao Partido.

O problema é que mesmo os petistas consideram esquecer o julgamento um desafio. Isso porque, como bradam os condenados, ele ainda não terminou, motivo pelo qual continuará na pauta durante este ano. Primeiro, porque os advogados já afirmaram que irão apresentar os recursos possíveis. Segundo porque, dada a dificuldade de que a decisão seja revertida, o debate sobre a quem cabe cassar mandatos de deputados condenados será retomado e Genoino, João Paulo Cunha (SP), o PT e o mensalão em si mais uma vez estarão expostos. Por fim, mas ainda incerto, o julgamento poderá deixar alguns esqueletos, como a possível investigação da participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no esquema.

Ontem, só a veiculação da informação de que o Ministério Público Federal já teria decidido abir essa investigação já causou grande repercussão no PT. O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), protestou. Disse que isso era um absurdo, que o tema já foi investigado e que o prudente "é mandar isso para o arquivo".