Título: Um momento oportuno para o debate
Autor: Mattos, Adriana
Fonte: Valor Econômico, 17/04/2007, Caderno Especial, p. F2

Acredito que não há momento mais oportuno para debater a competitividade da indústria brasileira do que o que estamos presenciando. Enquanto o Brasil comemora o crescimento de suas exportações conquistado nos últimos quatro anos, quando alcançou a marca de US$ 137 bilhões, a China, que na década de 80 exportava pouco menos do que o Brasil, terminou o ano de 2006 com volume de exportações de US$ 969 bilhões.

Não resta dúvidas de que a indústria brasileira está perdendo importantes mercados em terceiros países para exportadores chineses. Até mesmo na vizinha Argentina, onde a China avança em substituição ao Brasil e aos Estados Unidos. Nos últimos sete anos, entre 1999 e 2005, a exportação de produtos chineses para a Argentina cresceu quase 300%, enquanto a venda de produtos brasileiros para o mesmo país cresceu 82,4%. O Brasil ainda detém a maior parcela do mercado argentino, porém, se esses números forem mantidos por mais três a cinco anos, a China certamente conquistará a posição de maior parceiro comercial da Argentina.

Nos últimos meses, o debate acerca do antigo projeto de criação das Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs) ganhou força no Brasil. Na China, as quatro primeiras Zonas Econômicas Especiais foram criadas em 1980, próximas a Hong Kong e, posteriormente, outras milhares foram espalhadas pelo país. As diversas modalidades de zonas criadas foram fundamentais para a atração do investimento estrangeiro que gerou impacto determinante no reordenamento produtivo global. Vale lembrar que cerca de 65% dos produtos industrializados exportados pela China têm como origem o capital estrangeiro.

Durante a posse do novo ministro da pasta de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, o presidente Lula ressaltou em seu discurso que o foco principal do novo ministro deverá ser intensificar a competitividade da indústria nacional. O presidente fez questão de esclarecer que as exportações precisam manter o ritmo de crescimento apresentado nos últimos anos e, para tanto, a indústria nacional deverá tornar-se mais competitiva.

Não há como falarmos em competitividade sem considerarmos China e Índia. A ascensão econômica dos dois países e a conquista de importante papel de liderança no crescimento global são os fatos mais importantes ocorridos nos últimos 25 anos. É inquestionável que o espantoso crescimento dos dois países continuará a ser o centro das atenções do ocidente nas próximas décadas e permanecerá como um dos principais motores do crescimento global.

Índia e, principalmente, China são responsáveis pelo reordenamento produtivo global afetando profundamente a formação de preços de produtos industrializados, recursos naturais e serviços no mercado internacional. Com cerca de um terço da população mundial e representando 7% do PIB global, China e Índia atingiram admiráveis taxas de crescimento econômico nos últimos anos e foram responsáveis por reduzir considerável parte da pobreza mundial.

Ao analisarmos os dois grandes emergentes asiáticos, podemos perceber algumas similaridades. Países de grande extensão territorial e população superior a um bilhão de habitantes, ambos cresceram a taxas superiores a 4% ao ano nos últimos 25 anos. No entanto, ao investigarmos os fatores de competitividade e desenvolvimento, percebemos enormes diferenças. China e Índia seguiram padrões de crescimento e modelos de desenvolvimento bem distintos que contribuíram para a China experimentar uma enorme explosão de seu setor industrial, enquanto o crescimento indiano foi impulsionado pela grande expansão de seu setor de serviços, sobretudo em tecnologia da informação.

A ascensão econômica da Ásia afeta diversas cadeias de produção global e torna urgente a adoção de políticas públicas para estímulo à competitividade industrial brasileira. Não nos posicionarmos de forma adequada diante das novas correntes de comércio, produção e inovação poderá significar a opção por um modelo de obsolescência acelerada de nossa indústria.

Para tanto, entender as razões do crescimento de China e Índia e, principalmente, os fatores que efetivamente explicam a competitividade dos dois países torna-se fundamental para o Brasil, em especial para a comunidade empresarial. A fim de garantir a expansão da participação brasileira no mercado global e enfrentar o enorme desafio imposto por China e Índia em terceiros mercados, as empresas brasileiras precisam compreender os fatores que justificam a determinante competitividade dos emergentes asiáticos. O desconhecimento sobre China e Índia impede que o Brasil, e principalmente as empresas brasileiras, aproveite as oportunidade que a ascensão econômica asiática oferece às empresas em todo o mundo.

Discutir os modelos de crescimento e os fatores que determinaram as enormes taxas de expansão de suas economias é importante para reavaliarmos o modelo de crescimento do Brasil e para estabelecermos uma estratégia de longo prazo para o crescimento sustentável do nosso país. No caso da China, o crescimento foi estimulado pela abundância de capital gerada, em boa parte, pela grande capacidade de poupança dos chineses, e pela construção de impressionante infra-estrutura de apoio que produziu efeito sobre o reordenamento produtivo global. Já no modelo indiano, a expansão do setor de serviços e a criação de empresas extremamente competitivas globalmente, além de investimentos maciços em educação, são o combustível para sua ascensão.

Presidente do Conselho Empresarial Brasil-China