Título: Maioria das empresas já perdeu clientes na disputa com chineses
Autor: Mattos, Adriana
Fonte: Valor Econômico, 17/04/2007, Caderno Especial, p. F2

Mais da metade das empresas brasileiras que exportam produtos enfrenta a concorrência chinesa nos mercados em que atuam. Seis entre cada dez companhias já perderam clientes na tentativa de competir com a China. As conclusões pertencem a um levantamento realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) com 1.581 companhias entre os meses de janeiro e fevereiro.

De acordo com o estudo, 54% das indústrias analisadas disputam mercado com os concorrentes chineses atualmente e 6% dos grupos privados tiveram de parar de exportar por conta da ofensiva asiática. A perda de terreno no comércio internacional afeta principalmente as pequenas e médias companhias, conclui o relatório.

O presidente da CNI, Armando Monteiro Neto, não acredita numa mudança desse cenário desfavorável a curto e médio prazo. "Não vejo mudanças que possam ter impacto considerável na desequilibrada concorrência entre os dois países", diz ele. Na avaliação de Monteiro, seria necessário um forte investimento em inovação, desenvolvimento e pesquisa para ampliar o poder de competição dos produtos nacionais lá fora. Além disso, a redução nos encargos sobre a indústria - passando por uma diminuição dos custos de contratação de mão-de-obra - poderia ter efeito positivo sobre o fôlego das empresas, diz ele.

Segundo o levantamento, 88% das empresas exportadoras de móveis e também 88% das empresas exportadoras de madeira já registraram perda de clientes externos para a China. Entre as empresas que pararam de exportar, a maior concentração está nos setores de vestuário, de calçados e couro. Três entre dez companhias que fabricam roupas ou artigos de cama, mesa e banho pararam de fechar contratos no exterior por conta do apetite chinês.

Em contrapartida, as empresas de papel e celulose e química mantiveram parte expressiva dos clientes, apesar da concorrência chinesa. Segundo a pesquisa, 83% das empresas exportadoras de alimentos, 80% das empresas exportadores de papel e celulose e 67% das indústrias químicas não perderam clientes internacionais nesta corrida.

O estudo da CNI mostra que a intensidade com que a concorrência chinesa afeta os negócios varia de acordo com o porte da empresa. Pelos dados, 61% das pequenas e médias empresas já perderam clientes externos para a China, enquanto que, entre as grandes empresas, a taxa também é elevada, porém menor - 51%.

De acordo com a CNI, já se observa disposição dos empresários para transferir parte da produção para a China, onde há vantagens competitivas como o baixo custo empregatício. Entre as empresas analisadas, 7% das grandes companhias produzem com fábricas próprias na China e 3% pretendem instalar unidades naquele país. Além disso, 5% das grandes empresas brasileiras já terceirizaram parcela da produção, que passou a acontecer em terreno chinês, e 4% pretendem terceirizar parte da produção com empresas chinesas futuramente.

Para tentar analisar com mais profundidade o mercado chinês, a confederação deverá publicar um levantamento trimestral que irá avaliar a evolução do comércio bilateral entre os países, acompanhar os avanços na política comercial e também verificar o nível de investimentos dos brasileiros na China, e vice-versa. "Vamos obter dado de fontes nacionais e internacionais e elaborar análises para tentar entender melhor esse mercado", disse Monteiro Neto.

Na avaliação da Coteminas, que disputa mercado com os asiáticos, o Brasil está desperdiçando um período de franca expansão internacional como há décadas não se via. "Apesar de as autoridades monetárias terem reduzido o patamar nominal dos juros durante todo o exercício, a velocidade de queda foi muito moderada, e por mais um ano registramos crescimento aquém do nosso potencial", diz Josué Gomes da Silva, presidente da Coteminas em relatório sobre o desempenho da empresa em 2006. "Durante o ano a indústria de produtos manufaturados brasileira sofreu conseqüências negativas advindas da política monetária que vem sendo executada pelo Banco Central. A valorização cambial de nossa moeda, muito superior à de outros países também ricos em commodities, tem castigado a indústria de manufatura", diz ele, o que tem criado um ambiente delicado para as companhias, principalmente por conta da carga tributária.

No levantamento da CNI ainda existem dados sobre o efeito da entrada dos produtos chineses - normalmente com preço extremamente baixos - no mercado doméstico.

Segundo o estudo, 26% das empresas brasileiras competem com mercadorias da China dentro do Brasil, mas um número elevado (48%) informou não sofrer esse tipo de concorrência. Mais da metade das companhias (52%) que disputa espaço nas gôndolas com os chineses afirma que perdeu ´market share´ no mercado interno em função da agressividade dos asiáticos com seus preços e produtos.

Da mesma forma como ocorre na disputa pelo mercado externo, os setores de vestuário e têxteis sentiram perda de participação das suas vendas no mercado doméstico por conta da competição com produtos chineses. Três em cada quatro empresas têxteis brasileiras que competem com empresas chinesas registraram perda de participação de suas vendas no mercado interno. Em relação à indústria do vestuário, duas em cada três empresas que assinalaram concorrer com produtos chineses perderam participação das vendas no mercado local.

Apenas 5% das empresas consultadas possuem perspectiva de aumentar as importações de matéria-prima da China. As perspectivas de aumento das importações são mais expressivas para o grupo de indústrias (quase metade) que já importa matéria-prima da China. A outra metade espera manter o volume importado nos próximos seis meses.