Título: Atraso na entrega de uniformes cria atrito com gestão passada
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 10/01/2013, Especial, p. A12

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), enfrentará um desgaste político já no início de sua gestão, com o atraso na entrega de uniformes para alunos da rede municipal, prevista somente para maio, e na distribuição de kits escolares, que deve acontecer cerca de 45 dias depois do início do ano letivo, em fevereiro. Apesar da experiência adquirida em quase sete anos no comando do Ministério da Educação (MEC), Haddad não conseguiu driblar o problema herdado da gestão anterior, de Gilberto Kassab (PSD). A entrega de leite para os alunos também é uma dor de cabeça para o prefeito.

Os problemas encontrados por Haddad do governo Kassab começam a por fim na lua-de-mel que marcou a transição entre as administrações. Em entrevista ao Valor, o secretário municipal de Educação, Cesar Callegari (PSB), faz duras críticas à gestão anterior.

Mesmo diplomático em relação a seu antecessor na pasta, Alexandre Schneider (PSD), e cauteloso na escolha das palavras para avaliar a situação em que encontrou a secretaria, Callegari diz que sua equipe sofre com a falta de acesso a "boas informações", reclama da saída de dirigentes de áreas-chave do setor, como licitação e fornecimento de suprimentos (merenda, material, etc.), e avalia que políticas educacionais nos últimos anos foram conduzidas na base da improvisação.

Callegari afirma que revisará todos os contratos da educação, incluindo convênios de 1.261 creches - apenas 359 unidades fazem parte da administração direta.

"Apesar da enorme cortesia e gentileza do ex-secretário, o fato é que uma parte grande da secretaria foi embora. Muitos dirigentes de muitas funções importantes saíram, como de licitações e de suprimentos. Estamos tendo dificuldade de trabalho no acesso a informações boas", diz Callegari.

Os problemas respingam em programas importantes da secretaria e afetarão os alunos. Callegari afirmou que haverá atrasos na entrega de material e uniforme escolar, contratos que somam mais de R$ 110 milhões neste ano. A demora, diz, vai ocorrer porque as empresas habilitadas a fornecer os produtos desistiram do serviço. "Não sei a razão da desistência, agora temos que buscar outros fornecedores e entrar com aditivos contratuais. Tudo isso demora." A distribuição de leite, política pública orçada em R$ 163,9 milhões em 2013, está garantida somente até fevereiro, segundo o secretário.

Diante das pendências, Callegari subiu o tom das críticas a seu antecessor. "No caso do leite, era possível que a licitação já tivesse sido iniciada [na gestão anterior]. Não foi, precisamos fazer", observa. "Essas coisas têm que começar na hora certa. É previsível entregar o leite, o material, o uniforme. Tudo isso deve acontecer no tempo certo. Não precisamos esperar chegar novembro, dezembro para iniciar os procedimentos", diz.

O secretário afirma que pretende implementar um processo de reestruturação na educação paulistana, usando como modelo o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), braço financeiro do MEC. "[A secretaria] tem que se profissionalizar. Ela tem se apoiado na improvisação ao longo dos últimos anos. Vamos fazer um processo avançado de gestão educacional."

O ex-secretário municipal de Educação Alexandre Schneider, que foi vice na chapa de José Serra (PSDB) na disputa eleitoral contra Haddad, minimiza os problemas. Diz que está a disposição de Callegari para resolver problemas relacionados à falta de informação e afirmou que fez um apelo para que os profissionais da secretaria esperassem um pouco mais nas funções, o que foi reconhecido pelo atual secretário. "O chefe da área de compras ficou, assim como o departamento jurídico."

Schneider conta que a desistência dos fornecedores de material e uniforme escolar foi previamente informada a Haddad e sua equipe na transição. "Não é uma surpresa, mas é um problema que foi deixado [por nós]", reconhece. Sobre o programa Leve Leite, Schneider garante que não há risco de faltar o produto. "Todo leite para ser distribuído em janeiro e fevereiro foi comprado. A prefeitura pode usar a mesma ata de preços para prorrogar a compra. Não precisa fazer nova licitação, mas se quiser fazê-la isso pode ser resolvido em quinze dias", diz. (LM e CA)