Título: Potencial é grande para negócios com o etanol
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Fonte: Valor Econômico, 17/04/2007, Caderno Especial, p. F5

Desde que o presidente George W. Bush anunciou o interesse dos Estados Unidos pelo álcool combustível brasileiro, as esperanças dos empresários nacionais se concentraram na abertura do mercado americano ao insumo. Mesmo que as conversas com Bush já estejam mais avançadas, pode ser a demanda da China por energia que abrirá portas à tecnologia brasileira de produção de etanol.

O ex-embaixador e hoje consultor Rubens Barbosa julga que os EUA vão privilegiar produtores locais de etanol e dificilmente abrirão o mercado aos brasileiros. Já Europa, cuja demanda maior é por biodiesel, deve garantir seu fornecimento com ex-colônias na África. "O que restará ao Brasil é o mercado asiático, é lá que haverá mais oportunidade", pondera Barbosa.

De fato, a considerar o aumento da frota de veículos na China, o campo para introduzir o etanol no país é gigantesco. Atualmente, 16 milhões de carros circulam pelas ruas das principais cidades chinesas. Segundo dados do Council Of Foreign Relations, instituição americana de pesquisa, a produção de veículos é de 1 milhão por ano, e cresce a um ritmo de 20%.

Para reduzir a dependência de petróleo, cujas importações crescem desde a década de 90, o governo chinês impôs até 2020 a meta de elevar em 10 pontos percentuais o uso de energia renovável, para 18% da matriz energética. Estima-se que, se for cumprida, a determinação poderá gerar uma demanda de 34 bilhões de litros/ano de combustíveis líquidos renováveis.

"Para as empresas brasileiras há uma mundo de oportunidades", opina o diretor do China Desk da KPMG, Hsieh Yuan. Toda a cadeia produtiva de etanol, diz ele, pode se beneficiar, seja através da exportação de combustível ou da venda de maquinário, autopeças, caminhões-tanque entre outros produtos.

O coordenador do Comitê de Agroenergia da Associação Brasileira de Agrobusiness (Abag), Luiz Carlos Carvalho, concorda que a China "tem muito a aprender" na produção de etanol com os brasileiros. Por exemplo, mesmo com uma produção de 90 milhões de toneladas de cana por ano, os chineses não fazem a co-geração de energia com a queima de bagaço, prática comum em qualquer usina do interior de São Paulo.

Carvalho afirma que os chineses, antes de tudo, precisam melhorar a sua eficiência na plantio de variedades que possam gerar etanol. A China já produz 1 bilhão de litros de álcool combustível por ano com o milho. Mas a produtividade na safra do grão é duas vezes menor do que a obtida em fazendas americanas. (GF)