Título: A hora da partilha
Autor: Taffner, Riicardo
Fonte: Correio Braziliense, 05/12/2010, Cidades, p. 40

GDF Finda a campanha eleitoral, começa agora a difícil tarefa de dividir os postos do governo entre os representantes dos 13 partidos que formaram o grupo vencedor. O PT fica com as áreas consideradas estratégicas: Saúde, Educação, Comunicação e Obras

É pré-requisito para a conquista de um governo reunir um grupo consistente de forças políticas. E uma das contrapartidas é dividir o poder em caso de vitória. Treze partidos se uniram e conquistaram o comando do Distrito Federal sob a liderança de Agnelo Queiroz. Chegou a hora da compensação. Os aliados querem postos no governo. A partilha da administração, no entanto, seguirá uma hierarquia. Terão mais espaço as legendas com maior grau de influência para o êxito do grupo. Protagonista na eleição do DF, o PT tem a prerrogativa de decidir quem ficará com o quê. O partido reserva para si os principais postos e não deve abrir mão de secretarias estratégicas, forma de contemplar as várias tendências da legenda. PMDB, PSB, PDT e PPS também querem estar na linha de frente do governo Agnelo. Os nanicos se acotovelam para ocupar o segundo escalão.

Áreas como Saúde, Educação e Obras devem ficar na quota do PT sob o argumento de que o partido precisa mostrar serviço nos setores de grande apelo popular. Nos bastidores, o nome de Rafael Aguiar, médico e amigo de Agnelo, é dado como praticamente certo no comando da Secretaria de Saúde. Pessoas próximas a ele dizem que só um convite para a diretoria da Anvisa poderia mudar o rumo das conversas. Na educação há uma disputa dentro do PT. Corrente liderada pela Articulação e com apoio do Sinpro defende a nomeação de Antônio Lisboa na Secretaria de Educação. Outras tendências petistas que não concordam com a indicação de alguém vinculado ao Sinpro para a pasta se unem em torno da escolha de Erastos Fortes, ex-diretor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília.

Nome da preferência de Cristovam Buarque, Marcelo Aguiar sofre resistência dentro do PT, por ter integrado o primeiro escalão de José Roberto Arruda e participado da administração Rogério Rosso.Uma forma de compensar o PDT, caso o PT escolha o nome da Educação é entregar para a legenda representada por Cristovam e José Antônio Reguffe no DF a secretaria de Trabalho, pasta que em âmbito federal está sob os cuidados do PDT.

Na negociação com os aliados, o PT deve resguardar as secretarias de Governo, Comunicação, Fazenda, Desenvolvimento Social e Obras, áreas sensíveis que devem ficar debaixo das asas da legenda. As duas primeiras deverão ficar na cota do governador. ¿Todos os partidos tm o direito de apresentar seus nomes, o que é inaceitável é a indicação de pessoas que não condizem com os desafios por que passa o DF¿, afirma Chico Vigilante (PT). Arlete Sampaio é o nome mais comentado para assumir a pasta da área social, que na transição ficou sob a tutela da distrital eleita. Quanto a Obras, o PT reluta para abrir mão da pasta, que é o objeto de desejo do PMDB.

Pendências Se a Secretaria de Obras não for para os peemedebistas, a recompensa para o partido se dará, ao que tudo indica, em outras frentes que guardam interface com a área. De toda sorte, é discutida para o primeiro escalão a presença de Luiz Carlos Pitiman, eleito deputado federal pelo PMDB e pessoa da confiança de Tadeu Filippelli, o vice eleito. Apesar de ser mais cotado para Obras, ele pode acabar assumindo a Secretaria de Transporte. Se Agnelo puxar o deputado para o governo, resolve duas pendências em uma só jogada. Com a saída de Pitiman da Câmara Distrital, abre-se uma vaga para Ricardo Quirino, que disputou e ficou na suplência pelo PRB, partido afinado com a Igreja Universal, uma apoiadora do candidato petista no DF.

A questão é que o PT também quer a pasta de Transportes. Além disso, apenas um assento para o PMDB não vai saciar o apetite de poder do partido, que tem a intenção de nomear o comando de empresas como a Companhia Energética de Brasília (CEB), a Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb) e o Departamento de Estradas e Rodagens (DER), além de influenciar na composição de diretorias da Novacap, considerada o braço executor da secretaria de Obras. Maurício Canovas, Nilson Martorelli, André Fortes, e Erivaldo Martins são pessoas da confiança de Filippelli, que trabalham ou já atuaram na Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) e figuram na lista de indicações do vice.

Agnelo prometeu que apresentará seu time de trabalho até o dia 20. Até lá, as negociações continuam a ser tratadas nos bastidores, espaço de conforto para Filippelli, que apesar de comandar as negociações em nome do PMDB, tem sido discreto. ¿Nesta altura, tento ser muito mais o vice do governador do que o presidente do partido. Se assumir uma postura intransigente, comprometo toda uma composição vitoriosa¿, disse Tadeu Filippelli.

Sonhos nada secretos Os desejos revelados pelos aliados demonstram possibilidade de conflito

PT » É o partido do governador. Tem a prerrogativa de ficar com a parte mais robusta do bolo do poder. Saúde e Educação são as duas secretarias que, dificilmente, o PT cederá para os aliados. Áreas como a de Fazenda, Governo, Desenvolvimento Social, Obras e Comunicação também devem ficar sob a responsabilidade de petistas. Entre os petistas cotados para o primeiro escalão estão o médico Rafael Aguiar na Saúde, Antônio Lisboa para a Educação, Arlete Sampaio no Desenvolvimento Social e Chico Leite para a pasta de Justiça.

PMDB » Fez a dobradinha com o PT, com a eleição de Tadeu Filippelli como vice-governador da chapa. Deseja a Secretaria de Obras, mas na negociação com o PT levará provavelmente a pasta de Transportes, para onde deve ir o deputado eleito Luiz Carlos Pitiman. O partido também está atrás de um braço na área social. Além dessa pasta, o PMDB tem a intenção de nomear presidentes de empresas como a CEB, a Caesb e o DER, além de indicar diretorias na Novacap.

PDT » É o partido do senador Cristovam Buarque e do distrital José Antônio Reguffe, eleito para a Câmara dos Deputados. No organograma do GDF, é provável que a legenda recomende o secretário de Trabalho, uma forma de criar a ponte entre a esfera local e a nacional, cujo ministro da pasta é Carlos Lupi, do PDT.

PPS » O nome de Alírio Neto, reeleito distrital, é frequentemente lembrado para a Secretaria de Justiça. Mas há setores no PT resistentes à indicação do deputado para a linha de frente de Agnelo. Entre os motivos, o fato de ele ter sido secretário de Arruda. Discute-se também a indicação de Cláudio Abrantes, eleito distrital, para a liderança do governo na Câmara Legislativa.

PSB » Elegeu o senador Rodrigo Rollemberg pela coligação. O partido negocia a indicação para a área de Desenvolvimento Econômico e está na expectativa de influenciar na nomeação dos secretários de Ciência e Tecnologia, Turismo e Agricultura. Para Turismo, um dos nomes ventilados é o de Marcelo Dourado, que trabalha na liderança do partido e é muito próximo a Rollemberg. No comando da Agricultura é dada como certa a nomeação de Joe Valle, que se elegeu deputado distrital.

PRB » O partido alinhado com a Igreja Universal quer ter um representante na Câmara dos Deputados e vai contar com a ajuda do GDF. Se Agnelo puxar um titular, como pensa em fazer no caso de Pitiman, abrirá a vaga para o suplente Ricardo Quirino (PRB).

PTC » O partido reclama de estar afastado das conversas para a formação do próximo governo. Indicou quatro nomes para a equipe de transição, mas nenhum foi aproveitado. Pretende fazer parte de programas na área social e tem interesse em administrações regionais, como de São Sebastião, do Núcleo Bandeirante e do Gama.

PV » A área ambiental é um lugar-comum para a legenda do ex-candidato ao GDF Eduardo Brandão. A sigla aceita negociar pastas e políticas públicas ligadas a temas como tratamento do lixo, coleta seletiva, parques urbanos, bacia hidrográfica, Lago Paranoá. Dois nomes estão na pauta das secretarias: Moacir Bueno (Meio Ambiente) e Adilson Barreto (Condomínios).

PTB » Apesar de discretos nas campanhas eleitorais, os petebistas fizeram parte do time de Agnelo. O senador Gim Argello é o principal nome da legenda e trabalha para manter sob seu poder de influência o Banco de Brasília (BRB). O distrital Cristiano Araújo é relator do Orçamento de 2011 e também briga para manter espaço no governo, como na Secretaria de Trabalho.

PRP » O Sistema Penitenciário é a área almejada pela legenda, que pretende continuar no comando da Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso (Funap). Por sua vez, o distrital Bastista das Cooperativas, que não foi reeleito, tenta renovar a influência que tem nas administrações de Samambaia, Águas Claras e Sudoeste.

PSL » Declarou apoio a Agnelo no fim do primeiro turno, com a desistência de Newton Lins da corrida pelo GDF. O partido elegeu o delegado Dr. Michel para a Câmara Legislativa e pleiteia espaço na área de Segurança Pública. Desde já, avisa que não aceitará ser coadjuvante em um órgão comandado por outra legenda. A Secretaria de Justiça é uma das pastas almejadas.

PCdoB » Por serem do partido de origem de Agnelo Queiroz, os comunistas têm um bom trânsito com o ex-ministro dos Esportes. Aliás, essa é a área onde a legenda tenta se sedimentar no GDF, com vistas, inclusive, à Copa do Mundo de 2014. Além disso, a legenda apontou quadros para as Secretarias de Juventude, das Mulheres e de Relações Institucionais.

PHS » A legenda conversou com o governador eleito e se prontificou a trabalhar em qualquer área, principalmente, nas relacionadas a atendimento direto ao cidadão. Algumas das pastas afins são a de Solidariedade, de Desenvolvimento Social e de Administração, mas não necessariamente no primeiro escalão.