Título: Previdência na alta roda
Autor: Fariello, Danilo
Fonte: Valor Econômico, 17/04/2007, EU & Investimentos, p. D1

Se entregar mais de 3% do patrimônio para os administradores de fundos de investimento incomoda muitos aplicadores, deixar a mesma quantia com o gestor de um plano de previdência - previsto para durar décadas - incomoda muito mais. Por conta disso, no primeiro trimestre deste ano, o volume investido em planos com taxa mais baixa cresceu em ritmo muito maior do que naqueles mais caros. Segundo executivos do mercado, é principalmente a maior procura por parte de investidores de alta renda e por empresas em busca de um novo benefício para os funcionários que motiva essa tendência de redução das taxas.

Nos fundos de renda fixa, por exemplo, a captação líquida média cresceu 2% em relação ao primeiro trimestre de 2006, mas os aportes nos planos com taxa abaixo de 1% ao ano subiu mais, 5%. O mesmo ocorreu entre os balanceados, cuja captação é muito maior no ano. Enquanto toda a categoria avançou 16%, entre os planos com taxa de até 1,5% ao ano a captação disparou 30%, na mesma comparação.

Com a queda da taxa de juros, atualmente em 12,75% ao ano, o impacto de uma taxa graúda, como 3% ou 4% ao ano, começa a pesar mais na decisão de investir. Olhando-se para uma perspectiva de queda ainda maior dos juros em prazos como 10 ou 20 anos à frente, essa taxa poderia fazer evaporar boa parte da rentabilidade dos planos no longo prazo. "As pessoas já percebem a importância da taxa de administração no rendimento, o que não ocorria antes", diz Antonio Cássio dos Santos, presidente da Mapfre Seguros e da Federação Nacional da Previdência Privada e Vida (Fenaprevi). "Isso ocorre principalmente com o aplicador de classe média", completa.

A taxa de administração não é o único critério para a escolha de um plano de previdência. Em geral, conseguem taxas menores aqueles investidores de maior porte, de classe média para cima. Portanto, o maior volume de aportes em planos com taxas menores indica também que aplicadores de renda mais alta estão investindo com maior intensidade. "Esse era um público pouco explorado pelo setor", diz Eduardo Bom Angelo, presidente da Brasilprev. A seguradora, ligada ao Banco do Brasil, expandiu em 232% nos últimos 12 meses a captação de recursos em planos que cobram até 1,49% ao ano.

Outro fator que tem levado cada vez mais investidores de alta renda a procurar a previdência, assim como elevar a preocupação com a taxa, é a tabela regressiva de imposto de renda - instituída em 2005, que permite resgatar com alíquotas que decrescem de 35% a 10% sobre o lucro em dez anos. A necessidade de refletir sobre a tributação fez o investidor lançar um olhar mais acurado para o retorno dos planos e, por conseqüência, para os valores cobrados.

Também faz subir com mais força a captação dos planos de previdência com taxa mais baixa, principalmente o Plano Gerador de Benefícios Livres (PGBL, ideal para o empregado formal), o crescimento dos planos empresariais. Segundo dados da Fenaprevi, a captação dos planos corporativos cresceu 20,9% em fevereiro deste ano, na comparação com o mesmo mês do ano passado, enquanto os planos individuais avançaram menos, 14,4%. "Em negociações com empresas, a força do grupo diante da seguradora é maior do que a do investidor individual na hora de conseguir taxas menores", explica Edson Franco, responsável pela área de previdência da seguradora Real Tokio Marine.

Previdência privada é um benefício cada vez mais importante para reter funcionários nas empresas e, recentemente, é mais citado em acordos coletivos, diz Franco. "O plano empresarial é o que deve crescer mais nos próximos anos, principalmente entre médias empresas, em que a cultura da previdência privada ainda não é tão difundida como nas grandes corporações e nas multinacionais."

Também leva à redução do valor médio cobrado em taxas de administração a migração de participantes entre diferentes carteiras, tanto nas mesmas instituições como para as concorrentes. Pelo crescimento explosivo do mercado nos últimos anos, é possível perceber que, além de novos participantes, muitos daqueles mais antigos já acumulam grande quantia nos planos que mantêm. Como todas as seguradoras oferecem planos cujas taxas regridem conforme o valor aplicado, muitos têm se tornado elegíveis para migrar para planos mais em conta, diz Franco. "É um mercado que está começando a amadurecer, portanto, com mais gente e reservas maiores, é normal que, quando o cliente faz a portabilidade (migração entre planos), entre com taxa menor."

O mesmo ocorre quando os participantes migram entre diferentes PGBLs ou Vida Gerador de Benefícios Livres (VGBLs) de distintas instituições. Em geral, eles vão em busca de condições melhores para investir, como taxas de administração menores.

A mesma idéia passa pela mente dos grandes investidores, que redistribuem recursos investidos levando parte para a previdência privada, à procura, principalmente, das melhores condições tributárias, diz Bom Angelo, da Brasilprev. Ao investir mais na distribuição dos planos para clientes de alta renda, a seguradora apresenta contas financeiras que mostram nitidamente a vantagem da previdência no longo prazo, comenta. São considerados investidores de alta renda pelos bancos, em geral, aquelas pessoas com renda mensal acima de R$ 5 mil.

Cássio, presidente da Fenaprevi, lembra, porém, que é comum os planos de previdência com renda variável cobrarem mais, porque há maior diferencial na gestão de recursos do que em renda fixa. Como a rentabilidade desse planos não é dada unicamente pelo juro corrente, o peso da taxa de administração, portanto, fica reduzido, dada a expectativa de maior rentabilidade das ações no longo prazo.

O Fortuna considera taxa de administração baixa percentuais menores do que 1% para planos de renda fixa e de 1,5% para planos com alguma parcela de renda variável. As taxas médias vão até 2% para os renda fixa e até 2,5% para os balanceados. Por esse critério, segundo o Fortuna, atualmente, do patrimônio dos fundos de renda fixa, 16% apenas estão nos planos de taxa baixa, 26% nos de taxa média e 57% em taxas altas, acima de 2% ao ano. Nos planos balanceados, a proporção é bastante similar. "Mas, se essa tendência atual persistir, esse cenário deverá mudar, com maior parcela investida nos planos mais baratos", diz Marcelo D'Agosto, sócio do Fortuna.

Segundo o balanço mensal do site, planos de renda fixa rendem, em média, 3,02% no ano até 31 de março e 13,86% nos últimos 12 meses. Os balanceados apresentam alta de 2,58% no ano e de 14,39% em 12 meses.