Título: Analistas veem sinais de acomodação no desempenho do comércio no fim do ano
Autor: Machado, Tainara
Fonte: Valor Econômico, 15/01/2013, Brasil, p. A2

Após alta de 0,8% das vendas no varejo restrito (que não considera o desempenho de automóveis e material de construção) em outubro, economistas projetam resultado mais fraco em novembro e afirmam que o comércio dá sinais de acomodação ao fim de um ano de forte desempenho, influenciado por estímulos tributários.

A média das estimativas de dez consultorias e instituições financeiras consultadas pelo Valor Data é de alta de 0,1% em novembro, na comparação com outubro, feitos ajustes sazonais. As projeções variam de recuo de 0,3% a elevação de 0,7% no período. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga hoje o resultado da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC).

Entre as nove instituições que fazem projeções para o varejo ampliado (inclui veículos e materiais de construção), a expectativa é de retração, por causa da queda esperada para as vendas de automóveis. A média das previsões indica recuo de 1,6% em novembro e as estimativas variam de -2,4% a -1%.

Para Robson Pereira, economista do Bradesco, como entre junho e outubro as vendas do varejo restrito acumularam alta de 4,4%, é natural que haja alguma acomodação em novembro. O economista projeta queda de 0,3% para o indicador no penúltimo mês do ano. Essa perda de força, diz, virá na esteira do resultado mais fraco esperado para o segmento de hiper e supermercados, que, até outubro, acumulou crescimento de 8,1%, na comparação com igual período de 2011. Pereira acredita que a dissipação do efeito do reajuste do salário mínimo contribuiu para que as maiores altas neste ramo ficassem concentradas no início do ano.

Paulo Neves, economista da LCA, estima contribuição positiva do segmento, com base no indicador de vendas da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), que teve alta de 2,3% na passagem mensal, de acordo com a dessazonalização feita pela consultoria. Para o economista, o setor não deve apresentar desempenho tão forte no levantamento do IBGE, já que há alguns meses as duas pesquisas mostram algum descolamento. A perspectiva, porém, é de alta, o que ajudará a sustentar o avanço de 0,4% esperado para o varejo restrito em novembro.

Por outro lado, afirma Neves, o segmento de móveis e eletrodomésticos pode surpreender negativamente e até levar a uma frustração com o resultado da PMC. O Indicador Serasa Experian de Atividade no Comércio mostrou queda de 4,3% no segmento em novembro, na comparação com o mês anterior, feitos ajustes sazonais. "Se houver um recuo nessa magnitude, é possível que o indicador surpreenda negativamente e mostre até pequena queda na passagem mensal", diz Neves.

Thaís Zara, economista-chefe da Rosenberg & Associados, também avalia que o crescimento moderado do crédito para o consumo pode ter pesado no desempenho desse segmento em novembro.

Pereira, do Bradesco, acredita que o varejo continuará a apresentar desempenho mais positivo do que o restante dos indicadores, com base na evolução da renda e da confiança do consumidor ainda em patamar elevado, apesar da queda recente. "Os indícios são de que o ritmo de crescimento do varejo segue positivo, suportando essa visão de que novembro mostrará mais uma acomodação do que enfraquecimento", afirma.

Neves, da LCA, também acredita que há uma acomodação em curso. Sem considerar as vendas de automóveis e materiais de construção, o economista projeta alta de 6,5% do indicador neste ano, após variação positiva de 8,45% esperada para 2012. O reajuste mais brando do salário mínimo - 2,7% em termos reais neste ano - e a expectativa de ausência de medidas de estímulo ao consumo como as adotadas no ano passado justificam essa estimativa, afirma Neves.

No caso do comércio ampliado, que inclui veículos e material de construção, o Bradesco estima recuo de 2,2% entre outubro e novembro, com ajuste sazonal. Em outubro, houve forte alta de 8% em relação ao mês anterior, por causa da perspectiva de que o incentivo tributário terminaria naquele mês. "Depois do forte crescimento no mês anterior, é razoável esperar acomodação em novembro", afirma Pereira.

Em nota, o Itaú, que projeta queda de 2,4% do varejo ampliado em novembro, na comparação com outubro, observa que as vendas de veículos recuaram 4,6% naquele mês, o que explicaria o desempenho esperado. Em dezembro, afirma o banco, houve recuperação e as vendas subiram 5,8%, de acordo com dados da Fenabrave, entidade que reúne as revendas de veículos, dessazonalizados pelo banco. "Ainda assim, o aumento gradual da alíquota de IPI na primeira metade deste ano, com o retorno das tarifas ao nível "normal", provavelmente puxará as vendas e a produção para baixo em 2013."

Para Neves, da LCA, como houve antecipação de demanda em 2012, as vendas de veículos tendem a recuar neste ano. Com isso, o comércio ampliado deve desacelerar de alta de 7,8%, em 2012, para avanço de 4% em 2013.