Título: BNDES vê aporte de R$ 100 bi em álcool
Autor: Grabois, Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 16/04/2007, Agronegócios, p. B13

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) prevê investimentos da ordem de R$ 100 bilhões em todos os elos da cadeia ligada à produção de álcool no país até 2011. O montante projetado, também já sinalizado por outras fontes, abrange desde a logística de transporte e armazenamento até o desenvolvimento de serviços bancários e ligados ao comércio.

Do total estimado, R$ 20 bilhões referem-se exclusivamente a projetos de novas usinas de cana e de geração de energia a partir do bagaço. O BNDES pode financiar até metade desses R$ 20 bilhões. "Quando se instala uma usina, é necessário ter comércio, banco, transporte, logística. Esses investimentos atraem toda uma economia", afirmou Carlos Gastaldoni, assessor da presidência do banco.

Ele ressaltou que a expansão da produção de etanol ocorre há três anos, enquanto os investimentos aumentaram de forma expressiva nos últimos quatro anos. Somente no BNDES, os recursos liberados para projetos de etanol e açúcar alcançaram R$ 1,974 bilhão no ano passado, praticamente o dobro do volume de crédito desembolsado em 2005 (R$ 1,098 bilhão). No primeiro trimestre de 2007, o banco de fomento já liberou R$ 723 milhões em financiamentos ao setor.

Atualmente, o BNDES possui 70 projetos de produção de etanol e de co-geração por meio do bagaço da cana em sua carteira, incluindo os pedidos de empréstimo em análise, os projetos aprovados e os desembolsos em curso. A carteira corresponde a R$ 12 bilhões em investimentos, dos quais R$ 7 bilhões são financiamentos.

A estimativa de investimentos até 2011 considera apenas a demanda doméstica, impulsionada pelo contínuo aumento da frota de carros do tipo flexfuel. "A tendência é que o consumidor passe a usar mais o flexfuel. Em três anos, 80% dos carros fabricados no Brasil já são flexfuel. Como o etanol é mais competitivo, vai haver aumento da demanda", afirmou.

O crescimento previsto da exportação de etanol, atualmente em 3 bilhões de litros, não entrou nos cálculos do banco. Para fazer frente ao aumento do consumo interno, a produção de álcool terá de passar dos atuais 17 bilhões de litros anuais para 24 bilhões de litros até 2011, o que implica a instalação de 80 a 100 novas usinas.

Gastaldoni afirmou que o crescimento do setor será acompanhado por uma maior modernização produtiva e de gestão das empresas. Os fabricantes tradicionais terão de se modernizar para conseguir recursos no mercado financeiro e concorrer com novos investidores, tanto nacionais quanto estrangeiros. "Há dois movimentos simultâneos. Um é o das empresas existentes, que buscam formalização e governança, tornam-se mais transparentes e viabilizam o acesso a crédito. E tem um segundo, que são os novos entrantes, estimulados pelo potencial enorme de consumo no país", disse.

A expansão da atividade nos próximos anos ainda deve incluir a redução do trabalho humano no corte da cana, considerado exaustivo, disse Gastaldoni. "Já existe tecnologia para fazer a colheita mecanizada em solos não planos com ganhos de produtividade", afirmou ele, acrescentando que o banco já estuda formas para aumentar a utilização de máquinas nos canaviais.