Título: Para Haddad, União age como agiota na questão da dívida
Autor: Di Cunto, Raphael
Fonte: Valor Econômico, 15/01/2013, Política, p. A5

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), afirmou ontem que o governo federal age como "agiota" no atual contrato da dívida com Estados e municípios e que, a partir da abertura do ano legislativo, em fevereiro, procurará os presidentes da Câmara e Senado para pedir a aprovação rápida do novo acordo, encaminhado pela presidente Dilma Rousseff ao Congresso no fim de 2012.

O novo acordo prevê mudança no indexador da dívida pública. Sairia o Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI) + 9%, no caso da capital paulista, para ser utilizada a Selic - taxa básica de juros da economia - ou o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) + 4%, o que for menor. "Estarei com os presidentes das duas Casas para falar da importância de aprovar essa mudança ainda este ano. Para São Paulo, cada mês é importante porque a cidade sofre com esse acordo desde 2000", afirmou Haddad em entrevista à Rádio Jovem Pan AM.

O petista elogiou a presidente Dilma por "quebrar o tabu" e renegociar a dívida, que, diz, é insustentável. "O governo cobra juros maiores do que paga para rolar sua própria dívida. O objetivo da União não pode ser enriquecer às custas dos municípios, e a presidenta Dilma sensibilizou-se com isso", afirmou. Hoje, a dívida paulistana é de aproximadamente R$ 60 milhões, mais que uma vez e meia o orçamento municipal. A renegociação do estoque, segundo o prefeito, será discutida com o Congresso.

Além de beneficiar Haddad com a renegociação da dívida, o governo federal também será parceiro prioritário do petista. O prefeito sinalizou ontem que dependerá da União para atingir uma de suas principais metas de campanha, a construção de 150 quilômetros de corredores de ônibus. A gestão de seu antecessor, Gilberto Kassab (PSD), já deixou licitados 66 km. A prefeitura precisará de ajuda para fazer o que falta. "Não temos recursos para os 84 km restantes. Se a União não puder aportar esses recursos, o restante faremos PPP [parcerias público-privadas]", afirmou o prefeito.

Também com apoio de Dilma, Haddad quer revitalizar o Parque de Exposições Anhembi, maior centro de exposições e feiras do país. O prefeito disse que encomendou à SPTuris um estudo para recuperar a área, mesmo com o projeto de construir um centro de eventos mais moderno em Pirituba, na Zona Norte, para sediar a Expo 2020, maior feira de negócios do mundo que a prefeitura tenta atrair para a cidade.

"Vamos retomar os investimentos no Anhembi, independentemente de outros equipamentos que venham a ser construídos", disse o petista. A gestão Kassab previa que o Parque de Exposições do Anhembi fosse desativado com a construção do novo centro. "A presidenta Dilma já disse que tem muito interesse em que São Paulo mantenha sua liderança como centro de feiras internacional", afirmou.

Sem revelar valores, Haddad disse que o reajuste da tarifa de ônibus, hoje de R$ 3, ocorrerá em maio ou junho. E indicou como metas na Câmara Municipal aprovar a revisão do Plano Diretor, a Lei de Uso e Ocupação do Solo e um novo Código de Obras. Os primeiros projetos, porém, serão para atender promessas de campanha, como o fim da taxa de inspeção veicular.

Haddad classificou como "do jogo democrático" as críticas de partidos aliados, principalmente de setores do PT, sobre a nomeação de técnicos para comandar as subprefeituras. "Penso que tomei a decisão correta, não estou nem um pouco arrependido", afirmou, ao dizer que seu compromisso era com a desmilitarização - substituir os coronéis da reserva que atuavam na administração Kassab por arquitetos e engenheiros.

Na opinião de Haddad, os partidos estão representados no secretariado. "Entendi que não era o caso de lotear as subprefeituras. Fizemos gesto com a Câmara, de trazer para as secretarias municipais alguns vereadores que representassem os partidos para formar um governo de coalizão transparente e de responsabilidade compartilhada", afirmou.