Título: Aliados disputam postos denunciados em CPI
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 16/04/2007, Política, p. A8

A experiência com as dezenas de denúncias de corrupção no primeiro mandato, levou o governo federal a prometer mudar de postura nas indicações políticas para os cargos de segundo e terceiro escalões da administração pública, neste segundo mandato. A idéia do Planalto é colocar mais responsabilidade sobre o ministro nomeado para comandar uma pasta nas escolhas dos postos inferiores. A mudança surge um ano depois do fim das CPIs dos Correios, dos Bingos e do Mensalão, que apontaram graves irregularidades exatamente nos cargos de segundo escalão em estatais, como Correios, Banco do Brasil, Furnas e Instituto de Resseguros do Brasil (IRB).

"Há uma mudança muito grande na forma das escolhas do segundo e do terceiro escalões. Agora, o ministro da área será diretamente responsável por cada nomeação. Não haverá mais a prática do ´goela abaixo´ da época do José Dirceu", diz o vice-líder do governo na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS), ao referir-se ao modelo adotado pelo governo no primeiro mandato, quando o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu comandava as indicações.

"Antes, o ministro era escolhido e o governo impunha nomes em vários cargos. Agora, o governo pode até sugerir, mas o ministro terá o poder de indicar e se responsabilizará pela pessoa", afirma Beto. O vice-líder reconhece a influência da crise do mensalão na mudança de orientação. "É um aprendizado, sem dúvida. E faz parte da ampliação dos compromissos com os partidos. É um método novo, coerente com a proposta de coalizão", completa.

O governo vive uma disputa dos partidos da base pelos cargos de segundo e terceiro escalões. Fazem parte dessa gama de vagas a presidência, diretorias e secretarias de estatais com orçamentos bilionários. E boa parte desta disputa recai sobre estatais impregnadas por desconfianças de corrupção.

Os Correios são o maior exemplo. Um vídeo que mostra o chefe do departamento de Contratação da estatal, Maurício Marinho, embolsando dinheiro que lhe foi passado pelo interlocutor, deflagrou a crise do mensalão. O presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), então padrinho da nomeação de Marinho, viu-se encurralado e denunciou a mesada a deputados que apóiam o governo. As investigações levaram à queda de três diretores e do presidente dos Correios. A CPI pediu o indiciamento de mais três diretores. Hoje, a estatal está nas mãos do PMDB, de onde não deverá sair. Outra estatal atingida foi o Banco do Brasil, envolvido em irregularidades praticadas com o fundo Visanet. Três diretores do banco, incluindo o de marketing, Henrique Pizzolato, foram afastados. Hoje, PMDB e PT disputam as vice-presidências e as diretorias do banco. A área de Tecnologia, por exemplo, é ocupada por um quadro técnico desde a CPI dos Correios e petistas e pemedebistas já indicaram nomes para ocupar o posto.

Na Eletronorte, também investigada pela CPI dos Correios, o então presidente Roberto Salmeron - ligado a Roberto Jefferson - deu lugar a Carlos Nascimento que ocupa o posto até hoje e é apadrinhado do senador José Sarney (PMDB-AP). É possível que ele seja remanejado para a Eletrobrás e o senador, que já tem o ministro das Minas e Energia indicaria outro nome para a estatal.

Furnas vive situação semelhante. Teve três diretores demitidos em função do escândalo do pagamento de mesada a parlamentares. Dentre eles, Dimas Toledo, considerado próximo também do tucano Aécio Neves, do pemedebista Itamar Franco e do PTB de Roberto Jefferson. O atual presidente da estatal, José Pedro Rodrigues, é ligado ao PMDB de Minas e deverá continuar no cargo. Outro diretor afastado foi Rodrigo Botelho, ligado à CUT-MG.

O mesmo aconteceu com Manoel Severino, presidente da Casa da Moeda na época da crise. Filiado ao PT, pediu afastamento do cargo depois de ser acusado de envolvimento no mensalão. Hoje, o cargo é ocupado pelo técnico José dos Santos Barbosa. O posto é pretendido pelo PT.

Na Caixa Econômica Federal (CEF), o ex-presidente Jorge Mattoso foi derrubado do cargo pelo vazamento do sigilo do caseiro Francenildo Costa. Sua sucessora, Maria Fernanda Ramos, foi confirmada no cargo e assiste à disputa de PT e PMDB pelas diretorias e vice-presidências mais importantes. Os dois maiores partidos da base avançam sobre outro braço estatal investigado no mensalão: a BR Distribuidora. Embora a Petrobras deva continuar nas mãos do PT, a distribuição é cobiçada pelo PMDB.

Na Câmara, fala-se abertamente da fome do PMDB por cargos. A voracidade pemedebista aumentou com a iminência da criação da CPI do Apagão Aéreo. O partido será chamado pelo governo para dar maioria absoluta à base aliada dentro da comissão de inquérito. O passe do partido ficou ainda mais alto. A cobrança da fatura também. "Qualquer outra nomeação do nosso partido depende de o PMDB deixar sobrar alguma coisa para mais alguém", diz o líder do PR, deputado Luciano Castro (RR).

"O ministro poderá compor, até com outros partidos, o segundo escalão. Os ministros precisam ter boa relação com a base para trabalhar também", pondera Albuquerque. A oposição critica o governo federal e diz que nada mudou. "O presidente é o responsável pela indicação mas não se responsabiliza pela gestão", diz o líder da Minoria, Júlio Redecker (PSDB-RS).