Título: Dilma cobra de Temer e Sarney união do PMDB
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 15/01/2013, Política, p. A7

A presidente Dilma Rousseff convocou às pressas ontem, em reuniões separadas, o vice-presidente da República e presidente licenciado do PMDB, Michel Temer, e o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), para pedir garantias de que as disputas internas na legenda não irão afetar a governabilidade na segunda metade de seu mandato.

O Palácio do Planalto decidiu cobrar explicações por conta do acirramento de uma série de embates no principal aliado, deflagrados após o aval de Dilma para que o PMDB comande a Câmara dos Deputados e o Senado Federal em 2013 e 2014. Além da governabilidade, há receio de que um grupo mais hostil ao governo assuma o comando do partido na convenção nacional em março e de que o partido não esteja fechado para a reeleição da presidente. As reuniões com Temer e com Sarney não estavam previstas inicialmente na agenda da presidente.

Sua preocupação foi despertada por causa das três disputas em curso no partido. A mais branda delas ocorre no Senado e é para o posto de líder da bancada, já que Renan Calheiros (AL) deve ser eleito presidente da Casa na eleição do dia 1 de fevereiro. Para seu lugar, Romero Jucá (RR) e Eunício Oliveira (CE) mostraram interesse no cargo e tentam um acordo.

O problema maior, porém, ocorre na Câmara. O líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), é favorito na eleição para presidente da Casa, marcada para 4 de fevereiro. Só que, além de Júlio Delgado (PSB-MG), ele enfrentará também a correligionária Rose de Freitas (ES).

Para piorar, a vacância do seu cargo na liderança abriu disputa entre Eduardo Cunha (RJ), Sandro Mabel (GO) e Osmar Terra (RS). Favorito, Cunha se indispôs com o apoio inicial de seu outrora fiel aliado Alves a Mabel e se aliou durante sua campanha a Geddel Vieira Lima, vice-presidente da Caixa Econômica Federal, cujos aliados fazem circular seu interesse em que ele seja candidato a presidente do PMDB contra Temer. Geddel também é um dos mais aguerridos opositores do governador da Bahia, Jaques Wagner, um dos petistas mais próximos de Dilma.

Ele nega que a candidatura esteja posta. "Ser candidato a presidente do PMDB é uma hipótese que não está colocada agora. O importante é que qualquer que seja o resultado desses embates, o PMDB continua sendo da base", disse Geddel ao Valor.

Ocorre que Alves está sob bombardeio de denúncias de irregularidades em seu mandato, como o favorecimento de funcionários na destinação de emendas parlamentares ou a contratação de empresas fantasmas para prestação de serviços em seu gabinete. As suspeitas de que elas decorram de "fogo amigo" causaram preocupação no círculo da presidente Dilma, principalmente pela possibilidade que os maiores interessados na fragilidade de Alves sejam pemedebistas simpáticos a oposição e que poderiam passar o restante de seu governo inviabilizando os interesses do governo no Congresso.

Eduardo Cunha avalia que qualquer pemedebista que atente contra Alves é "suicida", mas deixa claro haver concordância de opiniões entre ele e Geddel. "Ninguém prega sair do governo, ficar contra o governo, tirar o Temer da vice. O debate é sobre a forma, não sobre o conteúdo. O que pode fazer o PMDB se dividir é as coisas continuarem como estão, com o partido tendo tratamento secundário pelo governo. A cúpula do PMDB tem que saber mostrar ao governo que as coisas não podem ser feitas desse modo."

Tanto Cunha quanto Geddel classificam o momento interno pemedebista como natural e legítimo e avaliam que pode estar havendo um superdimensionamento dele. O certo é que até pouco tempo atrás ambos mal se cumprimentavam. Mas reataram com a perspectiva de poder que se abriu no horizonte. "Demos algumas caneladas sim. Geddel é brigão e briga de frente, mas Geddel também faz política e eu também sou assim. A bancada não precisa de baby sitter, precisa ser tratada com política. É normal que eu me aproxime do Geddel porque preciso conquistar apoios políticos. A liderança tem que estar integrada com todas as instâncias de poder do partido e o Geddel é uma delas", disse Cunha.

Apesar da preocupação, Dilma e Temer reafirmaram no encontro os nomes de Alves e Renan para presidir as duas Casas. Segundo interlocutores do Palácio do Planalto, não foram debatidas durante a reunião as recentes denúncias publicadas na imprensa envolvendo ambos.

Reservadamente, Temer avalia que já era esperado o bombardeio contra Renan e Henrique Alves, em função dos postos que pretendem assumir, mas que as denúncias, sobretudo envolvendo o deputado, não foram suficientes ainda para abalar a candidatura. A análise debatida por Dilma e Temer contemplou ainda a necessidade de manter uma aproximação permanente com o aliado PSB. Dilma, inclusive, se reuniu depois com o governador de Pernambuco e presidente nacional da legenda, Eduardo Campos.