Título: China usará reservas para financiar suas empresas no exterior
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Fonte: Valor Econômico, 15/01/2013, Internacional, p. A9

A agência reguladora do mercado cambial na China anunciou que uma nova unidade vai usar parte dos US$ 3,3 trilhões em reservas internacionais do país para ajudar empresas chinesas em expansão no exterior, possibilitando novas formas de uso para o maior acúmulo de recursos do mundo.

A Administração Estatal de Câmbio (Safe, em inglês) informou ontem que vem buscando "usos inovadores" para as reservas e "ajudando instituições financeiras a atuar no crescimento econômico da China e na estratégia de expansão". Já o diretor do fundo soberano da China disse que ampliou a alocação de recursos a projetos de infraestrutura e outros ativos para reduzir a dependência de títulos de dívidas dos EUA.

Os investimentos não financeiros da China no exterior poderiam aumentar ainda mais, depois da elevação de 25% observada nos primeiros 11 meses de 2012, para US$ 62,5 bilhões, em meio à desaceleração da expansão doméstica. O governo chinês vem encorajando as empresas a comprar ativos no exterior e seguir uma estratégia de "expansão para fora" para assegurar fontes de energia e outras commodities, bem como para comprar tecnologias e criar empresas com competitividade internacional.

"Acredita-se que uma parte maior das reservas da China será usada para financiar acordos de investimento no exterior", disse Zhang Zhiwei, economista-chefe da China na Nomura Holdings, em Hong Kong. "Tendo em vista o tamanho das reservas da China, uma pequena alteração porcentual significa uma grande quantia."

Zhang disse que apenas uma pequena parte das reservas deverão ser usadas pela nova unidade.

O chefe da China Investment Corp (CIC), Lou Jiwei, disse em fórum ontem, em Hong Kong, que os títulos do Tesouro dos EUA "ainda [são] um ativo seguro no momento", mas com a recuperação da economia americana "é apenas questão de tempo para que as taxas de juros dos EUA subam e o valor desses bônus se deprecie".

"Portanto, comprar dívida dos EUA é uma decisão muito difícil", disse Lou. "Não comprar reduz a capacidade de nosso portfólio de se proteger contra riscos. Se comprarmos, no longo prazo, não é um bom ativo. Portanto, nossa abordagem é a de compras moderadas. Esperamos agregar alocações a ações e ativos com retornos estáveis e retornos absolutos, entre outros, para reduzir a dependência em relação às dívidas dos EUA".

A CIC, que ajuda a administrar as reservas internacionais chinesas, contabilizará lucro com seus investimentos externos em 2012, uma vez que o afrouxamento monetário em países ocidentais incentivou os mercados de capitais e os retornos, disse o vice-presidente executivo da CIC, Jesse Wang, em fórum na China em dezembro.

A Safe disse que vai respeitar a "disposição e a escolha dos mercados" e promover o "jogo limpo", segundo nota em seu site. Operações desse tipo "promoveram o desenvolvimento econômico e social da China, expandiram o alcance dos investimentos e os campos das reservas internacionais e promoveram uma abordagem de administração diversificada", segundo a agência, que faz parte do banco central e tem sede em Pequim.

Separadamente, o chefe da Safe, Yi Gang, disse que a China precisa procurar evitar investimentos decepcionantes no exterior e que precisa de mais justificativas para a alocação das reservas do que simplesmente as de que essas transações aumentam a segurança e os recursos do país.

Empresas locais pediram ao governo moeda estrangeira a baixos juros, "sustentando que essas transações estão comprando recursos para o país ou melhorando a segurança estratégica nacional", escreveu Yi Gang em artigo na revista chinesa "Century Weekly", de 14 de janeiro. O "financiamento barato" apenas encoraja as compras cegas no exterior e leva a investimentos decepcionantes, disse Yi.

A Safe já iniciou as operações de "cofinanciamento" antes de a unidade ter sido criada, principalmente com o China Development Bank, segundo a Caixin Media. Quase 70% dos US$ 250 bilhões em empréstimos em moedas estrangeiros do banco de desenvolvimento são fornecidos pela Safe, informou a Caixin Media.