Título: Chávez muda o tom e diz que quer o etanol do Brasil
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Fonte: Valor Econômico, 18/04/2007, Brasil, p. A4

As decisões da Cúpula Energética Latino-Americana sobre o uso de biocombustíveis, entre eles o etanol, foram brandas e não reforçaram o clima de antagonismo antes alimentado pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Ao final do encontro, ele afirmou que não está contra a produção de etanol e que seu país, inclusive, importará o produto do Brasil. "Quero esclarecer que nós não estávamos contra biocombustíveis. Queremos importar etanol do Brasil, além disso, sem taxas." Em seu discurso, Chávez dirigiu-se ao presidente brasileiro: "Lula, solicito o melhor preço possível para os próximos dez anos".

No início de março, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, criticou a visita de Bush à América Latina - inclusive ao Brasil - e afirmou que o plano de difundir o etanol é "irracional e antiético". "Pretender substituir a produção de alimentos para animais e seres humanos pela produção de alimentos para veículos para dar sustentação ao estilo de vida americano é uma coisa de loucos", disse.

Hugo Chávez confirmou as declarações do assessor da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, de que o Brasil está renegociando a venda do etanol para a Venezuela. "Nós vendemos etanol e vamos continuar vendendo etanol para a Venezuela para que incorpore cerca de 10%. As críticas sobre a produção do etanol estão atenuadas em certa medida. O acordo já está sendo refeito e agora é simplesmente uma questão de preço", havia afirmado Garcia em entrevista na segunda-feira.

O presidente Lula ressaltou que o potencial de energia elétrica da América do Sul é equivalente a todas as reservas de petróleo que existem no mundo: "Um potencial extraordinário, que por falta de discussão nós não aprofundamos. E agora eu acho que vamos discutir com mais clareza todo o potencial de gás, todo potencial de petróleo, todo potencial de [energia] eólica, de biodiesel e de energia hídrica, para que a gente possa dar ao nosso continente uma dimensão para se desenvolver".

O presidente afirmou que não há nenhum mal-estar com relação à produção de etanol, acrescentando que na declaração final da cúpula consta o reconhecimento à política de combustíveis renováveis. "Só para você ter idéia, países como a Venezuela estão comprando etanol do Brasil", comentou.

O presidente venezuelano defendeu, no documento final do encontro, um tratado energético sul-americano que tenha, entre os eixos estratégicos, petróleo, gás e biocombustível. Defendeu ainda duas formas de transportar gás pela América do Sul - uma por plantas de regaseificação, que levam gás liquefeito petróleo, e outra pelos gasodutos como o do Sul, o Transoceânico e o Transandino.

Sobre o Transandino, Chávez disse que conversou na segunda-feira a noite com Álvaro Uribe, presidente da Colômbia, sobre a extensão do gasoduto até o Panamá, na América Central. O Transandino passa também pelo Equador, Peru e Bolívia.

Quanto ao Gasoduto do Sul, informou que, durante café da manhã com, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ontem, pediu que o governo adiante as obras em território venezuelano.

"As riquezas energéticas devem ser o grande eixo de integração. Que tenhamos certeza de que não nos faltará energia. Para isso, é preciso um bom plano estratégico, ao menos para os próximos 20 anos", disse Chávez.

Ele lembrou que na faixa de Orinoco, na Venezuela, foi reservado um bloco sul-americano, onde já estão Brasil e Argentina, para exploração conjunta de poços de petróleo. Em seu discurso no encerramento da cúpula, Hugo Chávez lembrou ainda que do total de barris de petróleo no mundo, 25% estão na América do Sul e desses, 95% na Venezuela.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva considerou a 1ª Cúpula Energética dos Chefes de Estado da Comunidade Sul-americana de Nações (Casa) uma reunião importante para o futuro da América do Sul. "Nós consolidamos a união da América do Sul. Nós fizemos, pela primeira vez, uma discussão muito forte sobre o tema energético", afirmou o presidente em entrevista. O presidente anunciou que os chefes de Estado do continente querem criar uma comissão de política energética da América do Sul.

Quanto ao Banco do Sul, Chávez afirmou que o projeto deverá financiar a infra-estrutura da integração energética na região. Lançada em fevereiro pelos presidentes Chávez e Néstor Kirchner, da Argentina, a nova instituição já havia recebido adesão do Equador e da Bolívia. O Brasil vinha participando como observador nas reuniões técnicas que estudam o formato do banco. Para o governo brasileiro é preciso, primeiro, definir o perfil da nova instituição.