Título: Decisão do governo sobre construção de Angra 3 deverá sair até julho
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Fonte: Valor Econômico, 18/04/2007, Brasil, p. A5

O governo brasileiro precisa decidir até julho se dará mesmo continuidade ao projeto de construção da terceira usina nuclear (Angra 3), sob pena de comprometer o cronograma de ampliação da oferta de energia, que prevê a operação de Angra 3 para o início de 2013. A informação é do presidente da Eletronuclear, Othon Luiz da Silva. A decisão sobre a construção da usina precisa ser tomada pelo Conselho Nacional de Política Energética, órgão da Presidência da República.

Ao defender a retomada do programa nuclear, em audiência pública na Comissão de Minas e Energia da Câmara, Silva afirmou que a energia gerada pelas usinas de Angra 1 e 2 foi a segunda opção no país em 2006, considerando o preço da energia. A geração nuclear ficou atrás apenas da hidrelétrica, fonte mais barata, e que tem prioridade no despacho comandado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

Ele considera praticamente certa a decisão do governo de retomar a construção da usina, e destacou durante sua apresentação aos deputados que o país possui hoje a sexta reserva mundial (309 mil toneladas) medida de urânio (combustível para a geração nuclear), e pode chegar à segunda colocação, se confirmadas a as estimativas de que essas reservas chegam a 800 mil toneladas.

Silva destacou ainda que o Brasil é um dos três únicos países no mundo que possuem ao mesmo tempo reservas e domínio tecnológico do ciclo do urânio, assim como EUA e Rússia. Essas reservas brasileiras de urânio seriam equivalentes ao dobro das reservas de gás natural da Bolívia, e a 238 anos de operação do gasoduto Bolívia-Brasil , com um volume de 25 metros cúbicos de gás por dia.

"De patinho feio, a energia nuclear virou Cinderela", afirmou o presidente da estatal, ao comentar que houve uma mudança na percepção mundial sobre a energia nuclear, e essa fonte vem sendo encarada hoje como uma alternativa para reduzir as emissões de CO2 e para diminuir o ritmo do aquecimento global. Isso porque, segundo ele, a energia nuclear é considerada limpa.

Além de dar mais segurança ao abastecimento de energia, com preços competitivos, a construção de Angra 3 poderá gerar cerca de 20 mil empregos (diretos e indiretos), na avaliação do presidente da Eletronuclear.

Silva reconheceu, no entanto, que não há unanimidade sobre o assunto, e que é preciso diálogo, paciência e transparência na discussão, para que ela se dê num "ambiente fraterno". O Ministério do Meio Ambiente, contrário à construção de novas unidades nucleares, questiona o processo de tratamento dos rejeitos, alegando que eles poderiam causar danos ao meio ambiente.

Além da terceira unidade nuclear de Angra dos Reis, o Plano Nacional de Expansão da Oferta de Energia Elétrica elaborado pelo governo prevê a construção de quatro a oito usinas nucleares (com 1 mil MW de potência cada) no Sudeste e Nordeste até 2030.

Na avaliação de Silva, a expectativa é que a projeção com mais usinas se confirme, porque outras fontes de geração (eólica e a gás) estariam com estimativas de geração difíceis de serem confirmadas.