Título: Brasil é pouco competitivo no turismo
Autor: Campassi, Roberta
Fonte: Valor Econômico, 26/04/2007, Empresas, p. B2

O Brasil figura, novamente, entre o grupo de países menos competitivos quando o assunto é turismo. Falta de financiamento, infra-estrutura e capacitação de mão-de-obra são os principais entraves apontados. Também influencia negativamente a concentração desproporcional da atividade turística no Sul e Sudeste do país, o que restringe o desenvolvimento do setor nas outras regiões. As constatações são de um estudo realizado pela Unicamp a pedido do Ministério do Turismo, que, além de medir a competitividade do país, apresenta o panorama do setor e propõe políticas públicas.

A pesquisa analisou o desempenho da atividade nos 42 países que apresentam os maiores PIBs turísticos do mundo (o Brasil está em 12º lugar, com US$ 17,4 bilhões). No topo do ranking, no grupo um, estão os países onde o turismo já tem participação significativa no PIB nacional e, mesmo assim, apresenta taxas elevadas de crescimento. Espanha, Turquia e México são exemplos de lugares que conseguem unir esses dois elementos.

Em seguida, vem o grupo de países como Irlanda, Chile e Índia. A importância do turismo na economia ainda é restrita, mas o setor cresce em ritmo forte. No grupo 3, acontece o contrário: o turismo já responde por uma fatia relevante do PIB e, até por causa disso, a atividade registra taxas de crescimento mais tímidas. Estão nesse grupo a França e os Estados Unidos, onde a economia gerada pelo turismo é a maior do mundo e chega a US$ 420 bilhões.

O último grupo inclui o Brasil, Argentina e Indonésia, entre outros. Estes são os países em que o turismo é menos dinâmico e, ao mesmo tempo, menos relevante no conjunto de toda a economia. Curiosamente, Japão e Alemanha também aparecem entre os últimos em competitividade. A explicação: o turismo, nos países com o segundo e o terceiro maiores PIBs mundiais, perde em representatividade para outros segmentos econômicos.

Fernando Sarti, professor do Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia (Neit) da Unicamp e coordenador da pesquisa, aponta o principal diferencial dos países que aparecem no grupo um: em todos eles, os turistas estrangeiros respondem por um percentual elevado - perto de 40% - de toda a economia gerada pelo turismo. "E o turismo internacional é justamente o grande vetor de crescimento da atividade no mundo", afirma Sarti.

A partir dessa constatação, não seria difícil concluir que a solução para o Brasil é elevar o número de estrangeiros que desembarcam no país todos os anos. Aqui, a demanda internacional responde por apenas 10% do total (Ver tabela acima). Sarti, no entanto, adverte para a insuficiência de uma política cujo foco é restrito na atração de estrangeiros.

"É preciso consolidar a oferta e estimular a demanda doméstica primeiro", diz o professor. "Até a criação do Ministério, em 2003, o foco era muito forte na atração de turistas internacionais, pois só existia a Embratur." Para Sarti, o risco de fomentar a demanda internacional sem a contrapartida da demanda doméstica é provocar concentração de boa parte da economia do turismo nas mãos de operadoras, agências de viagens e companhias aéreas estrangeiras.

O estudo aponta que o fortalecimento do turismo dentro do Brasil passa pela solução de gargalos já bastante conhecidos, como infra-estrutura precária, oferta restrita de financiamento e baixa qualificação de mão-de-obra. Em março, um estudo do Fórum Econômico Mundial sobre a indústria do turismo colocou o Brasil na 59ª posição num ranking dos 124 países mais competitivos para receber investimentos. Ao mesmo tempo em que o Brasil ganhou pontos com recursos naturais, perdeu em falta de infraestrutura, de segurança e de trabalho qualificado.

Outro entrave apontado pela Unicamp é o baixo investimento das empresas em tecnologia da informação (TI). "As companhias aéreas, por exemplo, já têm esse item bem desenvolvido, mas estamos falando de uma cadeia, onde tudo deve ser eficiente", afirma Sarti.

O estudo chama atenção justamente para o conceito de cadeia. "No Brasil, ainda há pouca sinergia entre hotéis, restaurantes e meios de transporte, mas um depende do outro", diz o professor. Uma das sugestões do Neit é a criação de Arranjos Produtivos Locais (APLs) em centros turísticos, como forma de estimular a interação. Outra sugestão vai no sentido de ampliar o volume de crédito para para o turista nacional.

Sarti, no entanto, afirma que as perspectivas para os próximos anos são positivas, caso os investimentos previstos em infraestrutura se realizem e a renda cresça. "O turismo tende a crescer a taxas superiores às da economia em geral", diz. "O Brasil tem um potencial que não é brincadeira." Contatado pela reportagem, o Ministério do Turismo disse que não comentaria o estudo pois ele ainda não foi apresentado oficialmente.