Título: Volume de consultas ao BNDES cresceu 75% na segunda metade de 2012
Autor: Lima , Flavia
Fonte: Valor Econômico, 18/01/2013, Brasil, p. A3

Os pedidos de financiamento feitos ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), um indicador antecedente importante do ânimo do empresariado em investir, apontam uma tendência de retomada dos investimentos na economia, calcada em grandes projetos de infraestrutura e concentrada especialmente no segundo semestre. Ao mesmo tempo, os números ecoam pelo menos parte das preocupações dos especialistas, ao mostrar que o nó na indústria pode levar mais tempo para ser desatado. Os projetos apresentados pelo setor também cresceram em 2012 em relação a 2011, mas muito abaixo da média.

Em 2012, até novembro, as consultas ao banco subiram quase 50%, se comparadas ao ano anterior, para um total de R$ 287,3 bilhões. Os dados fechados do ano devem mostrar um aumento ainda maior, além de um recorde histórico. Os números mostram ainda um crescimento expressivo dos pedidos de financiamento em 26 dos 44 setores analisados e alta das consultas na segunda metade do ano. No primeiro semestre, os pedidos alcançaram volume médio mensal de R$ 19,5 bilhões, enquanto nos últimos cinco meses do ano, esse volume alcançou, em média, R$ 34,1 bilhões - um aumento de 75%.

"É um ponto importante para mostrar que, eventualmente, a economia estará empinando investimento no segundo semestre deste ano, já que esse é um indicador antecedente em cerca de 12 meses da decisão de investir", diz o ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Julio Sergio Gomes de Almeida.

O destaque em 2012 foi a indústria extrativa, voltada basicamente para o segmento de petróleo, com alta superior a 600% nas consultas feitas ao banco em relação a 2011 (até novembro, o que indica que o dado fechado do ano deve superar esse percentual). Os macrossetores restantes também mostraram altas no período, embora mais comedidas. Os pedidos feitos pelo setor de comércio e serviços cresceram 43%, enquanto em agropecuária o aumento foi de 33%. As consultas para crédito feitas pela indústria de transformação também tiveram elevação, ainda que mais tímida, de 16%. "Essa alta não pode ser desprezada", diz Fernando Sarti, professor da Unicamp. "Mas a indústria de transformação perde participação porque o total cresceu muito mais, quase 50%."

De acordo com Julio Gomes de Almeida, o quadro demonstra que os programas de redução dos custos de financiamento liderados pelo banco estão, de alguma forma, surtindo efeito. "O empresário não ficou mais otimista, mas o custo de financiamento menor o convenceu a fazer investimento, a despeito do seu pessimismo."

O aumento das linhas para Estados, no âmbito do Programa de Apoio ao Investimento dos Estados e Distrito Federal do BNDES (Proinveste), é um dos fatores que explicam o forte crescimento das consultas principalmente no segundo semestre de 2012, diz o economista-chefe da LCA, Bráulio Borges.

Na rubrica administração pública foram R$ 40 bilhões em consultas apenas em novembro, com uma alta superior a 400% em todos os pedidos ao longo do ano. "Como a consulta é um indicador antecedente, vamos ver esses números rebaterem nos investimentos ao longo de 2013", diz Borges.

Um tanto mais otimista do que o consenso de mercado, a LCA projeta alta de 8,8% na Formação Bruta de Capital Fixo [FBCF, medida do que se investe em máquinas e construção civil] em 2013, ante uma alta média de 4% projetada por economistas ouvidos pelo Valor. A consultoria espera ainda que a FBCF tenha encerrado 2012 com uma queda de 4,4% - que, se confirmada, será a pior desde 2009, quando o indicador caiu 6,7%.

"Passamos por um período muito ruim até meados do ano passado, mas o governo se mexeu", diz Borges, ao citar medidas pró-investimento e competitividade, como o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que oferece taxas de juros mais baixas para compra de máquinas, tratores e caminhões.

Outra tendência importante capturada pelas consultas ao BNDES é que o banco voltou a atrair grandes projetos de infraestrutura, também na esteira dos grandes eventos que o país deve hospedar. A tendência fica mais nítida ao se olhar para o crescimento explosivo das consultas registradas não só pela indústria extrativa, em que se incluem sondas para o pré-sal, mas também pelos segmentos de transporte aéreo (alta de 1.700%), aquaviário (935%), coque, petróleo e combustível (alta de 427%), água, esgoto e lixo (250%), construção (148%), telecomunicações (75%) e eletricidade e gás (38%), além da já citada administração pública.

"Os números indicam que, se houver um crescimento dos investimentos em 2013, ele deverá ser puxado inicialmente pela infraestrutura. Lembrando sempre que o segmento acaba gerando demanda importante para bens industriais", diz Sarti, da Unicamp.

Borges, da LCA, lembra ainda de outros indicadores que, em conjunto com as consultas ao BNDES, apontam para uma melhora dos investimentos na economia. Entre eles a recuperação dos pedidos de licenciamentos de caminhões e ônibus - bastante prejudicados pela medida que alterou as regras ambientais para os motores desses veículos, tornando-os mais caros.

Nas contas da LCA, da queda de 4,4% da FBCF em 2012, nada menos do que três pontos percentuais vieram desse segmento. "Essa é uma questão técnica, que teve um efeito muito grande sobre a dinâmica de investimentos do ano passado e que em 2013 não deve atrapalhar." Ainda assim, os pedidos de financiamento feitos nos segmentos de veículo, reboque e carroceria ou de transporte terrestre não apontam uma melhora, em queda de 37% cada um, até novembro.