Título: Arrocho não impede procura por crédito
Autor: Martins, Victor; Freitas, Jorge
Fonte: Correio Braziliense, 08/12/2010, Economia, p. 12

Mesmo após as medidas baixadas pelo Banco Central, brasileiros buscam empréstimos e vão às compras de Natal. Décimo-terceiro ajuda

O brasileiro está aproveitando a boa fase da economia na melhor época do ano para comprar e parece pouco disposto a frear o consumo, mesmo com as medidas restritivas anunciadas pelo Banco Central (BC) na semana passada. A procura por crédito no país cresceu 6,2% em novembro em relação a outubro, de acordo com pesquisa divulgada ontem pela Serasa Experian, e atingiu o recorde histórico da série, iniciada em janeiro de 2007. Mesmo sem a previsão de como devem prevalecer os gastos neste Natal ¿ se o 13º será aplicado mais no pagamento de dívidas ou em compras ¿ analistas acreditam que a demanda por crédito continuará alta neste mês.

Fato é que, mesmo que o governo tenha planejado o contrário, a farra no consumo deve permanecer no cenário de fim de ano. Para a coordenadora do Departamento de Economia da Federação do Comércio do Estado de Minas Gerais (Fecomércio Minas), Silvânia de Araújo, o efeito das medidas de desaceleração só será sentido em 2011. ¿Os números da Serasa são de novembro, mas revelam que a demanda por crédito está aquecida. O consumidor se sente confiante e a realidade econômica está propensa ao endividamento¿, explica. Segundo a economista, as alterações nas taxas de juros deverão ser repassadas para os consumidores do varejo somente no mês que vem.

Prazos Algumas das grandes redes do setor confirmaram que o comércio não alterou os juros e os prazos para as vendas neste fim de ano. As Casas Bahia e o Ponto Frio, por exemplo, informaram, por meio de nota, que as condições de pagamento não sofreram modificações. O consumidor pode comprar em até 10 vezes pelo preço à vista no cartão de crédito e, acima desse número de parcelas, os juros serão os mesmos praticados no início do mês.

O pedreiro Romeu de Oliveira endossa o aumento da procura por crédito, mas nem por isso está deixando de usar seu 13º para fazer mais compras. Ele vai continuar pagando o veículo que financiou este ano por pelo menos mais 36 meses e ontem aproveitou o desconto de R$ 100 para comprar uma televisão de LCD de 26 polegadas à vista. O preço final ficou em cerca de R$ 1 mil. ¿Eu já tenho a prestação do carro e não pretendo fazer outras, pelo menos por enquanto. É que tendo o dinheiro no bolso, fica mais fácil conseguir preços melhores¿, disse.

PROTEÇÃO À ECONOMIA

Victor Martins

Durante sabatina no Senado, ontem, o futuro presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, defendeu a decisão da instituição de restringir a oferta de crédito por meio de aumento dos depósitos compulsórios. Ele frisou que a nova resolução é prudencial e visa proteger o sistema financeiro de possíveis desequilíbrios. Com essas normas, a autoridade monetária espera retirar do mercado R$ 61 bilhões. Embora os técnicos da instituição ainda não tenham um cálculo do montante, o mercado estima que o valor pode ser ainda maior em função de outras regras adotadas. Para o consumidor, o efeito imediato são juros mais altos e prazos mais curtos.

¿É importante até para a própria segurança do sistema e da economia colocar essas medidas prudenciais, como fizemos recentemente¿, avaliou Tombini. ¿É legítimo que as economias se protejam lançando mão de mecanismos prudenciais, mas eles não são permanentes¿, reiterou, ao se referir também às medidas que elevaram o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) aos estrangeiros para 6%. O próximo presidente do BC aproveitou a ocasião ainda para exaltar as medidas de compulsório. Afirmou que elas foram reconhecidas internacionalmente como ferramenta para ajustar a economia.

Compulsório Na última sexta-feira, os bancos ficaram obrigados a deixar depositado no BC mais dinheiro. Antes, a regra mandava que de todos os depósitos a prazo 15% deveriam ser recolhidos. Agora, esse percentual subiu para 20%. As novas regras também mandam que para cada R$ 100 emprestados, os bancos tenham R$ 16,50 em caixa. Antes eram necessários apenas R$ 11.