Título: Consumo privado e serviços sugerem que país não está em estagflação, diz analista
Autor: Lamucci , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 18/01/2013, Brasil, p. A4

Com uma inflação perto de 6% e um crescimento na casa de 1% em 2012, alguns analistas começam a falar em estagflação no Brasil. Para o analista-sênior para a América Latina da Economist Intelligence Unit (EIU), Robert Wood, o quadro brasileiro começa de fato a se parecer com o fenômeno em que a estagnação da atividade econômica é acompanhada por alta significativa dos índices de preços. Wood diz, porém, que o consumo das famílias está mais forte do que se esperaria num cenário estagflacionário. No terceiro trimestre de 2012, por exemplo, esse componente da demanda cresceu 0,9% em relação ao anterior, feito o ajuste sazonal, uma alta razoável. "O que nós tivemos em 2012 foi uma queda do investimento e exportações fracas, puxando para baixo o crescimento total", diz Wood. A formação bruta de capital fixo (medida das contas nacionais do que se investe na construção civil e em máquinas e equipamentos) caiu no terceiro trimestre do ano passado 2% na comparação com o anterior, a quinta queda seguida.

Wood observa ainda que, pelo lado da oferta, os serviços não mostram estagnação, ainda que tenha havido um desempenho ruim do segmento de intermediação financeira no terceiro trimestre. No caso da oferta, o problema está muito mais relacionado às dificuldades da indústria, diz o economista da EIU, lembrando que a o setor sofreu com os efeitos de um período longo de câmbio valorizado, de demanda externa fraca e de problemas estruturais como custos trabalhistas em alta, uma carga tributária elevada e as dificuldades em melhorar a infraestrutura.

Embora não veja o país em estagflação, Wood diz que o Brasil "poderia e deveria" ter um desempenho melhor. Para 2013, Wood prevê um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,5% e um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 5,6%. Mais uma vez, a exemplo do que ocorreu no ano passado, a inflação deverá superar o ritmo de expansão da economia, observa Wood.

É o oposto do que ele projeta para países como Chile, Colômbia, México e Peru, onde o crescimento deve ser mais alto que o índice de preços ao consumidor. Para o Chile, Wood estima uma alta do PIB de 4,7% e uma inflação de 3,2%; para o México, a aposta é num crescimento de 3,7% e num índice de preços ao consumidor de 3,5%